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O café da lomografia

Por Andreia Marques Pereira ,

No início é uma loja. Mas nunca duvide: caminhe até ao fundo do espaço e verá uma escadaria que cresce em caracol. Com cuidado pelos (possíveis) engarrafamentos, deixe-se enrolar. No primeiro andar, não pense, entre, dizemos nós, parafraseando uma das regras de ouro da lomografia - afinal, estará na sala de estar da Embaixada Lomográfica portuense. Tem o nome de Embaixada Café e uma descontracção pouco habitual em representações “diplomáticas” - mas tão-pouco é habitual a lomografia.

Hoje não nos detemos na embaixada, onde se exibem vários modelos de Lomo, caixinhas surpresa que têm o condão de nos revelar o mundo de forma original e brilhante (mesmo quando é a preto-e-branco), e são elas mesmo, as máquinas fotográficas, objectos surpreendentes de design retro. Lá fora, uma esplanada, abrigada pela fachada desta pequena galeria comercial, parece incongruente diante do que é claramente uma loja. Mas não é apenas para iniciados, este Embaixada Café: recém-inaugurado (no dia 18 de Março), não é incomum estar alguém cá fora pronto a esclarecer os passeantes incautos. É assim que Lorenzo, romano, e Louis, parisiense, em férias portuguesas, acabam no primeiro andar, a beber finos e a jogar matraquilhos - confissão: nós acabamos com eles e com Jorge Taveira, o “embaixador lomográfico”, responsável por este “braço” da Sociedade Lomográfica que desde Viena foi entranhando mundo fora esta coisa da lomografia e de caminho ajudou a recuperar a fábrica russa (de herança soviética) que fabrica as máquinas.

De Viena para este canto da Praça Carlos Alberto foi um longo caminho que passou por Lisboa antes de chegar também ao Porto, a “pedido de várias famílias”, perdoem-nos a ironia. “Estávamos em Lisboa e convidavam-nos muitas vezes para vir expor ao Porto”, recorda Jorge Taveira, “por isso decidimos abrir aqui [uma Embaixada Lomográfica]”. Instalaram-se na Rua do Almada, partilhando espaço com uma loja de música e assim estiveram sete anos. “Sempre quisemos ter um café, mas ali não tínhamos espaço.” Um ano e meio de procura, balançando a localização e o bom preço (“aqui no Porto por vezes pensa-se que se está em Nova Iorque”), até à nova morada (“perfeita, com a loja por baixo”) com um pedigree inesperado. Foi uma loja de vestidos de noivas e isso não é um pormenor - afinal, determina parte substancial do visual do Embaixada Café.

Entramos, então, no café para descobrir uma sala dupla enformada por madeira que desenha a estrutura dentro da estrutura. Há algo de anos 1970 no espaço onde a madeira forra boa parte das paredes, ensaia uma divisória, que não o chega a ser totalmente uma vez que é composta de colunas, e se instala em bancos corridos (tornados sofás por almofadas) que acompanham toda a fachada, envidraçada, com vista privilegiada para a fachada lateral, em azulejos, da Igreja do Carmo. Não faltam espelhos e, na órbita de um deles, um varão que é quase um ícone da Embaixada Lomográfica: fez a viagem desde a antiga loja para aqui encontrar uma casa; há máquinas de brindes (uma delas ainda dá bolas pinchonas) e relógio antigo; e, claro, os matraquilhos, velhinhos mas ainda disponíveis para as curvas. Kitsch q.b. e retro sem esforço: assim se vê esta “embaixada”, cuja atmosfera lembra mais rapidamente uma sala de um apartamento do que propriamente um café, ainda que as mesas dispostas (seis conjuntos diferentes vindos de seis lojas diferentes) desfaçam a ilusão.

É aqui que a embaixada tem a sua sala de estar mas também a sua sala de exposições. Por estes dias, os espaços em branco entre a madeira (que na verdade não são brancos mas bordeaux) enchem-se de lomos que compõem mosaicos coloridos. São os trabalhos participantes (150) no concurso “Expõe-te”, cujos vencedores merecem destaque, em tamanho e localização: vemos imagens douradas em subtil reflexo, paisagens que parecem pinturas e árvores com folhas roxas. Esta é uma mostra lomográfica mas não há ortodoxias aqui: entra lomo, digital e analógico, sem discriminações. E sempre que uma nova exposição se inaugura, ou seja, mensalmente, há uma “festa de arromba” - e assim se reúnem duas das vocações do Embaixada Café: a fotografia e a música. Neste último âmbito, esperem-se noites de fim-de-semana dançantes, com funk a fugir para o disco e electro, servida por DJ - que ao sábado à tarde sai à rua e alia-se ao mercado Porto Belo.

A terceira vocação é a de café, claro está. Durante a semana, o funcionamento acompanha o ritmo da loja e é, portanto, mais diurno do que nocturno. Como tal, oferece petiscos (crepes, tostas, saladas, tábuas de queijos e enchidos, por exemplo) e até menus, que combinam salada ou tosta com bebida. Esta tem direito a happy hour das 18h às 19h todos os dias e também das 21h às 22h ao fim-de-semana e na sua lista incluem-se todos os básicos mais cocktails. Se “a lomografia não interfere na tua vida, torna-se parte dela”, como diz outra das suas “regras”, o Embaixada Café está aqui para complementar esse mandamento. Tornar-se parte da vida - de lomógrafos ou não.

Nome
Embaixada Café
Local
Porto, Sé, Praça Carlos Alberto, 121 - 1.º
Telefone
220990877
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 14:30 às 20:00
Sexta-feira e Sábado das 14:30 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/lomography.portugal
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