Não será uma imagem habitual, mas aconteceu a 15 de Maio: os smokings saíram à praia no Porto. Com alguns anos de atraso, é certo, quando já se pensava que tudo seria um “mito urbano”. Também neste caso, a realidade provou o contrário e a frente marítima portuense reclamou finalmente o anunciado novo inquilino. Não foi numa manhã de nevoeiro, mas foi numa noite de sexta-feira que se inaugurou em festa privada e agora tudo está diferente. E não só porque um volume escuro se destaca ali contra o Castelo do Queijo ou o Edifício Transparente, dependendo de que lado se mire — até porque esse volume, essa casa, já existia, mas estávamos habituados a vê-lo sem cor e, ultimamente, esventrado.
Na sucessão de esplanadas que preenchem a frente de mar desde a foz do Douro até que Matosinhos se insinua em areal limpo, já longe das enseadas rochosas, agora dança-se militantemente. De um lado o azul do mar, do outro o verde do Parque da Cidade e nós estamos entre paredes castanho escuro, com interstícios negros e grandes janelas a rasgarem o primeiro andar (que é mezzanine). Como a vocação é, sobretudo, noctívaga, essas janelas darão também para escuridão. Mas serão iluminadas por dentro, porque a Kasa da Praia é uma discoteca (e será restaurante e lounge, já lá iremos), onde o desenho de luzes é um espectáculo por si mesmo. É o novo “farol” portuense e foi inaugurado com estrondo.
Merecia-o (mesmo que não lhe estivesse no ADN). Afinal, o que ela andou para aqui chegar. Foi um “calvário” o nascimento desta Kasa da Praia — e o “k” não engana, é da mesma família do icónico Kremlin, da defunta Kapital e de novos clássicos como o Kais, o Konvento ou o K Urban Beach (e aqui se vê o peso do ADN) —, com partos sucessivamente adiados; que é o mesmo que dizer, com a vida adiada. Tanto que o que ia ser já não o foi; mas o que é, é-o com convicção e o “ar do tempo”. “Se tivéssemos aberto na data prevista, este seria um projecto do século XX, como abrimos agora é do século XXI”, explica Paulo Dâmaso, um dos responsáveis do Grupo K. Ou seja, tivesse aberto em 2003, como estava previsto, teria três pisos a que corresponderiam áreas totalmente diferenciadas ((bar, discoteca e privados), elevadores e seria, por exemplo, coroado por uma cúpula de vidro. Mas o público do século XXI prefere “espaços mais amplos”, nota Paulo Dâmaso, o que resultou em menos diferenciação das áreas, o que se traduz numa sala tamanho XL que joga com as mesmas ideias de ambientes distintos mas os integra de outra maneira. Do lado de fora, nenhuma alteração: a fachada tinha de ser preservada e foi-o.
É assim que entramos nesta Kasa da Praia, que já foi Colégio Luso-Internacional do Porto e, nas origens, sub-estação de abastecimento de energia dos eléctricos da cidade, como para um edifício “oco”: o seu “miolo” foi retirado, restando a estrutura indispensável para que se mantenha em pé — bem em evidência as traves de ferro que trepam pelo pé direito desmesurado (era de três andares), que lhe empresta o ar industrial — tendo sido implantada uma mezzanine que percorre todos os cantos e constitui uma varanda privilegiada para o espaço, ou seja, para a pista de dança que, como não podia deixar de ser, ocupa o centro de tudo. A tutelar a pista de dança está uma parede de LED, uma cascata de luzes que na verdade esconde um bar, no rés-do-chão e logo por cima a cabina do som, uma verdadeira varanda encaixada abaixo da mezzanine: dali de cima, o DJ está no púlpito, como um verdadeiro sacerdote — do house que é a dieta desta casa. “House mainstream, sonoridades que as pessoas gostam de ouvir, melódicas, cantáveis”, concretiza Paulo Dâmaso. Ou seja, remisturas dos anos 1980, 1990 e 2000 saídas do estúdio onde o DJ residente, Ricci Ferdinand, as vai trabalhando, e os últimos êxitos da electrónica. E entramos colocando rapidamente a cabeça no ar (é inevitável) para intuir que a tecnologia aqui não é a brincar: a quantidade de robots e outros equipamentos que se acotovela lá no alto sobre a pista é um bom indicador. “O equipamento que aqui temos é normalmente utilizado em palcos, para concertos”, explica Paulo Dâmaso. E este equipamento engloba som, luz e vídeo, trabalhados pelo DJ e também por VJ e LJ em permanência — todos criam uma linha estética para cada noite. Todos criam ilusões.
E voltamos à filosofia do espaço, onde, então, um espaço aberto delimita de forma mais ou menos subtil algumas divisórias: o rés-do-chão é de todos; a mezzanine é de acesso reservado (com conjuntos de sofás e mesa dispostos em sucessão e “fechados” por cordões de veludo) e dentro desta ainda existem dois privados, em dois cantos, por detrás de uma espécie de biombos modernos feitos de repas de madeira escura dispostas em geometrias várias e um ar vagamente oriental.
Todo o espaço é servido por seis bares; serão sete quando abrir a esplanada, virada para o areal (e o Edifício Transparente), madeira sob amplo alpendre — alguns dos quais especializados: há o bar do champanhe, o bar dos cocktails, o bar dos sumos naturais. A esplanada, tal como o restaurante (asiático), abrirão no final de Junho e assim fechar-se-á este primeiro ciclo da odisseia Kasa da Praia que começou com a Porto 2001 — o contrato de concessão foi assinado quando a sociedade ainda existia. A Kasa da Praia ganhará uma nova inclinação diurna — devidamente acompanhada na ementa musical que será easy listening (“jazz fusion, bossa nova, house mais tropical”), terá refeições à carta e alargará a oferta de snacks (já tem hambúrgueres, simples e gourmet, e outros petiscos do género — até à hora do fecho). Ao fim-de-semana o restaurante funcionará como antecâmara para a discoteca, com concertos. E é ao fim-de-semana que o espaço prevê cumprir a que vê como a sua verdadeira vocação: ser um pólo aglutinador da região, não apenas da cidade. O seu público não será só portuense, virá de Tui e Aveiro. À Kasa da Praia.
- Nome
- Kasa da Praia
- Local
- Porto, Nevogilde, Praça Gonçalves Zarco, 88 (Rua Esplanada Rio de Janeiro)
- Telefone
- 0
- Horarios
- Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado
- Website
- http://www.grupo-k.pt/