Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos
  • Fernando Veludo/nFactos

«Ciao Itália!», o aperitivo chega à Baixa do Porto

Por Andreia Marques Pereira ,

Um bar com conceito de clube, onde o aperitivo é arte e mote e a Itália um estado de espírito. É verdadeiramente um negócio de família, O detalhe: no Esse Baixa, o petisco faz parte da festa, havendo a possibilidade de acrescentar um euro ao preço da bebida para petiscar em regime bufete.

Tivéssemos ido um dia mais tarde e chegaríamos a meio de um italianíssimo ritual que agora se celebra em pleno centro do Porto - em nome das broschettas, dos cocktails e da música santamente despreocupada: o aperitivo é liturgia que no Esse Baixa (leia-se como a letra “s”, se possível com uma entoação italiana) se celebra com crença absoluta.

Ou não fosse o sacerdote-mor um romano convicto que na Invicta assentou arraiais por um amor que nasceu em Ibiza e floresce entre a Foz e a Baixa, desde que Paolo Santini e Joana Barros encontraram o espaço ideal para concretizar um projecto a meias: a música vem do lado dele, antigo DJ numa rádio em Roma; de Joana vem o gosto pela composição de espaços - é designer de interiores.

O Esse Baixa, bar, é a criação deles e aposta tudo num “estilo de vida moderno”, no qual o lazer não tem de ser ortodoxamente noctívago e pode começar a ser desfrutado logo a seguir ao trabalho - que é como quem diz, ao final da tarde. Tal não significa, porém, que não tenha uma costela nocturna: “Este é um bar com conceito de clube”, resume Paolo.

E aqui estamos nós, nessa altura em que o dia passa a noite (não visualmente: por estes meses sabemos que a noite entra pelo dia), em que lojas se fecham e escritórios se esvaziam - não o dizemos à toa, uma vez que “as pessoas que trabalham aqui à volta” são o público-alvo deste bar, diz Joana. São 19h30 e só não entramos no Esse Baixa para o aperitivo porque, por enquanto, o aperitivo apenas acontece às sextas e sábados. Nós chegamos numa quinta-feira, a primeira do resto da vida do Esse Baixa, que foi inaugurado a 9 de Novembro, e o aperitivo que se prepara é “encomendado” - reservas.

O aperitivo-feito-bandeira-do-bar (é Joana quem o afirma: “o nosso enfoque são os produtos italianos e o conceito de aperitivo”) é o petisco que é servido com a bebida - ao estilo tapa na sua versão mais tradicional: quando é grátis. Aqui o aperitivo oficial é servido em buffet e funciona de forma ligeiramente diferente - ao preço da bebida acresce um euro para quem quiser petiscar. “Pastas, saladas, broschettas, sobremesas...”, descreve Joana, “à discrição”. Nos outros dias, quem quiser petiscar, escolhe à carta, com a certeza de ter especialidades italianas nos salgados e portuguesas nos doces. Mais do que isso, certeza de que irá comer comida de la mamma ou da mãe, como preferirem: as mães são não só consultoras como, neste momento, pelo menos, as mãos esquerda e direita desta cozinha.

É um verdadeiro negócio de família, portanto, este Esse Baixa que abriu em pleno caos da Rua das Oliveiras - as obras duram há meses, a conclusão está marcada para Dezembro. “Vai valer a pena”, dizem, “os passeios vão ficar mais largos”. Por enquanto o passeio é quase inexistente e mal se tem espaço para olhar as fachadas com olhos de ver - o Esse Baixa tem um quadro de lousa à porta e uma luz esbatida que vem do interior através de janelões que dão uma espécie de transparência ao espaço. A esta hora, é de dentro para fora; durante o dia é ao contrário. Entramos como se tivéssemos encontrado um porto de abrigo na desolação da rua para nos depararmos com uma espécie de salão, que a iluminação divide em recantos.

Há, desde logo, uma divisão óbvia marcada pela distribuição das áreas: uma está mais elevada, “é mais de estar”, a outra é “mais dinâmica”, é a do atendimento ao balcão complementado com mesas altas - e respectivos bancos-cadeiras almofadados. Porque o conforto dos clientes é quem mais ordena, são “irmãs” das que compõem a sala de estar, digamos, onde dividem espaço com maples e sofás apetecíveis, com almofadas, que correm ao longo de uma parede inteira - nos interstícios há mesas, com pequenas velas, espaços aglutinadores.

A ideia foi proporcionar um ambiente onde qualquer pessoa se sinta bem estando sozinha e onde não haja pudores em conversar com desconhecidos, descreve Paolo, ou até com o barman (Paolo está aqui a tempo inteiro). “É um local para estar à vontade em grupo ou sozinho”, resume Joana, que desenhou parte do mobiliário, sempre “com a contribuição do Paolo”. Juntos também projectaram o desdobramento do espaço com o cuidado de incorporar parte da rua no interior - junto do pequeno balcão, há uma pequena porção de parede com azulejos verdes como os que encontramos em tantas fachadas portuenses.

Porque não querem um espaço ensimesmado, deixaram as janelas rasgadas e ainda trouxeram um jardim para dentro - um jardim vertical, que traz “alguma frescura” e está sempre em mutação, como a parede na entrada, a que chamam mural de imagens. “Não é para ficar estática”, dizem, logo o que vemos hoje pode mudar a qualquer momento: emolduradas estão imagens de musicais de que gostam, de produtos italianos (as publicidade do Aperol e do Campari a sobejarem, com as imagens deste último a destacarem-se com uns carnudos lábios vermelhos ou uma imagem de Uma Thurman), de álbuns (como o Café del Mar); entre os quadros, estão dedicatórias de quem passa por aqui.

Soa Sweet Dreams, Eurythmics com novas roupagens (“o som tem uma qualidade e uma produção que é nova mesmo quando as canções são antigas”), a deixa para Paolo falar do que temos estado a ouvir. “Estamos ligados a uma selecção de rádios web”, explica - agora é a RMC2, “rádio italiana do Mónaco”. “O género depende da disposição das pessoas e do que queremos transmitir a uma determinada hora”, afirma Paolo; Joana completa: “Queremos adaptar à hora do dia, distinguir entre semana e fim-de-semana”. Por isso não se estranhe que a horas mais tardias, a zona mais dinâmica do Esse Baixa, a das mesas altas e espaço vazio logo à entrada, se torne numa espécie de pista de dança informal. 

O slogan da rádio, que passa regularmente, parece encaixar-se perfeitamente neste Esse Baixa: “The sound change the look” - com a iluminação, “interactiva, que se altera o longo do dia criando ambientes diferentes”. Ou então o slogan que vem no final das listas: “Dove il tempo passa bene”. Onde o tempo passa bem. 

________________________
Aperitivo(s)

Os cocktails aqui são um ponto de honra - e são os mais adequados para o aperitivo italiano. Campari, Aperol e Crodino (esta última, não-alcoólica; todas muito aromáticas) são as bebidas preferenciais, que se desdobram em múltiplas variações, as mais comuns Campari e Aperol Spritz, mas que podem ser também o Negroni - aqui numa versão “leve” com gin, Martini Rosso e Aperol, não com o Campari original - o Campari fusion ou o camparino, preparado à laia de caipirinha. Outros cocktails incluem o apple Martini, o bellini ou o gin fizz; na versão não-alcoólica, encontram-se o Crodino, o fruity things e o red coconut.

Na lista de aperitivos, detemo-nos, por exemplo, no presunto com tomate cherry envolvido em sésamo, nos scones com orégãos e azeite (6,5€), nos grissínios envolvidos em presunto com cubos de parmegiano reggiano (8€) ou no mais informal mix de sanduíches surpresa - seis unidades, todas com ingredientes diferentes (6€). Para algo mais doce, uma fatia de bolo de chocolate com frutos silvestres ou de pudim de baunilha com bolacha e canela (2,5€).

Nome
Esse Baixa
Local
Porto, Vitória, Rua das Oliveiras, 120
Telefone
222012265
Horarios
Terça a Quinta das 16:00 às 00:00
Sexta e Sábado das 16:00 às 02:00
Website
http://facebook.com/santini.baixa.porto
--%>