Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Tradição e requinte em cenário único

Por José Augusto Moreira ,

O Barão de Fladgate de Gaia é um dois-em-um a dobrar: A cozinha tradicional casa com critérios de modernidade; o prazer da mesa com vista privilegiada. Também com sabor e satisfação se visita a história das caves Taylor’s.

É preciso recuar mais de três séculos para se perceber o percurso da Taylor’s, empresa historicamente associada ao vinho do Porto e em cujas caves se integra o restaurante Barão de Fladgate. E no princípio nem se tratava, sequer, dos vinhos do Douro. Eram os “tintos de Portugal” produzidos no Alto Minho, na região de Monção, que eram exportados a partir do porto de Vina do Castelo. 

Job Bearsley, o fundador da empresa, foi um dos primeiros comerciantes britânicos a chegar a Portugal, em 1692, e a estabelecer um negócio regular para levar os vinhos minhotos até às mesas dos ingleses. Foi o seu filho Peter, que se fixou em Viana e onde foi cônsul britânico, a perceber que para lá do Marão se produziam uns tintos robustos e intensos e mais do agrado dos seus compatriotas. Terá sido mesmo um dos primeiros comerciantes a deslocar-se à região para negociar com os produtores, uma aventura de vários dias, montado em mulas e com a ajuda de guias locais, para atravessar montanhas e trilhos rochosos até às vinhas do Douro. 

O negócio prosperou rapidamente e o seu irmão Bartholomew Bearsley seria o primeiro britânico a adquirir uma propriedade na região, junto à Régua, em 1744. As pipas de vinho desciam o Douro com cada vez maior intensidade e cresciam os escritórios no Porto. Seguiram-se as invasões francesas na Península, a instabilidade provocada pelas tropas de Napoleão e uma complexa sucessão familiar no seio dos Bearsley que quase deitaram o negócio por terra. 

É assim que, em 1814, Joseph Taylor, até então gerente no escritório de Londres, se torna sócio da empresa. Com o regresso da paz, o comércio volta a florescer e Taylor acaba por converter-se em proprietário único e dar o nome à companhia. A doença acabaria, no entanto, por forçá-lo a tratar de sucessão, tendo escolhido os compatriotas Morgan Yeatman e John Fladgate, com ligações ao negócio no sudoeste de Inglaterra e em Londres, respectivamente. 

John mudou-se para Portugal logo em 1836 e dois anos mais tarde nascia a Taylor Fladgate & Yeatman, a sociedade que se mantém nos dias de hoje, e assim chegamos aos restaurantes Yeatman e Barão de Fladgate, vizinhos e associados às caves da empresa em Vila Nova de Gaia. 

O resto é a história do Douro e do vinho do Porto. Morgan dedicou-se sempre à parte comercial, enquanto John Fladgate esteve sempre ligado à vinha e ao Douro. O título de barão foi-lhe atribuído com reconhecimento pelo seu trabalho no estudo e combate à filoxera. 

Cozinha tradicional

O restaurante propõe “uma cozinha portuguesa com um toque contemporâneo”, que desde há dois anos o famoso Guia Michelin inclui como Bib Gourmand nas suas sugestões: “Interior de ambiente clássico, um terraço com uma privilegiada vista para o rio Douro e uma cozinha tradicional com cariz moderno. Bom nível!”

Mesmo em dias sombrios, com têm sido nos últimos tempos, é um prazer gozar das vistas sobre o casario do Porto histórico e a Ponte Luiz I. A sala é ampla, confortavelmente aquecida, mesas compostas com gosto e rigor, e dispõe de largas arcadas envidraçadas voltadas ao Douro. 

Além do menu, com cinco “entradas”, três “massas e risottos, outras tantas propostas para “peixe”, duas de “carne” e sete “sobremesas, há um “menu da semana” que, por 30 euros, oferece entrada ou sopa, prato principal (peixe ou carne) e uma sobremesa.

Provou-se a “salada de polvo, carpaccio de tomate marinado em azeite da Quinta das Vargellas e ervas frescas” (16, 50€). Confecção competente, empratamento elegante e ainda duas porções do octópode, tenras e saborosas. Igualmente apelativo e bem composto o “queijo chèvre gratinado com mel, pistácios, salada verde com vinagrete de vinho do Porto” (13,50€), tal como as “vieiras, gambas e legumes em folha brick, sobre caldo de mariscos” (16,70€). Conjugação de sabores e texturas resultando num interessante equilíbrio e jogo de sabores. Em quantidade generosa e, mais uma vez, empratamento criterioso. 

Nos peixes, aprovado com distinção o “salmão braseado com sementes de sésamo preto, puré de ervilhas, salada fresca de frutas e legumes” (17,50€). Peixe em textura macia e confecção rigorosa, entretido e interessante jogo de sabores e frescura com a conjugação das sementes de sésamos, legumes, citrinos e o puré de ervilhas. Cativante também o jogo visual com o puré verde em forma de três aprimoradas queneles intercaladas com um fio alaranjado que aparentava molho de pimento. Belo efeito!

Também aprimorada a apresentação do “risotto de cogumelos selvagens com lascas de pato crocante, parmesão e frutos secos” (17,50€), com as carnes esfiadas a coroar o arroz cremoso, resultando igualmente apelativa e saborosa a conjugação do “porco preto (ibérico), maçã salteada com cominhos, crumble e compota de maçã” (24€). 

Convocou-se ainda o menu da semana. Como entrada, competente “mousse de foie gras, salada aromática e molho de vinho do Porto com frutos silvestres, havendo, em alternativa, um “creme de cenoura com pistácio torrado”. Como prato principal, “carrilheira de vitela e risotto de caril da terra” ou o “bacalhau à chefe”, que foi o escolhido. Montado em camadas, remete para o tradicional bacalhau com broa, em cebolada com lascas limpas, couve roxa e espinafres salteados. Sabores e texturas definidas, equilíbrio e, mais uma vez, atraente e apelativo empratamento. 

Há as vistas para o rio e o Porto histórico, mas há que concluir que neste Barão de Fladgate cativa também aquilo que se vê no prato, exibindo a competência e conhecimento do chef António Gouveia, que, ao que nos informaram, voltou à base depois de um interregno de três a quatro anos. Pelos vistos, fez-lhe bem, já que à cozinha da base tradicional que continua a ser a marca da casa associa agora convincentes pormenores de equilíbrio, técnica e modernidade.

Na mesma linha do menu, a carta de vinhos procura também não ser extensa, concentrando boas opções para todas as regiões. Bebeu-se, a copo, o Alvarinho 2013 Casa do Capitão, um dos mais excitantes da região de Monção e Melgaço, seguido por um Dão da colheita de 2011, de Álvaro Castro, uma das mais sólidas referências da região.

Serviço cordial, rigoroso e competente, que incluiu a oferta de um Porto branco seco, como aperitivo, e de um ruby para fecho da refeição. Um claro convite a regressar. Com todo o gosto!

Nome
Barão de Fladgate
Local
Vila Nova de Gaia, Santa Marinha, Rua do Choupelo 250
Telefone
223 742 800
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Website
www.baraofladgate.pt
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