É como que o primeiro patamar de uma espécie de tríptico gastronómico que Pedro Lemos tem prometido para o coração da modernizada Baixa portuense. Ali mesmo "onde o bicho mexe", como costumam dizer os nossos amigos brasileiros, no novo espaço da remodelada Praça de Lisboa, à sombra da Torre dos Clérigos, paredes meias com a icónica Livraria Lello e na desembocadura das ruas Cândido dos Reis e Galerias de Paris. Ou seja, por onde tudo começa e tudo acaba na por estes tempos muito animada noite do Porto.
Para quem ainda não saiba, haverá que dizer que Pedro Lemos é um dos mais competentes e empenhados cozinheiros da nova geração. Arte e talento que sabe como poucos combinar um raro gosto pelas receitas da culinária tradicional e absoluto respeito pelo produto. Assim tem sido no elegante restaurante com o seu nome da zona da Foz Velha (em standby para o arranque do novo projecto) e o mesmo promete para este espaço tripartido que agora se começa a desvendar no centro da cidade. Ao que dizem, em parceria com os proprietários do Shis, o seu muito bem-sucedido vizinho da Foz do Douro sob a liderança culinária de António José Vieira.
O novo espaço dá pelo nome Clérigos Vinhos & Petiscos e é mesmo essa a sua vocação: um conceito moderno de vinhos e petiscos. Sofisticado no que ao gosto e critérios diz respeito, mas de concepção simples e despretensiosa, para que funcione como uma espécie de chamariz ou primeiro passo para dar acesso a patamares mais elevados de exigência gastronómica.
Em espaços contíguos do mesmo local abrirá a seguir a Brasserie, com vocação para refeições mais formais e exigentes, e depois o Gastronómico Pedro Lemos, já com pretensões ao reconhecimento das estrelas Michelin. Um tríptico gastronómico que funcionará em áreas confinantes e diferenciadas mas com cozinha comum e comunicação entre si.
A funcionar já há quase dois meses, o Vinhos & Petiscos propõe uma multiplicidade de pequenas doses, que tanto podem constituir uma refeição aligeirada como o pretexto para a degustação de um bom vinho. Entre as características mais atraentes está também o horário alargado - é possível comer a qualquer hora do dia e até à uma da manhã - e a diversificada oferta de vinhos a copo, incluindo espumantes e champanhes.
Na vertente de cozinha, algumas das propostas passam mesmo por pequenas doses de alguns dos pratos já conhecidos do Pedro Lemos da Foz. Em dose reduzida, mas com o mesmo critério e exigência culinária.
Para quem não opte pela garrafa, os vinhos são fornecidos por um daqueles modernos dispensadores, de grandes proporções, que por efeito do vácuo mantêm a qualidade até final da garrafa. Com o primeiro copo o cliente recebe um cartão com o qual se pode servir depois as vezes que quiser optando por qualquer dos vinhos à disposição em três tipos de doses (prova, meio copo e copo).
Na visita da Fugas, há cerca de duas semanas, as propostas passavam por 20 brancos (incluindo quatro verdes), quatro rosés e 16 tintos, cobrindo todos os estilos e regiões nacionais. Para além disso, seis champanhes, cinco espumantes nacionais, dois moscatéis, cinco Porto (Tawny e LBV) e outros tantos Madeira. E para se ter uma ideia de como a coisa funciona, diga-se que entre três, e para acompanhar uma refeição frugal em início de tarde, foi possível degustar dois espumantes, três brancos e dois tintos não ultrapassando o preço médio de uma garrafa. Assim se fomenta o consumo (e o prazer) pelo vinho de qualidade.
Na parte petisqueira, pequenas doses (4€) de croquetes de presunto, molejas de cabrito panadas (consistentes, crocantes e muito saborosas), calamares com maionese de alho, batatas bravas e chips caseiras (2€); presunto - Joselito Gran Reserva - (12€ meia dose), enchidos de porco preto (quatro variedades de qualidade superior - 10€), e queijos nacionais (10€). A vieira na chapa com guacamole custa 6€ (três peças de confecção primorosa), o mesmo preço para o belini, foie gras de pato e marmelo, enquanto a casca de alheira, ovo e espargos fica pelos 4€.
Quatro pratos (pequenos/6€) da mais arreigada tradição: açorda de marisco (6€), arroz de peixe (uma delícia de sabor e frescura), bochecha de vitela guisada e feijoada à transmontana. Não podiam faltar (é assim que vem designados na ementa) as moelas, picantes ou não, a espinheta de bacalhau, o polvo cabeçudo com salada montanheira (cozedura e equilíbrio de sabores bem conseguidos) - 4€ cada -, amêijoas (10€) ou mexilhão (5€).
Há também asinhas de frango (4€), leitão (8€) e carnes no forno a carvão: El Txuleton (38€/kg) e Picanha Kobe, boi wagyu (que, mesmo não sendo da original, do Japão, vale mesmo a pena provar - 200g/18€).
Para sobremesa, pequenas doses gulosas (O que é doce nunca amargou, assim reza a ementa): bolinhas com creme (3€), creme caramelo (3€), tartelete de lima limão (4€), bolacha, café e chocolate (5€).
Mesmo não se podendo dizer que seja a democratização da alta gastronomia, há que dizer que com este Clérigos Vinhos & Petiscos Pedro Lemos oferece como que uma eficiente - e convincente - demonstração ao alcance de (quase) todos. O estilo mais sofisticado limita-se à cozinha, uma vez que o ambiente é totalmente descontraído e descomprometido. Espaço mesmo assim elegante, amplo, arejado e envidraçado, com área de esplanada em cadeiras de vime (ao estilo madeirense) voltada para a rua. Há mesas altas e de bancos corridos, espaço de balcão com vista sobre a cozinha e mesas ao estilo convencional. Para além dos vinhos e comidas (e para outras horas), ainda uma apelativa lista de cocktails (10€), gin e vodka (11€).
Um tríptico que arranca com um claro convite à degustação, o que vivamente se saúda.
- Nome
- Clérigos Vinhos & Petiscos
- Local
- Porto, Vitória, Rua dos Carmelitas, 151
- Telefone
- 223400770
- Horarios
- Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:00
Domingo e Sábado das 12:00 às 02:00
e Domingo das 12:00 às 18:00
- Website
- http://www.pedrolemos.net
