Fugas - restaurantes e bares

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Quem tem medo do champanhe?

Por Andreia Marques Pereira ,

Se o champanhe é associado a um certo elitismo, o Jéroboam está aqui para desmistificá-lo. Com 15 produtores representados, vários cocktails e acompanhamentos, este bar de champanhe propõe uma viagem à Champagne real. Que é para todos os bolsos mas nunca perde um certo glamour.

Há uma sofisticação explícita na fachada que se prolonga, e se aprofunda, quando entramos no Jéroboam. Há cordas de veludo a ladear a entrada e dois vasos decorativos com alusão a champanhe — “Taittinger” lê-se; no interior, o branco, o dourado, o azul dominam e garrafas exibem-se quase como obras de arte numa espécie de salão. Sobretudo as grandes garrafas, que se expõem contra uma parede de granito, em prateleiras individuais que são parte de uma estrutura de ferro; por baixo destas alinha-se uma estante, baixa e comprida o suficiente para todas as marcas terem o seu nicho designado: no topo, as garrafas estão deitadas, nas prateleiras inferiores estão em pé e o efeito é fotogénico. Mesmo que desconheçamos grande parte dos nomes assinalados pelo lettering, devidamente vintage, como que a remeter para os loucos anos 20, os que conhecemos — e o Taittinger sobressai — remetem-nos para o universo que aqui se conjura e, sobretudo, se celebra: o champanhe, pois claro.

O Jéroboam – Maisons de Champagne de seu nome completo, é um bar de champanhe. Mas essa nem é a sua vocação original; é também uma loja, ainda que esta passe quase despercebida na atmosfera a que não falta o requinte facilmente associado ao champanhe: na verdade, as garrafas que fazem a loja estão de tal forma enquadradas que as vemos quase como parte da decoração.

Não é um nome comum, nem sequer é um nome fácil, mas para iniciados é santo-e-senha: jéroboam é nome de garrafa de vinhos e tem vários significados em diversas partes do mundo vinícola. No Porto, jéroboam equivale a champanhe e neste mundo uma jéroboam encerra três litros de champanhe, ou seja, o equivalente a quatro garrafas “normais” — curiosamente, todas as garrafas a partir deste tamanho (e, surpreendentemente há muitas: no champanhe podem chegar aos 30 litros (!)) têm nomes de figuras bíblicas: Jéroboam foi o primeiro soberano do Reino de Israel. E voltamos ao Jéroboam portuense, maiúscula porque designa uma casa de champanhe e como tal deve ser lido com pronúncia francesa: bar e loja, espaço de venda e de degustação, para profissionais e para amantes ou curiosos.

Ramiro da Costa, o proprietário, é um amante de champanhe que se converteu em profissional. É a ponte entre os dois mundos que aqui se encontram: descobriu o champanhe há 20 anos, “nem bebia álcool”, e desde então deixou que a paixão tomasse conta dele. Parisiense, passou a ser visita constante em Champagne, conhecendo vários produtores que foram os seus professores neste mundo, onde entrou definitivamente num regresso às origens. De raízes portuenses, das “saudades de Portugal” nasceu a “vontade de regressar e de criar qualquer coisa”. Voltou em Novembro de 2014 com uma missão — desmistificar o champanhe. E dar bom champanhe aos portugueses. “O que aqui é vendido como o melhor champanhe, em França encontra-se nos supermercados.” No Jéroboam não se encontram os nomes mais sonantes do universo do champanhe tal como os conhecemos, “os produtos do marketing sem representação da qualidade”, não há o “bling bling” que faz as delícias de estrelas da música e do cinema. Mas encontram-se 15 produtores representando toda a região de Champagne, contrariando a concentração comum nos produtores da zona Reims, e mostrando que o champanhe não é necessariamente elitista, “temos um painel muito aberto” — na verdade, são mais de 70 referências para vários bolsos. E se a vocação inicial do Jéroboam era trabalhar directamente com profissionais, a decisão de “criar uma vitrina” não demorou muito tempo, “para dar possibilidade a particulares de provar champanhes que não há cá”, explica Ramiro da Costa. Esta segunda vocação vai, aliás, ser aprofundada brevemente em Lisboa e no Algarve. E, paralelamente, o Jéroboam organiza eventos à medida, desde cocktails a casamentos.

As sonoridades chill-out enchem o espaço (podiam ser blues ou jazz), com um recanto nas traseiras, separado por uma “cortina” de barras douradas, com várias mesas, sofás e cadeirões em ambiente elegante, onde a proposta é a descoberta, então, do mundo do champanhe nas suas diferentes tipologias: extra bruto, rosé bruto, bruto e branco. Há quem entre por paixão e se surpreenda com a diversidade da oferta e quem entre por pura curiosidade: alguns saciam-na vendo o espaço (“queria uma casa à imagem do produto, sem ser a mais elitista, nem a mais triste, queria um glamour agradável”, explica Ramiro da Costa), outros aventuram-se num copo de champanhe e até podem sair com uma garrafa. Não importa os pretextos, são todos bem-vindos. A carta dos champanhes conta a história (breve) de cada maison, apresenta a ficha técnica e as notas de degustação. Quem quer provar tem também uma orientação personalizada, de acordo com o seu conhecimento e os seus gostos — com a garantia de que o champanhe eleito está sempre fresco, assegura Ramiro da Costa, e o copo adequado, há três diferentes e “é importante associá-los ao tipo de champanhe”. Nós provamos um Cuvée Vendémiaire Brut da Maison Dyard, num copo estreito em baixo, de onde se difundem as bolhas que ocupam o centro e trazemos um cartão com o nome do champanhe bebido para não esquecermos a experiência. Era um dos champanhes das duas casas que todos os meses se constituem como os destaques da casa — o que significa que são os que estão à venda em copo, não apenas em garrafa.

Por provar ficam os cocktails, do “da casa”, o Jéroboam, champanhe com lágrima de vinho do Porto em homenagem ao Porto e ao Douro, aos mais comuns como o Buck’s Fizz, o Kir Royal, o Kir Imperial e o champanhe cocktail. Ou as tapas que podem acompanhar as bebidas borbulhantes, todas com produtos franceses e portugueses (também à venda), como foie gras, caviar, enchidos, queijos, macarrons ou os famosos biscoitos de Reims (que em Portugal se conhecem por biscoitos de champanhe: quando se mergulham na bebida libertam sabores de framboesas e morangos), com sugestões de harmonizações. E à sexta-feira há happy hour aqui: entre as 19h e as 21h, beba-se um dos dois cocktails em promoção (3€) ou cruze-se um copo de champanhe com um acompanhamento de três queijos ou três enchidos (6€) – assim, o champanhe intimida menos. mensalmente o site); acompanhamentos de 8€ (terrine de canard, rillettes de canard, salmão fumado, queijos ou enchidos três variedades, presunto de Trás-os-Montes, por exemplo) a 28€ (caviar); doces entre 2€ e 4€.

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Preços: cocktails entre 6€ e 8€; champanhe a copo dependendo das casas em destaque, o mesmo acontecendo com os menus degustação (consultar mensalmente o site); acompanhamentos de 8€ (terrine de canard, rillettes de canard, salmão fumado, queijos ou enchidos três variedades, presunto de Trás-os-Montes, por exemplo) a 28€ (caviar); doces entre 2€ e 4€.

Nome
Jéroboam - Maisons de Champagne
Local
Porto, Vitória, Rua Cândido dos Reis, 85
Telefone
223261191
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 18:00 às 02:00
e Domingo das 14:00 às 20:00
Website
http://www.jeroboam.pt/
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