É isso que dizem os cervejeiros Filipe Macieira e Francisco Pereira, que para o seu mais recente projecto não se limitaram, contudo, a recuperar um prédio centenário da Baixa portuense e a aplicar nele a sabedoria acumulada na produção da marca Letra. A missão era mesmo transformar o edifício num “oásis no meio da cidade”, equipando-o com dezenas de cervejas em formato tap ou bottle e uma oferta gastronómica especificamente concebida para se harmonizar com esses paladares — tudo num espaço beer-friendly com estética wooden no interior, árvores e plantas no exterior, e o estatuto de meeting point do movimento internacional de corrida em que o estímulo dos runners é a cerveja final após o treino.
Mas vamos ao princípio, para se perceber melhor de onde vem o projecto. Para começar, importa então saber que a cerveja artesanal Letra nasceu em Vila Verde em 2013, pouco depois já se bebia em todo o território nacional e em seguida passou a ser exportada, pelo que, em 2015, Filipe Macieira e Francisco Pereira decidiram celebrar essa evolução com a abertura de um bar junto à fábrica minhota. Entretanto, confirmado que estava o sucesso da Letraria Brew Pub, impunha-se replicar a experiência no Porto e a escolha recaiu sobre um edifício da Rua da Alegria que, atrás de uma fachada inconspícua e de uma primeira sala comedida, esconde outro espaço na cave e uma esplanada exterior no jardim nas traseiras. Décor: tom preto nas paredes, cores de pinho em mesas e expositores, frigoríficos com porta de vidro para quem quiser escolher garrafas frescas, um quadro de lousa identificando marcas e preços, 20 torneiras prateadas no rés-do-chão, outras 20 taps a brilhar na cave.
É certo que, por enquanto, ainda são as mesmas 20 cervejas de pressão que se servem nos dois pisos da Letraria, num teste às preferências da clientela, mas a qualquer altura as torneiras distribuir-se-ão efectivamente por 40 marcas diferentes, cumprindo o seu pleno potencial. Até lá, contudo, o stock já impressiona: inclui essas 20 tap beers e ainda 30 marcas engarrafadas, pelo que, no total, são 50 as cervejas artesanais prontas a fazer espuma na Letraria (80% das quais portuguesas). A acompanhar, tudo o que sai da cozinha da cervejaria é confeccionado com ingredientes processados in loco para garantia de tastiness ajustada às suas brancas, loiras e ruivas.
Essas cervejas habitualmente saboreiam-se no bar, seja dentro do edifício ou entre as laranjeiras, nespereiras, loureiros e morangueiros do jardim, mas quem quiser apreciá-las no aconchego doméstico também tem duas opções: pode comprá-las na bottle shop da Letraria, cuja selecção inclui marcas de qualidade nacionais e estrangeiras, ou adoptar o estilo eco-hipster associado ao uso do growler, o garrafãozinho reutilizável que se pode adquirir no bar para abastecer da cerveja preferida e depois a consumir em casa no prazo de três dias.
Como se todo esse appeal não bastasse, a Letraria do Porto funciona ainda em estreita parceria com a dinamarquesa Mikkeller, que é a maior produtora mundial de cervejas artesanais, quase todas concebidas por Mikkel Borg Bjergsø em processo colaborativo itinerante com outros cervejeiros. Isso significa que, além de oferecer vários dos sabores assinados pelo brewmaster que Filipe Macieira aponta como “o guru mundial das cervejas artesanais”, o novo pub do Porto constitui-se ainda como um capítulo oficial da espécie de confraria que é o Mikkeller Running Club, lançado pelo cervejeiro e ex-atleta de Copenhaga para organização de corridas regulares em que o exercício tem como principal meta “uma boa cerveja entre amigos”. O clube já conta com spots oficiais em cerca de 150 cidades de todo o mundo, tem registados mais de 16.000 membros e reunirá os beer athletes do Porto no primeiro sábado de cada mês, sempre às 16h.
Filipe Macieira admite que a relação entre desporto e cerveja é “algo controversa”, mas defende que a missão do clube é pedagógica, propondo-se sobretudo promover a cultura craft beer. Com essa política, afinal, está plenamente de acordo. O que lhe custa é quando um cliente pretere a mestria da cerveja em favor do simplismo da água, a fórmula fabril da Coca-cola ou até o minimalismo do café, por muito que o da Letraria seja de torra artesanal. Esses pedidos magoam, mas o cervejeiro português ainda os tolera. Profanações é que não perdoa e daí o aviso prévio: “Se alguém me aparecer aqui a pedir um panaché, é corrido lá para fora – e de vassoura!”
- Nome
- Letraria
- Local
- Porto, Bonfim, Rua da Alegria, 110
- Telefone
- 223 235 186
- Horarios
- Segunda a Quinta das 17:00 às 00:00
Sexta-feira e Sábado das 17:00 às 02:00
e Domingo das 16:00 às 23:00
- Website
- https://www.facebook.com/letrariacraftbeergardenporto
