Fugas - restaurantes e bares

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Um restaurante vegetariano reinventou um cantinho da Vila Sousa

Por Margarida David Cardoso ,

Se por acaso estiver pelo Largo da Graça, em Lisboa, e passar pelo número 77 … “não será por acaso, nada é por acaso”, interrompe António Borges, dono do restaurante com nome da sua morada, Graça 77.

Está à porta quando chegamos. De cachimbo no canto da boca a cumprimentar quem entra, começando por lhes perguntar o nome. Saber o nome dos seus clientes é fazer parte do bairro. “É ser-lhes próximo, numa cidade em que já ninguém fala com ninguém”, conta.

Vegetariano há mais de 30 anos (desde os tempos em que foi monge hindu), António diz que os seus 54 anos de vida são 54 anos de experiência, dez deles passados a viajar, por 50 países de quatro continentes. Não se perde em conversas sobre como chegou a este espaço, número 77 do Largo da Graça, mas sobre o que quer fazer com ele daqui em diante. Na comida que servem, António e Joana Areal, a chef e também sócia do espaço, querem espelhar as ideias que têm sobre o mundo: servem comida saudável, “sem que seja necessário matar para comer”, num espaço em que “há liberdade de experimentar.”

Neste sábado em que visitamos o restaurante, no quadro negro de lousa, lia-se o menu deste dia: chili de soja (8,50€), legumes com cuscuz (8,50€), sopa de legumes sem batata (2€) e guacamole (4,50€). Todas as manhãs, António e Joana vão ao mercado e ela faz a ementa consoante aquilo que compraram: “O prato do dia surge no dia.”

Na carta, dos snacks aos almoços, reinventam-se pratos ditos normais, em escolhas vegetarianas: alheira vegetariana com pão (4,50€), peixinhos da horta com maionese vegan (3€) e croquetes de alheira (3,50€).

Entra-se para o restaurante, de frente para o convento e igreja da Graça, por uma pesada porta no edifício azul da Vila Sousa. Esta vila operária foi construída nos finais do século XIX recuperando as paredes do palácio dos Condes de Vale de Reis — arruinado pelo terramoto de 1755 e por um incêndio em 1819. Hoje, o restaurante quer construir-se sobre a história desse tempo em que os “patrões criavam condições para os empregados terem condições”. António acredita que foi assim, “nesses tempos mais bonitos.”

Se calhar de entrar, vai-se sentar nas cadeiras que António tirou da rua, quando já não tinham assentos. À sua frente, uma mesa cujos tampos já foram portas. Num dos seus lados, à direita ou à esquerda, umas antigas janelas, “de uma madeira que já não existe”, são loiceiros. Dentro, loiças escuras, saloias. Estas são as peças mais escuras da sala principal do Graça 77. Tudo o resto é bege ou castanho claro.

Da madeira que outros deitaram fora, António — designer, pintor, escultor, chamemos-lhe artista — fez o mobiliário e a decoração do restaurante. Grande parte dos materiais foi trabalhada por si e por um carpinteiro seu conhecido, de Cabanas de Viriato, no distrito de Viseu, de onde é natural.

A partir da planta do espaço, que encontrou no Arquivo de Lisboa, imaginam-se as divisões que outrora foram a casa das farinhas, a sala dos fornos, a sala da cisterna. Este último espaço, onde ainda é possível ver onde começava a cisterna, é a sala de jantares.

Brunch ao domingo

Aberto todos os dias da semana, este restaurante serve pequenos-almoços (de 3€, ovos mexidos, a 4,50€, uma taça de granola caseira com iogurte), almoços e jantares. Aos domingos, há brunch (de 8,50 a 16€), das 11h às 16h, e, a partir das 20h, jantar.

A carta inclui ainda várias opções vegan (sem qualquer vestígios de produtos de origem animal). Pode pedir panquecas sem ovos, um cappuccino ou uma meia de leite com leite vegetal, granola com iogurte de soja e requeijão vegan. Na carta de vinhos, há também a opção de vinho biológico (Júlia Kemper a 22€ e Espumante Lapa de Reis por 25€).

Em breve, este vai ser também um espaço de palestras e discussões. António quer que se ponha “em causa todo o paradigma podre desta sociedade”. Espaço também para exposições de pintura, escultura, projecção de filmes, apresentação de vinhos ou lançamentos de livros. Enfim, a porta está aberta a propostas.

Nome
Graça 77
Local
Lisboa, Graça, Largo da Graça, 77
Telefone
910 828 612
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado e Feriados das 09:00 às 00:00
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