Fugas - restaurantes e bares

  • Enric Vives-Rubio
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O Titanic do Cais do Sodré

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Nós dizemos Maxime, Manuel João Vieira diz “o projecto anterior cujo nome não posso mencionar”. Na noite lisboeta, navega-se agora no Titanic sur Mer. Icebergues? Afundam-se nos copos deste bar de programação viva e alma de cabaret.

“Acho que no Titanic [Sur Mer] as pessoas podem afundar-se num ambiente relaxado [e] podem também afundar um icebergue num copo de whisky.” É assim que Manuel João Vieira (vocalista de Ena Pá 2000 e de Irmãos Catita, pintor e eterno candidato a candidato à Presidência da República, entre outros tantos projectos) começa por definir o que se pode encontrar neste seu espaço nocturno no Cais do Sodré, numa referência irónica e cáustica à recente mudança de nome.

Quando abriu — primeiro em soft-opening para receber as festas do festival de cinema Doclisboa, depois com inauguração oficial e casa arrumada em meados de Novembro —, o Titanic Sur Mer ainda era Maxime Sur Mer, o tão aguardado regresso do icónico cabaret da Praça da Alegria, que Manuel João Vieira e companhia tinham devolvido à glória quando assumiram a gerência em 2006, com uma aposta forte nos espectáculos ao vivo. 

Ali deu-se o regresso de José Cid, recuperaram-se nomes como Vítor Espadinha, Lena D’Água ou Lara Li, deram os primeiros passos bandas como os Deolinda ou B Fachada, entre shows de striptease burlesco, projectos musicais irreverentes ou jocosos, cinema e comédia. Até ao encerramento inesperado no início de 2011, quando o Maxime fechou portas devido a desentendimentos com a empresa responsável pelo espaço. Com o fecho do vizinho Ritz Club no ano anterior, ficava um vazio na noite lisboeta e desde logo houve a promessa de um regresso.

“Estivemos à procura de um sítio durante estes anos todos, arranjámos e, como é natural, tentámos reiniciar esse tipo de actividade”, conta Manuel João Vieira, um dos responsáveis pelo novo espaço. Há cerca de um ano, anunciaram a boa nova no Facebook e abriram a votos e sugestões à escolha do novo nome, enquanto as obras decorriam. Maxime venceu por esmagadora maioria, mas o escolhido seria Maxime Sur Mer, o segundo mais votado. Em Janeiro, mudança abrupta para Titanic, já avançado como um dos preferidos de Vieira na altura da selecção. “Houve um grupo que comprou o nome anterior e a certa altura chegou-me uma carta a casa, um quilo de papel, que tive de entregar a um advogado que me disse para desistir”, conta. E durante esta entrevista jamais disse a palavra Maxime, substituindo-a por derivações de “o projecto anterior cujo nome não posso mencionar”.

Mas a verdade é que, “para o ano que vem”, o espaço até já se pode chamar outra coisa. “Os nomes são todos voláteis, mas eu acho que o espírito das coisas permanece.” E, apesar de garantir que “este projecto não é o prolongamento do outro”, a comparação é inevitável e há reminiscências do velho Maxime um pouco por todo o lado. O novo espaço — à beira-Tejo, entre o B.Leza e o terminal fluvial do Cais do Sodré, outrora parte da antiga lota e mais tarde armazém camarário — tem igualmente um palco de madeira como elemento principal, encostado à parede a meio da sala, ladeado por dois balcões de bar relativamente à mesma altura, como se fossem “um contínuo”. Lá atrás, as mesmas cortinas vermelhas, o velho piano de cauda. 

Na parede oposta, cinco painéis com nove metros quadrados têm a dupla função de decorar (são “montagens em Photoshop gigantes” feitas por Manuel João Vieira, com gravuras de edifícios em perpectiva, fotografias de mulheres nuas e diferentes elementos decorativos) e de dividir a sala quando necessário. “Põem-se em pé em qualquer sítio e portanto podem compartimentar o espaço de uma forma interessante e eu queria experimentar fazer algumas coisas de café-concerto a dias como segundas, terças e quartas para usar essa funcionalidade.” Em breve, haverá ainda um barco a navegar noutra parede, “uma réplica do Titanic, com cinco metros de envergadura, concebido pelo artista Fernando Brito”, avança. Depois, talvez venha uma esplanada, para aproveitar as tardes soalheiras e a vista sobre o Tejo.

No que toca à programação, o objectivo passa por fazer “o máximo número possível de espectáculos ao vivo e decentes”. Ter shows de cabaret, concertos, DJ já madrugada dentro, num “reportório heterodoxo”, “aberto a unir diferentes gerações e diferentes tribos”. “Não é fácil”, assume Manuel João, mas ideias não faltam. Confessa que gostava de voltar a receber nomes como “António Calvário, Vítor Espadinha, Simone de Oliveira e algumas relíquias do cabaret português, como Sandro Core ou Carlos Cruz, o ‘homem-banda’", e transformar o Titanic Sur Mer “num cabaret a sério, com vários ingredientes” introduzidos no anterior, “como ter sempre um comparsa que era o apresentador em muitas coisas, ter um grupo de cabaret propriamente dito, intervir nas pontuações das bandas”, enumera.

Para já, o que lhe tem faltado é tempo para se dedicar de corpo e alma ao novo espaço, entre os “40 mil projectos” que tem em mãos, incluindo a participação no novo filme de Bruno Almeida que, nem a propósito, se intitula Cabaret Maxime (embora não seja exclusivamente sobre o antigo bar).

E é já entre as garfadas finais no arroz de cabidela de um restaurante em Campo de Ourique que deixa a promessa de voltar a “pôr-se mais ou menos a 100% no projecto” a partir do próximo mês, defendendo que “o que é mais importante no Titanic é exactamente a potencialidade do que aquilo pode vir a ser”. “É um projecto que está a acontecer, que está em construção e que talvez venha a estar acabado um dia.”

Nome
Titanic Sur Mer
Local
Lisboa, São Paulo, Cais da Ribeira Nova,
Telefone
938833532
Horarios
Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 23:00 às 06:00
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