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  • Miguel Manso
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O Lux pôs o bâton vermelho para dançar no Mercado da Ribeira

Por Mara Gonçalves ,

O responsável pela discoteca LuxFrágil tem um novo projecto no Mercado da Ribeira, em Lisboa. O Rive-Rouge não nega as semelhanças mas tem personalidade própria.

Entramos no Mercado da Ribeira junto à esplanada da marisqueira Azul, aberta à Praça D. Manuel I, mas não damos imediatamente pela porta envidraçada de acesso ao Rive-Rouge. A entrada do novo bar de Manuel Reis, dono da discoteca Lux, surge discreta no corredor que separa Lisboa da praça de restauração instalada pela Time Out no Mercado da Ribeira. 

Ultrapassado o segurança que guarda o hall privado do bar na penumbra do final de tarde, subimos por uma escadaria e mergulhamos num outro mundo. Um mundo à margem do trânsito do Cais do Sodré e da agitação de gente, de ofertas e de luzes do mercado no rés-do-chão. Um mundo vermelho, de muitos vermelhos, onde a cor e a música aquecem o espaço ainda vazio. O trabalho ainda não terminou na maioria dos empregos deste meio de semana e as únicas almas que agitam sombras contra os recantos da sala são os barmen e o DJ.

O Rive-Rouge nasce como resposta a um desafio lançado pela Time Out ao proprietário do Lux: criar ali um novo bar, que se integrasse no conceito do projecto de revitalização do mercado, iniciado pela revista em 2014. Depois de meses de especulação e de muitas obras e atrasos devido a problemas com a insonorização do espaço, o irmão mais novo do Lux abriu portas em Novembro de 2016.

As comparações com a icónica discoteca são “inevitáveis”, assume um dos responsáveis, Pedro Mendes. A decoração, a carta de bebidas (e as tostas, as famosas tostas), a programação musical, o espírito noctívago e sedutor. Muito desta sala — mesmo vazia — transporta-nos para o imaginário que ergue o Lux ao pódio das casas incontornáveis da história da noite alfacinha. O Rive-Rouge não nega o grau de parentesco, mas quer ter personalidade própria.

Tem, para começar, uma vida dupla: funciona como bar lounge durante a tarde — abre todos os dias às 17h — e transforma-se em discoteca noite dentro — encerra sempre às 4h. A música acompanha a mudança de ritmo, dividindo-se em dois turnos com DJ diferentes. A programação acaba por reger-se numa lógica semelhante à do LuxFrágil, admite Dexter, responsável pela agenda musical do grupo. Mas aqui há uma “aposta ainda maior nos artistas nacionais”, “alguns que já tinham uma relação com o Lux e outros que são estreias absolutas”. “Sentimos que se vive um momento de grande variedade e criatividade musical em Portugal e, definitivamente, queremos que o Rive-Rouge também espelhe isso”, afirma.

A agenda de Janeiro apresenta dois nomes todos os dias — à excepção de segunda-feira, dia de fecho para descanso da equipa — e são poucos os que se repetem. Hoje há Chima Hiro e Bill Onair, amanhã Hélder Russo e I’ll, mas até ao fim do mês passam ainda pela comprida mesa de mistura nomes como João Tenreiro, Mr. Mitsuhirato, Sonja, Inês Duarte ou Alice Selecta. Para deixar o corpo agitar-se sob os holofotes vermelhos ou beber um cocktail sentado num dos cadeirões de sala de espectáculos. Daqueles com o número do lugar impresso no bordo do assento, que se fecha automaticamente para ganhar espaço. Vermelhos, claro. 

São um dos poucos elementos que se destacam na decoração quase inexistente, rivalizando atenções com as vigas de ferro — vermelhas — que procuram “acentuar o lado industrial do edifício” e acabam por criar diferentes zonas no espaço, além de servirem de apoio às poucas mesas existentes. 

A carta também é semelhante à do Lux, com aposta nos cocktails, numa oferta alargada de bebidas brancas (a copo e a garrafa) e vinho a copo. Surgem, no entanto, quatro cocktails da casa no menu, incluindo um Rive (feito à base de gin) e um Rouge (de rum, vinho do Porto e morangos). Com a Primavera vão chegar duas outras novidades, revela Pedro Mendes: uma tosta com receita da casa e uma esplanada no rés-do-chão, com petiscos do vizinho Pap’Açorda.

Há quase 40 anos que os projectos de Manuel Reis e de Fernando Fernandes nascem de par em par. O Frágil e o Pap’Açorda no Bairro Alto dos anos 1980, o Lux e a Bica do Sapato em Santa Apolónia no final dos anos 1990. E, agora, no Mercado da Ribeira em pleno Cais do Sodré. O Pap’Açorda mudou-se no início de 2016, o Rive Rouge abriu já no final do ano. Têm deixado marcas profundas por onde passam, mas desta vez já não chegam pioneiros à noite do eixo Ribeira-Cais do Sodré. Agora chegam com um currículo que é selo de qualidade.

Nome
Rive-Rouge
Local
Lisboa, São Paulo, Mercado da Ribeira, ?1.º andar – entrada virada ?para a Praça D. Luís I
Telefone
213 461 117
Horarios
Domingo, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 17:00 às 04:00
Website
www.rive-rouge.com
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