Comecei a duvidar que existisse. Parecia bom de mais para ser verdade. O pai João pescava (e grelhava com perfeita pontaria) os peixinhos. O filho João e a nora Paula recebiam e atendiam com tanta hospitalidade que um lisboeta só pode descrever como amizade.
Não tem nenhum defeito, excepto talvez só estar aberto para o almoço. Mas mesmo isso dá-lhe um ambiente soalheiro, sem rotinas nem cansaços, de um restaurante de família que é genuinamente feliz.
Claro que em Setúbal é muito difícil não comer bem - nunca ouvir dizer mal de um restaurante setubalense - mas, mesmo assim, o Batareo é especial.
O peixe é fresquíssimo e bem grelhado - como acontece nos melhores restaurantes de Setúbal - mas também é celebrado, com orgulho, como o milagre que é.
Em Lisboa come-se muito peixe que não presta e os nossos paladares contentam-se com pouca coisa. Somos pouco exigentes e há quem ache maravilhoso comer um peixe grelhado qualquer que seja fresco.
No Batareo o peixe é fresquíssimo. Nem há batotas: está todo ali à vista, mais os muitos mariscos do estuário do Sado a que os setubalenses chamam, desconcertantemente, rio. Embora sejam peixes, moluscos e mariscos de mar, como é óbvio. Quem tenha tomado banho no rio Sado - por exemplo, numa das praias de Tróia - sabe que a água é salgada, por ser diariamente refrescada pelo oceano Atlântico.
Perguntei nervosamente se tinham peixes de rio mas claro que não tinham. A situação de Setúbal é gloriosa - rio, mar, estuário, serra da Arrábida - mas é também a melhor possível para o peixe.
Foi no Batareo que comi as melhores vieiras e ouriços da minha vida. Mas ultimamente não tem havido. O que há é barriga de atum (ventresca) tão boa como aquele que vai para o Japão. E, por esta altura do ano, os mais deliciosos salmonetes.
Os salmonetes que se comem fora de Setúbal e de Sesimbra não merecem chamar-se salmonetes. Os salmonetes que há no Batareo sabem mesmo a salmonete: um sabor subtil que é o melhor que um peixe pode ter. As águas ali são tão limpas que não passa nada de aziago pelos estreitos dos bonitos peixinhos.
A cozinheira, de cujo nome criminosamente não me lembro, é prendadíssima. As saladas, servidas como se fossem banais, são espectaculares e temperadas com perfeição. As batatas cozidas, espalhadas com orégãos num belo azeite, são obras-primas.
Há grandes restaurantes que servem bom peixe com acompanhamentos mal pensados ou assim-assim. No Batareo nada é assim-assim. Tudo é o melhor que pode ser. Não há muita escolha - é o que dá ter só o melhor peixe e mariscos do dia - mas a meia-dúzia de peixes que há é tão tentadora que acaba por ser um suplício ter de escolher.
Até os doces são esplendorosos. Mesmo com as barrigas cheias de peixinho não se consegue resistir à última garfada de sericaia, generosamente baptizada com calda de rainha-cláudia de Elvas, assistida pela respectiva ameixa.
As pessoas que lá vão almoçar estão todas bem-dispostas, a gostar do que estão a comer. É pena falar-se pouco na frequência dos restaurantes, dada a importância que têm os demais clientes no ambiente de uma casa.
- Nome
- Batareo
- Local
- Setúbal, São Sebastião, Rua das Fontaínhas, 64
- Telefone
- 265234548
- Horarios
- Domingo, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 15:30
- Website
- https://pt-pt.facebook.com/pages/O-Batareo/166691670009241
- Preço
- 17€
- Cozinha
- Peixe e Marisco