Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

O novo Verão do Porto

Por Andreia Marques Pereira ,

Este bar-esplanada no jardim do Passeio dos Clérigos gosta é do Verão.

A música dos Metronomy compete com os sinos da Torre dos Clérigos: são 18h de um dia de Verão nublado. Na verdade, já choveu, mas tal não demoveu quem se senta na esplanada ou se estica na relva à sombra de uma oliveira. Não é o dia ideal e as previsões para o dia seguinte não são animadoras: “Vamos deixar tudo preparado, mas o mais certo é não abrirmos”, diz Gonçalo Henriques, um dos sócios do Base (e o mentor do projecto). É que se há bar vulnerável aos caprichos meteorológicos é este Base que vive na rua — ou melhor, no jardim. Por isso, ainda não sabe o que vai ser da sua vida quando o Inverno chegar; por enquanto, assume que gosta é do Verão.

É uma esplanada, com certeza (mas não só), disposta em redor de um quiosque que é como um mini-ovni branco de volume excêntrico e pala ampla neste jardim sobre o Passeio dos Clérigos (que é como quem diz, a antiga Praça de Lisboa requalificada e transformada em centro comercial ao ar livre), meio caminho andado entre dois ícones portuenses, incontornáveis em qualquer roteiro turístico, a Torre dos Clérigos e a Livraria Lello. É uma espécie de atalho, este caminho que corta o jardim e é sobretudo percorrido por turistas (vêm de mapa na mão, tiram fotos, fogem e perseguem pombas) e que pode estar ele próprio cortado a partir das 20h, explica Gonçalo Henriques: “Este é um espaço público de utilização privada”. Portanto este Base, que abriu no final de Junho, não é só uma esplanada, é todo um jardim — de possibilidades.

Inicialmente, a esplanada foi concebida como tentativa de complementar o restaurante Clérigos, no espaço comercial sob a relva povoada de oliveiras do jardim. “Mas nunca conseguiram fazer arrancá-la como queriam”, conta Gonçalo, que por sua vez viu uma oportunidade única para “fazer mil coisas diferenciadoras”, bem no centro da cidade.

Coisas como sessões de tai chi e ioga aos fins-de-semana, de cinema ao ar livre (começam por estes dias), concertos, piqueniques (com packspredefinidos de petiscos mais cesto e toalha) e até eventos maiores, como o da apresentação do novo equipamento do Futebol Clube do Porto. De qualquer forma, o melhor é esperar pelo final de Agosto, altura em que o Base estará a funcionar de forma mais rotineira e com uma agenda de eventos mais dinâmica, prevê Gonçalo. Por estes dias, certos, certos são mesmo os finais de tarde com DJ de quinta-feira a sábado e as noites de sexta e sábado também comandadas da mesa de misturas. 

Poderá haver dias como hoje, em que choveu (entretanto, já tivemos de pôr os óculos de sol) e se cancela o DJ. A música é, contudo, omnipresente; esgotado o álbum de Metronomy, é Sade quem agora canta. “Jazz, soul, r’n’b verdadeiro”, enumera Gonçalo, são alguns dos géneros que fazem as preferências da casa — mais a electrónica, está claro. Assim se embalam dias inteiros (o Base abre de manhã) em plena Baixa portuense a fingir oásis de tranquilidade no (por vezes) caos citadino.

Hoje, fim de tarde atípico, são sobretudo estrangeiros os que se juntam aqui nesta espécie de arquipélago: há várias ilhotas de sofás e chaises-longues (e abundância de almofadas) em base de madeira que, juntamente com sacos de serapilheira (que podem fugir para o relvado) rodeiam mesas que são caixas de whisky de madeira com a maior ilha a ser constituída por mesas e bancos corridos de madeira (comunitários, portanto) — ambiente informal e relaxado. “Com este tempo [chuvoso], os portugueses fogem”, diz Gonçalo.

Em dias “normais” (leia-se, na ausência de chuva), há uma espécie de mudança de turno, com os portugueses a substituírem os turistas como clientes dominantes no Base ao final do dia e à noite. Na verdade, Gonçalo Henriques assume que, “nesta altura”, se “trabalha muito para o turismo”. “No entanto, depois queremos fomentar a relação com o Porto”, sublinha — a partir do final de Agosto, como já vimos.

Enquanto não chega, então, o fim do mês, um casal inglês senta-se confortavelmente nos sofás, deixando as sapatilhas num canto, uma família francófona entretém-se à volta da mesa, outro casal instala-se com o triciclo do filho ao lado, um par parisiense pergunta se pode sentar-se e tornam-se nossos vizinhos de ilha. É um espírito que Gonçalo gostaria de ver ganhar expressão em Portugal, a da “partilha do espaço”. “Os clientes portugueses perguntam-nos se há lugar, mesmo que numa mesa só estejam uma ou duas pessoas, por exemplo. Os estrangeiros chegam e sentam-se no espaço livre.”

Em comum, o passo seguinte: pedir a carta. Apesar de o Base não ter cozinha, serve “pratos e tapas” (saladas, sandes, prego em bolo do caco, bruschettas, crepes ou tábuas variadas são algumas das propostas), em parceria com o restaurante Clérigos que resulta numa adaptação do menu do restaurante (a comida é depois enviada pelo elevador interno que liga a cozinha ao bar) – o forno que vemos a um canto do jardim revela que as pizzas poderão a vir a ser uma opção. “Mas não queremos ser uma pizzaria”, reflecte Gonçalo. Uma pequena crise identitária que não põe em causa o que o Base já é: esplanada, bar e o novo Verão da Baixa portuense. 

Nome
Base
Local
Porto, Vitória, Passeio dos Clérigos (jardim)
Telefone
910076920
Horarios
Todos os dias das 11:00 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/baseporto
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