Fugas - restaurantes e bares

  • Diogo Batista
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Gin e tapas numa casa de amigos

Por Andreia Marques Pereira ,

Há algo de muito natural no Oporto GT Baixa. Se calhar pelo ambiente — descontraído sem nenhum esforço —, pela decoração — despretensiosa — , de certeza pela conversa que flui naturalmente (e transbordante).

Não é apenas connosco, percebemos, Jorge assume que não precisa de muito para se sentar à mesa dos clientes e falar sem parar — “então se for sobre as minhas paixões...”.

A tarde está a declinar e Cátia há muito deixou a conversa, em vaivém entre a esplanada e o balcão — e a cozinha, segundo percebemos pelo cheiro que invade o espaço. No Oporto GT Baixa, as tapas (e pratos, sandes) são servidas desde a abertura até ao fecho (2h) e o gin (uma das paixões de Jorge) é a bebida sugerida para acompanhar — mesmo se o que está na mesa é uma francesinha. O “GT” é isso mesmo, “gin e tapas”.

E é herança do primeiro bar que Jorge e Cátia Mota tiveram, em Leça da Palmeira. Não durou muito, essa primeira aventura: em dois meses decidiram vir para a Baixa do Porto, para um espaço onde tinha existido outro bar, o Oporto. O novo nome reúne memórias, acrescenta-lhe a localização (para despertar o GPS dos antigos clientes, sobretudo) e projecta um futuro cosmopolita. Não escondem que gostam de trabalhar com turistas e a tal não será alheio o período de três anos e meio em Tenerife, onde passaram por vários hotéis de topo.

No regresso ao Porto, Jorge foi responsável pela cozinha do Peter’s Café (que dos Açores se instalou na Ribeira há vários anos) até que agora os encontramos nesta ruela com a Praça “dos Leões” (oficialmente de Gomes Teixeira), a fonte homónima e a reitoria no horizonte. Instalaram-se há cinco meses, sem nunca se acomodarem. A lista de gins vai crescendo (neste momento está em 62), a de tapas vai alterando-se, e, entretanto, as cervejas também se instituíram numa espécie de ritual de reciclagem — além da da casa, a Estrella Damn, e das constantes (Corona, Guinness e 1906, da Estrella Galicia), de duas em duas semanas, mais coisa menos coisa, vêm mais dez para surpreender (por estes dias, as “Estrellas da Estrella”, as melhores, vendidas apenas em Espanha).

Das colunas sai Stop! In the name of love e o soul supremo é a companhia neste fim tarde. “É uma das minhas playlists feeling good”, explica, divertido, Jorge. Soul, jazz, blues, dos anos 1950 até aos 1990 com ocasionais incursões pelo século XXI: “Tenho quatro [playlists] e vou variando.” Diz que há quem entre pela música; neste momento, nós somos os únicos no interior do Oporto GT Baixa porque é na esplanada — conjunto de mesas e cadeiras onde o vermelho e branco sobressaem na decoração e um canto com um banco rústico pintado de branco, coberto de verde e almofadas floridas e servido por uma mesa branca redonda (“não temos zona de chill out, mas arranjamos este recanto para fumadores”, diz Cátia) — que se concentram os clientes.

Cátia passa com uma das bebidas icónicas da casa, a sangria branca, que na verdade é cor-de-rosa, por uma das originalidades que Jorge gosta de criar, “para não fazer igual ao vizinho”. Neste caso, decidiu introduzir a beterraba na sangria (e nos gins: o Mombassa, que até “é o que sai mais”, também é servido com rodela de beterraba dobrada) e quando se mexe a bebida muda de cor. “Eu nem gostava de beterraba, mas fiz experiências e acho que fica bom, o verdadeiro long dry gin.”

Aqui, serve-se aquilo de que Jorge e Cátia gostam — a excepção são as tábuas de queijo, de que não são apreciadores — e uma das mais recentes entradas no menu foi algo que improvisaram para amigos. Por insistência deles, o queijo da serra em cama de pão alentejano com compota de abóbora, ficou na ementa. Inclui uma das imagens de marca da casa, o pão alentejano, herança da passagem pelo Peter’s Café, responsável por um dos produtos mais icónicos do GT, que divide a sua oferta entre as tapas (vasta lista), os pratos (que incluem, por exemplo, um hamburger GT de 170 gramas ou uma beringela recheada que assenta bem nos vegetarianos) e as tostas: a “francesa”, que não francesinha (“tínhamos de mostrar a diferença de tamanho”), feita em fatias finas deste pão ou, em alternativa, em massa folhada.

A tradição, está claro, não mora aqui, e a “heresia” estende-se à sugestão do acompanhamento com gin, deixando de lado a cerveja: “Com o gin não ‘pesa’ tanto e é mais refrescante”, justifica Jorge. Outro produto incontornável são os camarões ao alho, a tapa com que participaram na Rota das Tapas Estrella Damm, no final de Maio e que, consideram, ajudou a colocá-los no mapa dos portuenses. “Um amigo, chef, disse-me que lhe tiraria um pouco da pimenta caiena. Mas se eu tirar ficam iguais a quaisquer outros, podem comer-se em qualquer sítio”, defende Jorge.

E nem em todos os sítios “se entra cliente e se sai amigo”, o lema deste Oporto GT Baixa. Pode não ser original, mas é cultivado com afinco. O resultado já é visível na decoração — na verdade, é o que mais sobressai no espaço estreito e comprido q.b., parede de pedra de um lado, o outro com estante estreita de madeira (montra de garrafas de gin vazias e fotografias do bar “original” em Leça), que preenche a parede acima do sofá que a corre toda até ao balcão (diante deste várias mesas se alinham) —, onde abundam os cachecóis de clubes e selecções nacionais, alguns resultado de intercâmbios com adeptos de vários cantos do mundo (um “velhinho” do Eintracht de Frankfurt e um de 30 anos do Athletic de Bilbao estão entre as jóias da coroa das permutas).

O futebol como ponte assumida entre os clientes e o Oporto GT Baixa (que, sim, tem televisão, sintonizada no futebol quando é caso disso — nessa altura, há posters a anunciar os jogos em cartaz) mas não a única. A outra será epistolar e também será exibida nas paredes e o futuro aqui está dependente de se encontrar o design certo para os postais do Oporto GT, que serão entregues aos turistas para que os enviem de volta a casa. A ideia é inspirada no Peter’s Café e encaixa perfeitamente nesta casa de amizades. “Alguns já deixaram morada para que enviemos os postais quando os tivermos e eles remetem de volta”, contam entre sorrisos, “e normalmente as moradas são acompanhadas de convites para visitas”. Se calhar não são convites vãos: de um dos clientes já chegou uma encomenda com uma surpresa: garrafa de gin e 16 de água tónica que não se vendem em Portugal.

Nome
Oporto GT Baixa
Local
Porto, Vitória, Rua Sá de Noronha, 45
Telefone
912008587
Horarios
Todos os dias das 13:00 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/gt.ginetapas
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