Fugas - restaurantes e bares

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Castas & Pratos

Por Andreia Marques Pereira ,

Num velho armazém da Estação Ferroviária de Peso da Régua, um restaurante que é sempre uma novidade viajada.

Quando, em 1879, o primeiro comboio chegou à Estação Ferroviária de Peso da Régua foi “uma revolução”, parafraseando “O caminho de ferro foi uma revolução” que se lê na placa comemorativa que assinala o primeiro centenário da gare. Douro Litoral, Trás-os-Montes e Beira Alta ficavam ligadas por um meio de transporte efectivo que permitia não só uma maior circulação de pessoas como de produtos - aqui produzidos (com o vinho, inevitavelmente, à cabeça) e aqui comercializados.

Para estes, os produtos, foi construído um armazém de madeira num único volume: 200 metros de comprimento, 60 de largura, sobre uma plataforma de quase um metro de altura e com fachadas ripadas de três metros, como se lê no site da Direcção-Geral do Património Cultural.

Volvidos 136 anos, já não há mercadorias e entrar e a sair destes armazéns, mas estes, parte integrante do complexo ferroviário do peso da Régua, estão de cara lavada. Tudo começou em 2008, com a abertura de uma parte dos armazéns, cerca de 205 metros quadrados, como restaurante - Castas e Pratos, CP de acrónimo, inevitável homenagem às origens ferroviárias do espaço.

Foi, aventa Manuel Osório, um dos proprietários (o outro é Edgar Gouveia), uma alavanca para a recuperação total do espaço: a autarquia avançou com projecto de requalificação, estabeleceu um contrato de concessão com a Refer, e as obras estão concluídas - falta o protocolo que vai regular a ocupação comercial do espaço.

E se antes, conta Manuel Osório, o CP até poderia passar despercebido no meio do volume abandonado - “muitas pessoas nem reparavam” - agora é quase impossível. Porque uma coisa é certa, é quase inevitável passar pelo armazém numa incursão pelo Peso da Régua, a porta de entrada para o Alto Douro Vinhateiro, e não é necessário chegar de comboio, que continua a ligar o Porto a estas paragens pela Linha do Douro. Na estrada nacional, bem diante do rio, a localização é imperdível - e há uma pequena esplanada à porta para quem quiser ficar a ver o Douro correr do outro lado da marginal.

Mas se há local onde o CP respira ferrovia é na esplanada das traseiras: os carris estão diante de nós, a estação, branca, ao lado, e nós estamos num antigo vagão de transporte de carvão. “Queremos cheiro a comboio”, assume Manuel Osório, “é uma história que queremos manter”. É uma ligação umbilical, intrínseca do CP ao universo ferroviário, que aconteceu mesmo antes de ele existir.

Porque tudo começou com o espaço. Manuel Osório e o sócio, naturais da zona, deixaram-se cativar pela “beleza fantástica” do antigo armazém, que estava abandonado há mais de 20 anos, e viram nele um “potencial de negócio incrível”. Quando surgiu a ideia de ocupar o edifício, “notoriamente subvalorizado”, o conceito não estava definido, mas o objectivo sempre foi claro. “Queríamos promover o que é nosso junto daqueles que nos visitam”, explica Manuel. E o “nosso” nestas paragens são as paisagens e os produtos, “vinhos e azeites no top”.

O negócio original começou, então, por ser algo à volta das tapas - e de um grande balcão, à moda espanhola. Manuel Osório tem dificuldade em recordar-se porque a ideia rapidamente evoluiu para a que acabou por concretizar-se - algo “mais versátil”. Em 2008 estávamos a entrar na crise, sublinha, e então havia que potenciar recursos. O três-em-um ganhou: garrafeira, bar de tapas e restaurante. Assim nasceu, assim se mantém o CP - “também fomos felizes na escolha do nome”. “Tivemos muito cuidado, muitas horas para pensá-lo, porque o projecto esteve parado algum tempo por causa da burocracia”, ironiza Manuel. E o nome resume tudo ao que vamos: “comer Douro, beber Douro”.

Ou seja, as Castas vêm da vasta lista de vinhos aqui apresentados, com o Douro a dominar; os Pratos são da região duriense: “apesar de a nossa região não ser muito rica gastronomicamente, tem produtos bons” - a base é tradicional, o toque de modernidade é adorno (“mais do que moderno é típico”), tudo servido pelo chef Tiago Moutinho, que aqui está desde o início.

Se o antigo armazém cativou logo pela beleza exterior, o interior foi uma “surpresa”, pelas madeiras - os adjectivos abundam: “lindíssimas, fabulosas”. A intervenção foi realizada para potenciar o que foi encontrado e não podia ser de outra forma: primeiro pela obrigação de manter a integridade da fachada, por exemplo, depois pelo próprio desejo dos proprietários.

Assim, a madeira é omnipresente nos dois andares (em mezanino) do Castas e Pratos, na estrutura e no mobiliário, e as cores não fogem a essas tonalidades. O resultado é irremediavelmente contemporâneo, discreto por opção e confortável por inevitabilidade.

O rés-do-chão é dedicado à garrafeira que se alinha por detrás de armários com portas de “rede” de metal e ao bar - algures entre wine bar e tapas bar - que se exibe numa série de mesas altas dispostas juntas como se de um grande balcão se tratasse (acompanhado de cadeiras a condizer) a promover a convivialidade; o primeiro andar é reservado ao restaurante e, na parede do fundo, a fotografia de carris que a ocupa transmite sempre a ideia de viagem. Que está, afinal, no ADN de um espaço ligado aos comboios.

Nome
Castas & Pratos
Local
Peso da Régua, Peso da Régua, Avenida José Vasques Osório
Telefone
254323290
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Website
http://www.castasepratos.com/
Preço
40€
Cozinha
Portuguesa Contemporânea
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