Fugas - restaurantes e bares

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Um naco de vitela maronesa grelhado que é um primor

Por José Augusto Moreira ,

Simples e sem pretensões, mas com serviço, trato culinário e apresentação exemplares. Bacalhaus e carnes grelhadas são o ponto forte d' A Eira, em Amarante, mas há também um prometedor estufado com açorda de grão e hortelã.

Para lá da tradição dos bons petiscos e uma afamada cozinha regional, Amarante distingue-se também no segmento da sofisticação gourmet com um dos mais reputados restaurantes do panorama nacional, o Largo do Paço, instalado no Hotel da Casa da Calçada. Uma cozinha agora liderada por Vítor Matos, um dos mais competentes e rigorosos chefs da actualidade e a quem assenta como poucos a estrela Michelin com que o espaço tem sido distinguido nas últimas edições do mais famoso guia do mundo.

A incursão gastronómica à cidade do Tâmega não foi desta vez motivada pelo ambiente de sofisticação da alta cozinha, mas antes pelo estilo bem mais popular da gastronomia regional do restaurante A Eira. Como chamariz, a recente consagração com medalha de ouro na categoria de cozinha tradicional no concurso Gastronomia com Vinhos Verdes, que todos os anos vem sendo promovido pela respectiva comissão regional de viticultura.

Se bem que, ao que nos foi dito, esteja de portas abertas já há cerca de quatro anos, A Eira não consta ainda do roteiro clássico das casas de comida da região, aguçando ainda mais o apetite pela novidade.

Uma entrada com sopa de cozido; roupa velha em massa crocante com molho de coentros como prato principal; e, para sobremesa, aletria dourada em pêra bêbada com bolinho de jerimu e compota de uva touriga ncional foi a combinação premiada. O conjunto consta agora da carta como menu de degustação, mas há que fazer encomenda, uma vez que exige a prévia confecção do cozido. Além da roupa velha, também na sopa são utilizados os ingredientes do cozido tradicional, com pedacinhos das carnes a serem embrulhados por uma couve, que é regada com o caldo quando servida. Soa bem e não deve estar mesmo nada mal, pelo cuidado culinário e critério na escolha dos produtos daquilo que nos foi dado provar num dos últimos dias ao jantar.

A casa apresenta-se como de "cozinha tradicional galega e portuguesas" (proprietário galego e cozinheira local, marido e mulher), mas a conjugação manifesta-se praticamente apenas ao nível dos petiscos/tapas de entrada. No mais, há apenas umas paellas (de marisco e carne e outra com selecção de peixes) e que até pouco ou nada têm a ver com a Galiza.

Petiscaram-se, então, uns bombons de alheira (3,50€), salmão curado (6€) e gambas salteadas (10€). Muito bons os primeiros, com seis bolinhas de boa alheira transmontana envolta com salsa e cebola picadas e polme cortante e estaladiço. Bonito e bem montado o prato com o salmão fumado, numa salada com cubinhos de tomate, alcaparras, ovo cozido picadindo e pedacinhos de tostas de pão frito em azeite. Quanto às gambas, envoltas num molho espesso, pesado e enjoativo que as recomendava pouco como prato de entrada. Da oferta petisqueira, destaque para os pimentos de Padron, tortilhas, amêijoas e polvo à galega, além de presunto, enchidos e uns revueltos.

Muito bem cozinhado e apresentado o bacalhau com broa (10,50€), montado sobre cama de grelos salteados e batata a murro. Lombo de boa espessura, no ponto exacto de forno, a soltar gelatinas e a desfazer-se em saborosas lascas. O mesmo cuidado no trato culinário com os lombinhos de porco com puré de alheira e grelos (8,50€). Sabores bem vincados da carne marinada em vinho tinto a ligar com a alheira, batata, grelos e azeite do puré.

Simples e despretensioso

Nos peixes, além do bacalhau com broa, a carta propõe ainda um lombo de bacalhau à Eira, que é assado na brasa e lascado para compor o empratamento. Há também bacalhau com cebolada, polvo à lagareiro, filetes (de polvo, com migas tradicionais, e de pescada, com arroz de tomate), e ainda uns rolinhos de linguado recheados com pesto e presunto. Na parte dedicada às carnes, a oferta alarga-se por solomilho ao molho de pimenta, grelhada mista, arroz de pato à moda antiga, costeletas grelhadas com molho de menta, lombinhos de vitela com champignons, posta à Eira e costeleta de vitela grelhada. Há também uma secção exclusiva: "Os nossos bifes de novilho, vazio e lombo", com cinco propostas e diferentes molhos como queijo Roquefort, cerveja, três pimentas ou natas e cogumelos.

É entre as "especialidades" que estão as paellas, acompanhadas pelo camarão tigre grelhado à Eira e o naco de vitela maronesa na grelha (9,50), que provámos e vivamente recomendamos. Carne suculenta, rosadinha e sedutora que apetece desfiar e comer à mão, de tão macia e apetitosa. A carne, ao que nos foi dito, é de origem certificada, embalada em vácuo, e fornecida pela respectiva associação de criadores. É claro que é de qualidade primorosa mas é igualmente decisivo que seja adequadamente tratada, como foi o caso.

Por estes dias vai passar a haver mesmo uma lista exclusivamente com cozinhados de maronesa, onde se incluem peças de bochecha e cachaço e um estufado com açorda de grão e hortelã. A coisa promete.

A lista foi elaborada pelo chef Marco Gomes, do Foz Velha, no Porto, e, além do cuidado na apresentação e confecção dos pratos, é igualmente notório o seu apelo aos produtos transmontanos. Ainda bem, notando-se embora uma predominância das carnes e a falta de cozinhados de tacho.

Montado num daqueles inestéticos edifícios onde se aproveitou uma velha eira de granito e a construção rural anexa no mesmo material, o restaurante desenvolve-se por três salinhas contíguas e acopladas, numa espécie de matriosca. No centro estão as antigas paredes graníticas e uma acolhedora sala para 20/30 pessoas. Envolve-a o acrescento onde está o balcão e que funciona como sala principal, com amplos janelões em vidro e alumínio voltados para a imitação de um espigueiro (à galega) e o vale verdejante. Por fora há ainda uma espécie de esplanada envidraçada para funcionar em dias mais quentes.

Apesar do cuidado culinário, na apresentação dos pratos e na selecção dos produtos, A Eira é um restaurante simples e despretensioso. Destaque também para a correcção do serviço e os armários de temperatura para os vinhos, que deveriam servir como bom exemplo para muitas casas com bem maiores pretensões.

A lista de vinhos é igualmente simples e sem pretensões - apesar de incluir um Barca Velha -, com opções de boa relação preço/qualidade, cobrindo essencialmente Douro, Dão e Alentejo. Nos verdes, que são os da região, há apenas um alvarinho e praticamente todos os outros são vinhos de Amarante. Deliciámo-nos com o Quinta da Levada 2012, um verde branco tão raro quanto estimulante. Aromas exuberantes de fruta tropical, frescura, alguma complexidade que lhe confere aptidão gastronómica e um surpreendente e sedutor final com rasto salino.

Nome
Restaurante A Eira
Local
Amarante, Telões, Rua da Vinha, Lote 19
Telefone
255095490
Horarios
Sexta e Sábado das 10:00 às 02:00
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 10:00 às 00:00
Website
http://www.restauranteaeira.com
Cozinha
Portuguesa Contemporânea
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