Fugas - restaurantes e bares

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O homem que morde o cão

Por Andreia Marques Pereira ,

Boxer, bulldog, yorkie, chiwawa, water dog ou até um vira lata. O menu parece um canil mas faz tudo parte do charme - afinal, cão que ladra não morde e neste Pão Que Ladra, no Porto, é mesmo o homem que morde o cão. Não é um bar, nem é um restaurante; é qualquer coisa de intermédio, navegando entre a "finger food" e o vinho como os dois pilares desta ponte.

Entramos no Pão Que ladra exactamente dois meses depois da abertura, que foi a 9 de Janeiro. É sábado e a tarde vai a meio - um casal ocupa uma das mesas com um menu vegetariano, que é como quem diz com um “poodle”, feito à base de grão-de-bico, com agrião, muito tempero.

A explicação é de Andreia Calixto, a responsável pela cozinha e que com Dina Carvalho imaginou este espaço a partir do conceito dos cachorros quentes. A partir daí, a ideia foi evoluindo e se o Pão Que Ladra não tem apenas cachorros tem sempre o pão como ingrediente base. Para hambúrgueres e sanduíches. Na verdade, mais hambúrgueres do que tudo o resto - o cachorro é apenas um, o rústico, perdão, o Teckel (que é o chamado cão-salsicha), salsicha e linguiça frescas e queijo.

Mas se tudo começou com cachorros, se ambas têm cães - Dina uma yorkie, Matilde; Andreia uma boxer, Mel, e ambas estão caricaturadas numa das paredes onde o ilustrador Mário Belém criou a imagem gráfica da casa - foi irresistível dar o nome de raças de cães a cada entrada do menu deste grill snack.

Foi há dois anos que estas duas amigas de longa data, Dina vinda do Canadá, Andreia de Lisboa, ambas no Porto vai para lá de 20 anos, começaram a pensar num projecto conjunto. A insatisfação nos respectivos empregos - Dina na área da moda e Andreia numa multinacional - ajudou a dar o passo em frente. Andreia procurou o espaço, na Baixa, durante mais de um ano. Tinha de ter o tamanho certo e a busca parecia não ter fim. Terminou aqui, na Rua das Taipas. “Não é propriamente as ''Galerias'', mas é Baixa, também não é a Ribeira”; é, mais uma vez, qualquer coisa de intermédio, um local de passagem entre um e outro pólo turístico. “Tem movimento e esse é o segredo dos negócios, as pessoas passarem e verem que existe algo”, avalia Andreia. Tem também pedigree, chamemos-lhe assim, pois aqui funcionou A Vindimeira, wine bar, e o Papas na Língua, petiscaria e wine bar

Há heranças dessas encarnações passadas neste Pão Que Ladra. Desde logo na vocação para os vinhos - a garrafeira é razoável, totalmente nacional e com especial enfoque no Douro, “a nossa casa”, dizem ela, e com venda para fora - e no visual. É um espaço pequeno, comprido, onde espreita uma porção de granito entre as paredes pintadas de cinza. De um lado, a garrafeira expõe-se em velhas caixas de fruta que compõem prateleiras; do outro, pintam-se os motivos da casa - cachorros, hambúrgueres e sanduíches feitos cães entre pão; o nome “encaixilhado” em moldura de espelho - e uma ardósia, em “moldura” de quadro, expõe o menu. A sala faz-se de mesas e cadeiras usadas (e desirmanadas), recuperadas pelas proprietárias - sobressaindo a grande “mesa de família”, onde nos sentamos com individuais que imitam crochet em torno de jarra com flores lilases, rosas e brancas, imagem que se replica em todo o espaço; e ilumina-se com lâmpadas “antigas”, penduradas pelos fios. Ao fundo, um pequeno balcão que se estende sobre módulos onde também se exibem garrafas de vinho.

O vaivém de passeantes na rua tem rendido visitantes estrangeiros, que se ainda não superam os portugueses talvez seja apenas por uma questão de tempo: em Março começa a época alta de turismo e o clima também melhora, notam Andreia e Dina. Por enquanto, o movimento tem sido superior ao esperado, afirmam, sobretudo ao fim-de-semana e à noite; falta ganhar os almoços, “ainda é complicado”. Pode ser que ajude a garantia de serviço rápido e a variedade de hambúrgueres que inclui um de bacalhau (é o Water Dog); o prego (Boxer) e a sanduíche especial da casa, a Vira Lata, inspiração paulistana para combinação de mortadela, bacon e queijo cheddar (e para o nome: não fora a influência brasileira, o mais certo seria chamar-se “rafeiro”). A acompanhar, batatas fritas que não congeladas - aqui é tudo fresco. As bebidas, além do vinho, vocação primeira, incluem as mais ortodoxas e algumas surpresas fresquinhas como a limonada e groselha.

A funcionar desde a hora do almoço (entra noite dentro, excepto ao domingo, quando fazem o que Andreia gosta de chamar de “horário brunch”, desde as 14h), este Pão Que Ladra é acompanhado por banda sonora seleccionada por Dina. Ela - que também é DJ (Dee:na, faz parte do colectivo 447) - faz as playlists, que transitam entre o nu disco, o deep house e o lounge, “tudo tranquilo”. A contradizer o nome, portanto. Não há latidos por aqui, mas muitas mordidelas - em pão.

Nome
Pão Que Ladra
Local
Porto, Sé, Rua das Taipas, 8
Telefone
222085041
Horarios
Segunda-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:00 às 22:00
Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 02:00
e Domingo das 14:00 às 20:00
Website
https://www.facebook.com/paoqueladra
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