O pratinho com queijo fresco de Serpa com azeite, o pão alentejano e as azeitonas galegas servem de boas-vindas. É um detalhe, mas é de muitos detalhes como este que se faz o ambiente do Sociedade, o restaurante que o arquitecto Leopoldo Garcia Calhau abriu há um ano na Parede. Entramos aqui e sentimo-nos em casa – isto é um lugar-comum mas neste caso é inteiramente justo. Há uma arte de saber receber e é dela que se faz este projecto.
Não é um restaurante alentejano, mas tem muito de alentejano este espaço criado por Leopoldo quando, um dia, decidiu que estava cansado da arquitectura e queria finalmente dedicar-se a algo de que gostava desde criança: a cozinha. Procurou um local e acabou por encontrar este, pertencente àquela que é a colectividade mais antiga da Linha de Cascais, a SMUP – Sociedade Musical União Paradense, fundada em 1899 e instalada neste local desde 1938.
“Batia certo”, diz, recordando o peso que as sociedades sempre tinham sempre em qualquer aldeia e as memórias de infância que o transportavam até essa ideia de um local de encontro. “O meu conceito enquadrava-se aqui”.
Foi o próprio Leopoldo quem desenhou o espaço, mesas de tampo de pedra, armários de madeira para arrumar as louças e as garrafas de vinho, livros de cozinha – de receitas, sim, mas também livros sobre restaurantes e outros feitos para quem gosta não apenas de cozinhar mas de pensar a cozinha – empilhados sobre os armários, moldes de sapatos na parede “em homenagem ao meu avô José António Calhau”. À direita de quem entra, o balcão, onde Leopoldo nos recebe, e, ao fundo, a cozinha, de onde o chef João Magro faz sair os pratos de ar apetitoso que vão chegando às mesas.
Quando visitámos o Sociedade estava já a ser preparada a festa do primeiro aniversário, para a qual veio um convidado muito especial: o chef Henrique Mouro, que fez um menu de degustação com cogumelos, juntando-se assim a João Magro, seu discípulo dos tempos do Assinatura.
Desde que nasceu que o Sociedade se constrói destas pequenas cumplicidades. Voltemos, por exemplo, ao queijo de Serpa. Leopoldo explica que passou dois anos a trabalhar, como arquitecto, em Serpa e daí que tenha escolhido este queijo da Queijaria Guilherme, tal como escolheu o pão da Fermentopão, de Beja – antigo cliente seu e a quem pertenceu a balança antiga que agora está no balcão do Sociedade.
O menu – impresso numa folha que os clientes podem levar com eles no final – está dividido em couvert, onde se inclui o tal queijo fresco com azeite (3 euros), enchidos de porco preto e não só (4,5 euros) ou queijo manchego (6 euros). Depois passamos à secção “Para Começar”, que inclui, entre outras coisas, ovos e espargos verdes, ovos e farinheira (ambos a 6,5), ratatouille e ovo (7,50), escabeche de pato (9 euros) ou bacalhau, pão e poejos (9,5), ou seja, migas de bacalhau.
Em “Sem Espinhas e Sem Osso” podemos escolher pratos maiores (embora as doses do Para Começar sejam generosas), como a feijoada de chocos (13,50), bacalhau com aipo e espargos verdes (13,20), polvo, batata-doce e coentros (14,90), peixe-espada preto, arroz negro e banana (13,80), espadarte, xerém e coentros (13). Ou, para pratos de carne, bochechas de porco preto, batata e marmelo (13), leitão, batata-doce e abacaxi (13,50) ou pato, arroz e outras coisas (13 euros). E ainda aquele que, neste primeiro ano de vida, se tornou um símbolo da casa: o Bitoque da Sociedade (9,95).
De início, Leopoldo estava na cozinha, mas depois percebeu que, pelo menos numa primeira fase, tinha que estar sempre presente na sala. Mas encontrou em João Magro a pessoa certa para garantir que o espírito do Sociedade se mantém em cada prato.
A ideia de família está presente também nas sobremesas. Já são famosas a Requeijanita do João (doce de requeijão com ovos e amêndoa torrada, criado precisamente pelo chef) e o Pudim de Noz da Joana (a mãe de Leopoldo), uma receita de família que passou da tia para a mãe e que, perante as evidentes manifestações de satisfação de todos os que o provaram, Leopoldo não hesitou em pôr no menu.
É dada também uma atenção especial à carta de vinhos, muito construída pelos gostos pessoais e descobertas que Leopoldo vai fazendo. Neste caso, os vinhos estão divididos pelos preços, começando nos 11,5 euros e terminando nos 65 euros (com excepção para o champanhe de 80 euros). “Temos muitos vinhos da Bairrada, aliás cada vez mais, é uma aposta nossa”, explica o proprietário. Se a comida tem muitas influências alentejanas, na carta de vinhos Leopoldo tenta evitar um peso excessivo do Alentejo. Queria ter mais vinhos de Lisboa, mas lamenta alguma “falta de empenho” dos produtores da região.
Apesar de já ser longa, é uma carta em construção. “Vai-se afinando”, diz. Tal como a das comidas. Há pratos que entram, pratos que saem, uma adaptação aos produtos da época, há a preocupação em evitar o desperdício: o escabeche de pato existe porque há o pato com arroz, as migas aproveitam o pão alentejano, e, sendo grandes, todos os pratos são para partilhar. E agora, que está a chegar o frio, aos fins-de-semana há cozido de grão. Para um grande almoço numa casa de família – que já é a nossa também.
- Nome
- Sociedade
- Local
- Cascais, Parede, Rua Marquês de Pombal, 319
- Telefone
- 215936722
- Horarios
- Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:15 às 15:00 e das 19:15 às 23:00
e Sexta-feira das 12:14 às 15:00 e das 19:15 às 00:30
e Sábado das 13:00 às 16:00 e das 19:15 às 00:30
e Domingo das 13:00 às 16:00
- Website
- http://www.sociedadecaferestaurante.pt/
- Preço
- 20€
- Cozinha
- Autor