Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Um mundo encantado para partilha e degustação

Por José Augusto Moreira ,

No Garfo & Rolha sobressaem o conceito rigoroso, o apuro culinário e o gosto pelos bons vinhos. E o tamanho conta mesmo muito pouco, quando há critério cultura gastronómica.

É uma espécie de mundo encantado a remeter para a gastronomia e vinhos. Não é ilusão, é mesmo real! Há umas escadinhas decoradas com rolhas e a imagem das regiões vitivinícolas, que levam até ao primeiro andar, e espelhos, brilhos e néons que se revelam por detrás do balcão e da garrafeira que cobre a parede lateral da sala, a compor um contexto lúdico e de deslumbre próprio dos espaços encantados.

Tudo, no entanto, muito a sério e de conceito rigoroso, mas em tamanho reduzido. O Garfo & Rolha remete para a ideia de uma casa de bonecas, só que dedicada aos vinhos e boas comidas. Uma espécie de acolhedor Portugal dos Pequenitos para a gastronomia, onde sobressai o gosto/culto do proprietário pelos bons vinhos e cuidado culinário.

O conceito e concepção do espaço são de um gastrobar, mas, na realidade, parece funcionar essencialmente como restaurante, com o bar relegado para um papel figurativo. E isto pode ser um primeiro bom indicador: de que os clientes valorizam sobretudo o que sai da cozinha e que as refeições são levadas mesmo a sério.

Assim é, de facto, mesmo que as mesinhas e banquinhos que dão corpo à zona de bar junto ao balcão acabem por confinar o restaurante a escassos 20 lugares.

As mesas, com um engenhoso alçapão para arrumar as garrafas, são igualmente entretidas e contidas nas dimensões e a vizinhança aconchegada, mas sem que isso perturbe o contexto acolhedor e confortável. O ambiente é de degustação e a carta com propostas de “Petiscos” e “Para Partilhar” logo o confirma.

A par do serviço de copos do melhor que há para a função, as mesas são aparelhadas com toalhetes em fibra plástica e guardanapos de papel colorido.

Vamos à carta, que é ela também contida, bem apresentada, e com indicação clara dos produtos e ingredientes. Exemplar é a carta de vinhos, procurando cobrir todas as regiões com propostas de alternativas onde é evidente o critério de qualidade e preços sensatos. Reparo apenas para a secção de espumantes, com cinco Cavas e apenas dois da produção nacional, um da Bairrada e outro de Távora/Varosa.

Para “Aconchego”, a carta indica a “sopa do dia” (1,50€), “patê de atum” (1€), “pão” (1,20€), “azeitonas marinadas” (1€) e “manteiga aromatizada” (1€), com os três últimos a serem colocados na mesa sem necessidade de pedido.

De entre os “Petiscos”, a lota do dia não forneceu as “petingas” (2€), ultrapassaram-se as tábuas de queijos (8€) e enchidos (7€), e convocaram-se as “pataniscas” (0,80€/unidade), o “ovo português” (5,20€), o “peixe frito e batatas fritas” (9€) e “amêijoas” (10€).

Fofas, macias, crocantes, enxutas e com todos os ingredientes (bacalhau, salsa e cebola) bem presentes, as pataniscas estavam também sápidas e saborosas. O ovo português é escalfado e chega em metades aconchegadas numa espécie de ninho de alheira e uma base de grelos salteados. A massa de alheira é enriquecida com alguns frutos secos, que reforçam texturas e sabores.

Na vertente mais marinheira, o peixe frito é um verdadeiro petisco. Pedaços de lombo de robalo envoltos em polme de muito boa execução culinária e sabores apurados. Em vez das propostas batatas fritas de acompanhamento, optou-se pelas migas de tomate, igualmente muito recomendáveis.

Quanto às amêijoas, são cozinhadas com base num leve refogado que acentua o sabor de tacho mas rouba a frescura e o aroma marinho que é o que mais cativa nos bivalves. E eram bons exemplares de amêijoas, gordas e babosas.

A lista petisqueira propõe ainda uma “sande Garfo & Rolha” (7,80€), com pão rústico, bife, queijo e mostarda de Dijon, que será mais adequada para momentos de refeição informal.

Como pratos de resistência “para partilhar” provaram-se o “robalo no saco” (23€) e o “naco de novilho” (17,50€), de entre uma oferta que inclui a “açorda de camarão” (28€), o “arroz caldoso de mariscos” (24€), o “arroz à pescador” (22,50€), o “misto de peixe grelhado” (19€) e a “picanha com arroz de feijão vermelho” (17,50€).

O robalo é “ensacado” em papel vegetal e coze no forno em ambiente protegido. Apenas os lombos, limpos e inteiros, permitindo que venha à mesa no mesmo tabuleiro que foi ao forno na companhia de legumes, neste caso lâminas de cenoura e curgete. Belo efeito, sabores equilibrados com peixe gorduroso e textura firme.

Destaque também para a qualidade do produto na posta de novilho, cheirosa, húmida e rosada, a dar conta da rigorosa execução culinária. Acompanhou com uma esmagada de batata e rúcula, onde as natas e manteiga deixavam o tom de desalinho com uma cozinha de evidente harmonia e critério na escolha do produto. É claro que nada há de errado na utilização das gorduras das natas e manteiga. A questão é que marcam de forma definitiva os sabores, ao contrário do que acontece com o equilíbrio do azeite. Que é nosso e de efeito bem mais saboroso, como ficou evidente no contraste que obrigatoriamente se estabeleceu com a esmagada de tomate.

Nas sobremesas, claro destaque para a tarte de maçã, que teve o complemento delicioso de um vinho de Sauternes, uma amabilidade do serviço que bem simboliza o gosto/culto da degustação que envolve o ambiente do lugar.

Numa casinha bem arranjada, com cozinha cuidada, critério e gosto, o Garfo & Rolha convida à partilha e degustação, encanta o palato e ajuda a fortalecer a cultura gastronómica.

Nome
Garfo & Rolha
Local
Matosinhos, Leça da Palmeira, Rua do Vareiro, 133 1.º
Telefone
918 858 300
Horarios
Segunda a Sábado
Website
www.garfoerolha.pt
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