Fugas - restaurantes e bares

  • Diogo Batista
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De poesia e de sabor com muita música ao vivo

Por Andreia Marques Pereira ,

Quando passamos a primeira vez, a banda sonora era alheia: o fado que se erguia na Praça 8 de Maio, diante da Igreja de Santa Cruz. Na pequeníssima esplanada do Be Tasty/Be Poetry, quase cheia, já havia garrafas de vinho na mesa, alguns copos de gin e cervejas – num canto montava-se a aparelhagem para o concerto que começaria depois de terminar a noite na praça, por volta das 23h.

Havia de começar mais tarde, com Vânia Couto, num one-woman-show, com guitarra e caixa electrónica. “Ainda há algumas músicas que não toco com esta coisa electrónica nos pés”, confessa, enquanto explica o que a traz esta noite aqui, o projecto Branta, e sendo esta uma ave migratória, a “ideia é migrar por aí, pelo mundo através da música, para mostrar o que há”. Esta noite migrou até uma casa que conhece bem, tão bem que chama a gerente, Aida Bastos, de “patroazinha”, antes de nos levar por Summertime (a resposta: “hoje o som não está fácil”). O Be Tasty/Be Poetry já foi wine bar e de tapas – continuam o vinho, os petiscos, mas com uma atenção cada vez maior à programação, sobretudo musical. Noites como estas não são excepção, são a regra, embora o funcionamento da casa seja cada vez mais inconstante, conta Aida Bastos.

É “O Pastor” dos Madredeus que marca o início do concerto de Vânia Couto – que há-de “voar” pelo Brasil, Cabo Verde, Argentina (“Los Hermanos”, de Mercedes Sosa é totalmente inesperado) e apanha-nos a investigar o interior deste bar pouco comum. Não há muita gente sentada dentro, quase todos se concentram, então, na pequena esplanada na estreita rua do Corvo, na Baixa de Coimbra, em pleno dédalo de ruelas povoadas de comércio tradicional (fechado a estas horas, portanto) – uma esplanada que funciona quase em comunidade com a vizinha, do Be Scobar (o “be” no nome não é coincidência, pertencem aos mesmo grupo, o Be Coimbra Experience). Mas já voltaremos à rua. Deambulamos pelo interior do bar, duas salas um tanto ou quanto caóticas. A primeira, coberta de estantes de madeira pesada (herança antiga do que começou por ser uma mercearia fina no início do século XX, passou a loja de tecidos e, por último, foi loja de artesanato) que albergam todo o tipo de bugigangas – desde moliceiros recortados em tábuas pousados à laia de quadro a exemplar de revista Santa Isabel ou jarro de compota, numa moldura vemos um programa do Teatro Alla Scala de Milão de um apresentação de “Aida” de 1963, há candelabros espalhados, uma guitarra pousada com certa reverência e um aparelhagem rodeada de CD. As mesas brancas, redondas, de acrílico parecem armazenadas e aqui as pessoas sentam-se no sofá, velho, coberto de mantas. Na sala das traseiras, novo sofá e manta e pequena mesa dianteira com lenço dos namorados como “toalha”, candeeiro de pé, estante aberta com livros, mais estantes finas onde repousam pinturas e até um azulejo; há quadros na parede (e uma tapeçaria gigante), óleos presos com pionés num quadro verde a um canto, desenhos a lápis pousados numa mesa num canto: uma grande mesa redonda, tampo de vidro, rodeada de cadeiras negras, completam a decoração. A assinalar os nossos passos, tulipas gigantes de um branco translúcido que se acendem de rosa e amarelo.

Já cantarolamos a “Casa da Mariquinhas” e Aida Bastos continua atarefada a servir gins, “saem muito”, confirma. O vinho já não tanto, os petiscos igual – “o público também mudou”, afirma, “mas no Verão, sobretudo, com os turistas, continuam a ter muita saída”. Tábuas, tostas, conservas, chouriço assado fazem parte do menu da casa, que Aida teima em salvar pela programação cultural, confessa, face ao desinvestimento dos proprietários. Os pergaminhos não são poucos, desde tertúlias a concertos – com um eclectismo que vai do rock paulista ao surf rock espanhol –, este Be Tasty/Be Poetry gosta da inquietude cultural. Por isso, garante Aida Bastos, apesar da irregularidade dos horários – “estamos num período de transição” –, quando abre é porque tem programação. Claro que o seu objectivo é reforçá-la, fazer o bar voltar aos tempos em que de terça-feira a sábado tinha a agenda cheia. E até a rua – hoje a esplanada parece-nos composta, Aida Bastos saca do telemóvel para mostrar a rua realmente cheia. “Já houve noites em que a polícia nos teve de mandar embora, às 5h, 6h da manhã”, conta. Hoje a polícia passa com acenos de cabeça – e o comentário de Vânia Couto: “Agora assustei-me um pouco com a polícia. Às vezes toco na rua e normalmente, quando a vejo, penso ‘tenho de me pirar daqui’”. Hoje ficou mais tempo do que pensava, a pedido da audiência, em mesas grandes e minúsculas (parecem quase bancos). Terminou com Manu Chao e a promessa de voltar.

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Preços
Cerveja a 2€; jarro de sangria a 10€; copo de vinho a 2€; gin entre 6€ e 8€; brancas a 5€; caipirinhas a 5€; conserva empratada gourmet entre 7,50€ a 8€ (com acompanhamentos); tostas entre 3€ e 3,5€; chouriço assado entre 3€ e 7,50€.

Nome
Be Tasty/Be Poetry
Local
Coimbra, Santa Cruz, Rua do Corvo, 33
Telefone
239051693
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 00:00
Website
https://www.facebook.com/BePoetry
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