Fugas - restaurantes e bares

  • Rui Farinha/nFactos
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Um privé afinal é o quê? Este é paraíso do sushi e champanhe

Por Luísa Pinto ,

É um clube? É um bar? É um restaurante? É . E não é. É o Romando Privé, em Vila do Conde, o lugar onde o champanhe é do melhor e o sushi é de outro mundo. E que dizer da "tal" sobremesa?...

O parque automóvel à porta dava ainda mais corpo aos nossos receios. Haviam de se tornar infundados, pouco tempo depois, mas naquela altura, ainda não tínhamos atravessado a rampa que nos levaria à cave do restaurante Romando, uma “instituição” gastronómica que já conta  com um quarto de século em Árvore, Vila do Conde. Não tínhamos como saber. Tudo continuava a apontar para que sim, que o Privé fosse mesmo um clube privado, exclusivo, daqueles a que poucas carteiras podem aceder, se calhar, daqueles em que só se entra com convite. Nós, de facto, tínhamos um, e não sabíamos bem ao que íamos. Sabíamos que o convite chegou até nós assinado pela Dom Pérignon e o escudo dourado que era projectado contra a negritude da fachada parecia confirmá-lo: era, é uma festa privada daquela exclusiva marca de champanhe francês. 

Ana Filipa Matos, embaixadora da Dom Pérignon haveria de explicar-nos que não. O Romando Privé é uma espécie de flagship store da empresa e, acrescentava, “não existe mais nenhuma em Portugal, nem sequer na Península Ibérica”. E, afinal, não tínhamos pela frente um ambiente de festa, mas sim o ambiente regular de uma noite de quarta-feira. O parque automóvel era justificado pela presença de alguns casais e de vários grupos de amigos que escolheram o Romando Privé para o jantar. Ou melhor, de amigas, já que as mulheres estavam em franca maioria.

O Romando Privé saiu da imaginação de Nelson e Patricia Pena e foi uma espécie de prenda de anos dada aos pais, Rosa e Armando, na altura em que comemoravam os 25 anos do restaurante. Isto foi em Agosto do ano passado, e já Nelson e Patricia haviam testado, no Romando Sushi Caffe, junto à marina de Vila do Conde, a aceitação que teria uma carta assente na comida tradicional japonesa. 

“O segredo é trabalhar com produtos de qualidade, e contratar os melhores profissionais”, diz-nos Nelson Pena. A receita pareceria óbvia, e a frase até poderia soar a estafada, mas por essa altura estávamos já pendurados no balcão onde Diogo, o bartender, se preparava para nos servir o seu “Sexual Healing” - o cocktail mais popular da casa (14€), haveríamos de confirmar depois, olhando para as mesas em volta. Com esta introdução, feita à laia de homenagem a Marvin Gaye, estávamos mais do que preparados para ir provar, sentados à mesa, a que sabiam as palavras de Nelson Pena. Seria uma longa e sobretudo uma inesquecível refeição. Sobre os profissionais, não sabemos nada, que Nelson prefere falar da “equipa do Romando” em vez de nomear este ou aquele chef. Mas da qualidade dos produtos, essa ficou rapidamente confirmada.

Começou com Sopa de Cavala, continuou com uma entrada feita de espinafres com Pasta de Sésamo (“Horenso no Goma”), um prato incrível de que nos queremos lembrar por muito tempo, e voltou às sopas - é o melhor nome que temos para descrever o prato seguinte, o “Agedashi Tofu”, e que consiste em Tofu com Caldo de Peixe e Katsuobushi, uma conserva de atum bonito seco e cortado às lascas. 

A acompanhar estes pratos foi-nos servido um irrepreensível Dom Pérignon Vintage Blanc 2004, e passou para um superlativo Vintage Blanc 2006 nos pratos seguintes. Eram eles um escabeche de peixe (“Nabam Zuke”) que, naquele dia contava com salmão, rodovalho e carapau, e seguiu depois para um tempura (“Mini Kakiage”) de Camarão da Costa e Batata-doce.

Já íamos em cinco provas divinais, de comida japonesa de fusão, e ainda não tínhamos entrado no sushi e no sashimi. Mas eles estavam à nossa espera, para se deixar acompanhar agora por um Dom Pérignon Rosé 2003 e nos deixar maravilhados.  Se fossem, apenas, os olhos a comer, já nos daríamos por muito satisfeitos com o que acabava de chegar à mesa.

Como que a evocar a graciosidade dos jardins japoneses (não havia camélias, mas, a fruta dragão tem, sobre mim, os mesmos efeitos hipnotizantes) a gigantesca bandeja com cinquenta peças de sushi trazia o melhor que o mar nos pode pôr na mesa. Peixe fresquíssimo, algumas espécies comuns, outras uma raridade (ja experimentaram ouriço? na nossa mesa alguém disse que sabia a mar, e a apreciação pareceu bastante apropriada). Este é, sem dúvida, um sushi de outro mundo.

A refeição encaminhava-se para merecer o estatuto de inesquecível quando ainda veio para a mesa “A tal sobremesa do Privé…”. A tal? Isso. A tal? Começou de tal forma a ganhar fama que os hashtags no Instagram estão aí para atestá-lo - não é essa uma das boas métricas para aferir o sucesso de um prato de comida? Mas nós, que não nos deixamos convencer por uma boa aparência, muito menos por uma excelente fotografia, fomos tirar a prova. E de entre as várias propostas que libertam qualquer pecado da gula aprisionado, deve ser muito difícil não eleger o fondant de caramelo como a tal especialidade de “A Tal Sobremesa do privé”. Tão boa, tão boa, que é fácil trocar qualquer sobremesa de chocolate por esta - e isto não é uma heresia. 

A refeição já ia longa e a noite ia longuíssima. Era quarta-feira, não havia pressa. À sexta e ao sábado também não há, mas a procura é tanta que obriga a servir refeições em dois turnos - e a capacidade de servir refeições passa das 70 para as 140. 

Pouco mais de um ano depois de abrir o espaço ao público, Nelson Pena admite que o nome “Privé” foi o melhor possível que poderia arranjar. Porque nele cabe tudo. Cabem as festas temáticas com DJs da cena internacional - é ficar atento à programação da primeira sexta-feira de cada mês; a próxima está entregue aos animadores do Budha Bar de Paris. Cabem jantares românticos, jantares de amigos, de negócios. Cabe um cocktail pré-refeição, ou dois ou três pela noite fora, para bebericar entre a escuridão assumida do espaço (tudo é preto) e onde tudo o que brilha é ouro. Vá, é dourado, pelo menos.  

O Privé, afinal é o quê? É difícil de definir. Mas é tão fácil de gostar. 

Informações
Preço médio: 30€. A degustação especial de Sushi e Sashimi, com 50 peças: 60€. De segunda a domingo, das 19h30 às 2h. As reservas para o privé podem ser feitas online

Nome
Romando Privé
Local
Vila do Conde, Árvore, Rua da Fonte, 221 - Areia
Telefone
912302220
Website
http://www.romando.pt/
Preço
30€
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