Fugas - restaurantes e bares

  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta

Remember Griffon's?

Por Andreia Marques Pereira ,

Foi um regresso em duas fases. Primeiro, vieram as festas nostálgicas, em diversos palcos portuenses; agora, tem o seu palco permanente e a nostalgia anda de mão dada com a procura da vanguarda. Era a marca do Griffon"s original, que fechou em 1992 - agora está na Baixa do Porto.

Atravessou os "loucos" anos 1980 portuenses como "the place to be". No Centro Comercial Brasília, onde o Porto se estreou nas escadas rolantes, as suas matinés eram lendárias ("as pessoas eram como sardinhas enlatadas", recorda Tó Zé Ferreira Lopes, DJ) e as suas noites ponto de encontro incontornável numa cidade onde as discotecas se contavam pelos dedos de uma mão.

"Vinha gente da Foz e das Antas, de Espanha, de Portugal inteiro", conta Tó Zé, DJ da casa entre 1982 e 1989; era a discoteca onde, "de repente, se ouvia Rolling Stones". Afirmou-se, precisamente, pela estética musical: quem queria conhecer a vanguarda da música ia ao Griffon"s que, por sua vez, ia a Inglaterra em busca das novidades, em viagens épicas, recordam Tó Zé e Carlos Machado, proprietário.

Habituou-se a ser porto de abrigo de músicos. "Faziam casa, iam lá diariamente. Os Táxi, os GNR, os Ban. Os de Lisboa, quando vinham cá, era igual... Os Xutos, os Delfins, os Heróis do Mar... O Rui Pregal da Cunha estava sempre. E de fora passaram o Stranglers, Echo & The Bunnymen, Classic Noveaux, Duran Duran. Se vinham ao Porto acabavam lá", lembra Carlos Machado. Assim se construiu a casa, que abriu em 1979.

O mito perdurou. Tanto que, há dois anos, surgiu a ideia de fazer festas "Remember Griffon"s". "As coisas começaram a crescer, criou-se página no Facebook", lembra Tó Zé, um dos impulsionadores das festas que começaram a acontecer "a cada três, quatro meses" e passaram por locais como o Rivoli, o Swing ou o Hard Club. Foram seis (a última aconteceu no Indústria), mas já "à terceira festa houve o clique", conta Carlos Machado, filho do proprietário original, agora sócio do pai nesta reencarnação e DJ ocasional: "A partir de certa altura, percebemos que íamos fazer um remake da casa. Claro que sabíamos que ia ser difícil, não ia ser igual". Até porque, como sublinha o pai, nos anos 1980 havia menos concorrência - e também menos gente a sair.

Fast forward para Dezembro de 2012. Se em Dezembro de 1992 encerrava o Griffon"s no Brasília (e, com ele, atrevemo-nos, uma certa ideia da noite portuense), 20 anos depois reabria bem no centro da nova noite portuense. "Acreditamos que é aqui que a movida vai continuar", nota Carlos Machado filho, "é o que se passa em todas as grandes cidades europeias".

Na rua Conde de Vizela, uma luz amarela assinala a entrada: fachada estreita e alta e um interior que se esconde para lá de uma cortina de veludo vermelho, que separa o espaço de entrada, "transparente": entre nós e a cortina, José Luís, que já foi porteiro do Swing e faz parte deste "negócio de família", como diz Carlos Machado (filho). Estamos nas "caves" dos edifícios da rua paralela, a Cândido dos Reis, e o novo Griffon"s foi o armazém de uma das lojas de tecidos que deram a fama à rua. Não havia nada aqui, "nem água", sublinha Carlos Machado (filho).

O espaço divide-se em dois: a parte da frente é mais "bar", a parte traseira é quase só a pista de dança - entre ambas um curto corredor a ladear um saguão que no Verão será aberto mas que por estes dias está coberto com um toldo. No antigo, descrevem-nos, também existia esta separação, mas em dois andares; e havia a mesma atmosfera geral, uma escuridão bem medida que emana das paredes cinza escuras e é temperada por luzes rarefeitas.

Também se repetem os espelhos, os pousa copos e o grande painel que cobre uma parede na primeira sala é assinado por Pedro Tudela que, no primeiro Griffon"s, ainda estudante, foi autor de várias peças. Mas, claro, os tempos mudam, nota Carlos Machado (filho) e por isso há intromissões de vermelho e materiais "novos", como a cortiça escurecida. E, em termos de serviço, as exigências também são outras por isso o Griffon"s tenta elevar o nível - e ao mesmo tempo cativar clientes com "surpresas" como as happy hours, que acontecem irregularmente e que duram apenas dez minutos que dão uma cerveja em troca da compra de outra.

Tó Zé está de volta à cabina de DJ e se entramos com os Cure estamos em "música ambiente". "A noite começa light", explicam, embora "dependa do público". A música continua a querer ser o principal cartão-de-visita do Griffon"s ressuscitado, mas se nos anos 1980 o Griffon"s foi vanguardista, agora quer continuar a sê-lo. Embora, considera Carlos Machado (pai), o público actual seja menos exigente em termos musicais - "tanto que", exemplifica, "aqui à volta só se toca anos 1980".

No Griffon"s continuará a haver momentos "remember", mas o caminho é em frente e em registo alternativo.

Nome
Griffon's
Local
Porto, Vitória, Rua de Conde de Vizela, 95
Horarios
Terça a Domingo das 23:00 às 04:00
Website
https://www.facebook.com/griffonsbaixa
--%>