Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Mesa ibérica em ambiente acolhedor, divertido e contemporâneo

Por José Augusto Moreira ,

No Los Ibéricos há bacalhau, tripas, arroz de pato e até carnes maturadas, mas o que se impõe é a lógica da variedade em pequenas porções. Amêijoas, zamburiñas, presuntos, queijos, enchidos e revueltos. Em tapas, pintxos, montaditos ou, como por cá se diz, petiscos variados.

Afinal, a união ibérica não é uma coisa assim tão distante. Pelo menos num dos restaurantes da zona do forte de Leça da Palmeira, onde as ementas se expressam em linguagem comum e os estilos e especialidades culinárias também não conhecem qualquer tipo de fronteira nesta jangada de pedra (como lhe chamou Saramago) agarrada ao continente europeu pela sua ponta mais ocidental.

E o nome corresponde por inteiro à oferta gastronómica: Los/Os Ibéricos. Assim somos, de facto, quando saboreamos mariscos frescos e grelhados, o polvo cozido, presunto, enchidos e queijos regionais, azeitonas, carnes e peixes na brasa, os arrozes caldosos ou paellas. À mesa, a Ibéria faz sentido e é essa a proposta desta casinha de bem petiscar, vinhos incluídos. 

Pode não passar de mera coincidência, mas convém lembrar que a zona onde está o restaurante nasceu exactamente no período histórico de união entre os dois países. Foi durante a Dinastia Filipina que foram lançadas as obras de construção do forte de Santa Catarina (1638), visando a protecção do porto contra as investidas de corsários e piratas. 

E foi a coberto dessa muralha fortificada erigida no morro sobranceiro à foz do Leça que foi crescendo o casario que alberga aquela que é hoje, seguramente, uma das zonas do país mais povoadas de restaurantes.

Foi numa dessas vetustas construções de dois pisos que se instalou este conceito ibérico, já lá vão mais de três anos. Bar com balcão, bancos e mesas altas orientados para a lógica petisqueira no piso de entrada, e umas escadas que dão acesso ao andar de cima, onde se podem acomodar à vontade meia centena de comensais em ambiente de refeição mais formal. 

Decoração de estilo moderno, sóbrio e elegante em tons escuros, com destaque para a garrafeira que cobre toda a parede onde se agarram as escadas. Tecto alto e vigamento em madeira clara a criar um ambiente amplo e desafogado, para o que contribuem também as oito janelas que rasgam as fachadas sul e poente do pequeno edifício. Mesmo assim, e juntando a cuidada luz indirecta, há um efeito algo intimista de luz quebrada intencional. 

As mesas estão postas com toalhetes escuros de material sintético, baixela convencional e copos de vinho adequados. 

A carta é longa e algo complexa, com “sugestões do dia” e “selecção de tapas” para almoço e ainda “tapas da semana”, que em boa parte se repetem depois da extensa lista de “tapas frias e quentes” (à volta de 40), “queijos, embutidos e presuntos”, “saladas” e “acompanhamentos”. Há ainda uma secção dedicada ao “arroz”, com paellas e cozinhados caldosos (mariscos, polvo e gambas), os “peixes” (tamboril e bacalhaus), “massas” e as “carnes”, com bifes de vazia e lombo e um “chuleton de buey carne maturada”. Ufa! Mas não é tudo, que há ainda “fruta”, “doces” e “gelados”, além da carta de vinhos que, não sendo extensa, tem ajuizadas opções das várias regiões portuguesas, algumas (menos) de Espanha e umas quantas extravagâncias de ambos os lados.

Mexilhões, ovos e rojões

Começamos pela “tábua mista Los Ibéricos” (10,90€), que incluía duas variedades de (presunto Bellota e Ibérico), salsichon e queijo Manchego curado, mas faltando o anunciado salpicão. Produtos de boa qualidade, se bem que algo tosco (e pouco ibérico, portanto) o corte dos presuntos. 

Interessantes os “mexilhões panados” (5,90€), com o bivalve em picadinho e o típico molho de cebola e pimentos envolvidos com nata e pão ralado gratinados no forno. Efeito crocante e saboroso. Também apaladadas as “amêijoas al ajillo com presunto” (11,90€), em dose generosa e de qualidade mediana.

Bem afinados, com batata frita em palitos e bom toque de azeite, os “ovos rotos” (5,90€), que espevitaram o palato para os cozinhados de tacho que se seguiram.

Bebeu-se até esta altura o Mara Martin (14€), um branco da casta Godello da região montanhosa de Monterrei (Galiza). Fresco, envolvente, com boa gordura, volume e equilíbrio de boca que o tornam apto para a variedade de petiscos. 

Pediu-se depois um tinto com alguma idade e o serviço “descobriu” um Duque de Viseu do ano 2000, que não constava da lista. Interessante ver como um vinho que vem da viragem do século se mantém vivo, fresco e até com leve sabor vegetal final que gastronomicamente muito o valoriza. O tempo faz sempre bem aos vinhos do Dão. 

Note-se que se trata de um vinho sem grandes pretensões e de entrada de gama (custa à volta 4€), mas que terá sido confundido com uma qualquer relíquia face aos 24,50€ debitados na conta final. Claro lapso! 

Houve que esperar algum tempo pelo “arroz de tamboril e gambas” (16,10€), um longo hiato na refeição a deixar a ideia que, apesar da oferta alargada e diversificada, as rotinas da cozinha apontam mais para a lógica petisqueira. Arroz caldoso com coentro e pimentos muito bem executado, grão aberto e cozedura al dente, tal como as gambas, que se envolviam com a saborosa calda. Destoavam apenas os troços de tamboril, secos e sensaborões, a denunciar a descongelação tardia. 

Nas “sugestões do dia para almoço” os pratos repetem-se segundo o dia da semana (de segunda a sexta), incluindo coisas como arroz de pato, bacalhau (de cebolada, assado ou à Brás), tripas, tamboril ou dourada grelhados. Os “rojões ibéricos” (6,60€), que estavam entre as opções do dia, chegaram à mesa polvilhados com pickles de legumes e acompanhados por cubos de batata loura e arroz branco. Dose generosa, sabores afinados e envolventes (marinados em vinho?), se bem que despidos dos típicos complementos minhotos, como sarrabulho, fígado ou tripas enfarinhadas. 

Com um serviço que prima pelo despacho e simpatia, este recanto da Ibéria recomenda-se sobretudo para momentos petisqueiros ou refeições com espírito de degustação variada (incluindo vinhos a copo), em ambiente acolhedor, divertido e contemporâneo. 

Nome
Los Ibéricos
Local
Matosinhos, Leça da Palmeira, Largo do Castelo, 3
Telefone
224 965 049
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 16:00 e das 20:00 às 01:00
Website
www.restaurantelosibericos.com
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