Quando o Cais da Villa foi inaugurado ainda se falava do regresso à vida da estação ferroviária de Vila Real. Estávamos em Novembro de 2010, o troço entre Vila Real e Peso da Régua da Linha do Corgo tinha sido encerrado no ano anterior para a realização de obras, mas havia datas previstas para a sua reabertura: não a da Secretaria de Estado dos Transportes, que havia indicado o final de 2010, mas a da Refer, 2011, ainda podia encaixar-se nesse plano.
“A nossa intenção [ao abrir o restaurante] era receber os turistas que vinham da Régua, do Douro”, explica José Ferreira, gerente do Cais da Villa, propriedade de Horácio Negrão. “Mas acabaram por tirar as linhas. Aí soubemos que não ia haver comboios. Se as tiravam não iam recolocar.”
Foi um balde de água fria, percebe-se pelas suas palavras. “Tivemos que repensar a nossa estratégia de posicionamento de mercado”, nota, “porque enfrentámos dois tipos de problemas”. Um é “a falta de hotéis de cinco estrelas em Vila Real”, o público pretendido, o outro é “a falta de turismo”, diz. “Só com habitantes de Vila Real um restaurante como o nosso não consegue sobreviver.”
O Cais da Villa foi instalado num antigo armazém da estação ferroviária de Vila Real, inaugurada em 1906. Um dos fundadores foi Edgar Gouveia (que entretanto deixou o restaurante), que já tinha experiência noutro restaurante no mesmo entorno (o Castas e Pratos, na Régua), e a ideia era replicar o conceito em Vila Real. Um espaço que fosse “igualmente emblemático”, instalado “num edifício com história na cidade”. “Estes edifícios ferroviários dizem sempre algo às pessoas”, afirma, “e há um interesse notório”. “Mérito também da nossa reabilitação.”
A ideia de manter a traça do edifício e criar um espaço ousado foi concretizada, considera. Destaca-se no antigo conjunto ferroviário branco o edifício pintado de castanho-chocolate, debruado a pedra nas esquinas e a rodear as janelas, com telhado inclinado suportado por vigas de madeira — parece quase uma peça colocada à parte, a coroar o volume. Há repas de madeira numa das fachadas, um acrescento aproveitando o beiral grande, e a rodear a esplanada — um toque de modernidade circunspecta, que acrescenta conforto.
No interior, as paredes em pedra despida, irregular, foram mantidas como testemunho de uma história que não se quer esquecer, antes valorizar; e uma evocação de linhas férreas na zona que divide a sala de jantar do wine bar. A decoração condiz com a sobriedade da estrutura, com intromissões de ferro e iluminação cuidada, apostada em criar recantos.
Porque a divisão básica é simples: de um lado, wine bar, com dois grandes balcões à laia de mesas comunais e caixas de madeira como estantes-expositoras de vinho; do outro, restaurante, o branco mais presente no mobiliário e nas formas bizarras que são como biombos indisciplinados (e sobressai a garrafeira, “caixa” transparente).
E no wine bar encontramos 613 referências de vinhos (maioria do Douro) para acompanhar (ou não) tapas; no restaurante, “pratos que reflectem a cozinha duriense e transmontana”, servida à carta mas também em menus executivos e de grupo.
Mas se o edifício do armazém foi restaurado e requalificado, o mesmo não se passa cá fora, lamenta José Ferreira. “Só é pena a envolvente não estar preservada. Só é pena a linha não funcionar.” Com a linha desactivada, o complexo ferroviário foi deixado um pouco ao abandono, explica. E não estando o restaurante no centro da cidade, o Cais da Villa aprendeu a ser abrangente, para captar clientes.
O festival Jazz & Wine, que em 2014 trouxe Mário Laginha, sublinha José Ferreira, é talvez a iniciativa mais mediática, mas outros eventos são promovidos, como conferências regulares. Uma maneira de suprir a falta de turismo na cidade, diz — “falta promoção” –, e de complementar o enoturismo que, apesar da supressão da linha que ligava ao Douro, continua a ser a vocação máxima do Cais da Villa.
Existe até um clube que, entre outras coisas, oferece jantares vínicos aos sócios e descontos — inclusive na compra de vinhos. Sim, porque o Cais de Villa também é garrafeira.
- Nome
- Cais da Vila
- Local
- Vila Real, Nossa Senhora da Conceição, Rua Monsenhor Jerónimo do Amaral
- Telefone
- 259351209
- Horarios
- Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:00 às 00:00
Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 02:00
e Domingo das 12:00 às 15:00
- Website
- http://www.caisdavilla.com/
- Preço
- 40€
- Cozinha
- Gourmet