Fugas - restaurantes e bares

  • Adriano Miranda
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Comida boa à beira Vouga

Por José Augusto Moreira ,

Encanta pela localização e pela oferta gastronómica com base nas receitas locais e produtos sazonais. Ainda há lampreia e sável, mas o cabritinho na lenha e o polvo com migas de broa e couve também justificam a viagem.

Às  diversas “capitalidades” em que o país é fértil, juntou-se na última década a Capital do Mirtilo, que faz do concelho de Sever do Vouga o centro da produção nacional daquele fruto silvestre agora muito na moda. Empoleirada na encosta norte do Vouga, a localidade tem, no entanto, muitos outros motivos de atracção, com o património e enquadramento natural em evidente destaque.

Particular encanto tem a estrada que conduz à vila a partir da A25 (auto-estrada Aveiro-Guarda), num traçado sempre agarrado à margem esquerda do Vouga. Um cativante serpentear entre a natureza e o murmúrio das águas, que em boa parte pode agora também ser feito em plena comunhão com a natureza, uma vez que a antiga via férrea que igualmente segue o rio dá agora corpo a um dos vários trilhos pedestres que são outro dos motivos de atracção local.

É precisamente na zona onde se ergue a monumental ponte por onde outrora os comboios cruzavam o Vouga que está o Restaurante Santiago, lugar que encanta pela localização e capaz de satisfazer também por uma oferta gastronómica com base nas receitas e produtos locais e sazonais. Por estes dias há ainda lampreia e sável, que, com sorte, se podem ver sair do rio pelas mãos e artes de pescadores ocasionais.

O edifício, de construção recente e estilo incaracterístico, tem, no entanto, uma localização privilegiada. Sala e terraço voltados ao rio, num cenário único enquadrado pelo amplo arco da velha ponte do comboio, pequenas bateiras e vegetação luxuriante. Na varanda, em madeira e com resguardos em vidro, o ambiente é confortável e o privilégio ainda maior.

Ali começamos por saborear o sável em escabeche (14€), em dose generosa, fatias cortadas e temperadas a preceito, fritura e cebolada competentes, mas já prejudicadas pelo tempo. A lampreia é outros dos cartazes da casa, que se saboreou na única dose sobrante do dia (35€). Magra e musculada como são as melhores, refogado bem trabalhado, sabores apurados numa bordalesa gulosa e de agrado generalizado. Acompanhou com fatias de pão torrado e um arroz branco de carolino, como manda a regra.

De todas as temporadas são os filetes de polvo com migas de broa (19,50€), um prato ao estilo da melhor cozinha rústica, de confecção primorosa e produto imaculado. Polvo macio (de comer à colher), fritura em ovo de sabor a aldeia e saborosas migas com broa de milho e couve galega. Sim, daquelas confecções que têm a marca da casa e justificam a viagem.

Não fosse o corte desajustado, e também os naquinhos de vitela grelhados (17€) teriam merecido aplauso. Peça de boa qualidade e de correcto tratamento nas brasas, que acompanhou com ananás grelhado e arroz com feijão vermelho. Quanto ao arroz, servido em púcara de barro, é justo destacar que — tal como o que acompanhou a lampreia — é de primorosa execução culinária. Carolino, pois claro, de excelente qualidade, grão aberto e calda saborosa e abundante.

Hão-de ser sérios os arrozes que noutras temporadas se servem neste restaurante, já que por estes tempos a ementa propõe apenas mais um “Fillet Mignon Grelhado” (22,50€) e o “Cabritinho Assado na Lenha” (19,50€), que é prato de fim-de-semana ou deverá ser antecipadamente solicitado.

No capítulo da sobremesas, com oferta um pouco mais alargada, provou-se um banal leite creme queimado (2,50€), a par da mousse de coco e do pudim de ovos (2,50€ cada), que também não deslumbraram.

Grande satisfação com o tinto Touriga Nacional 2011 da Adega de Penalva do Castelo (13€), que está fresco, poderoso, e no ponto óptimo de consumo, assim como com o Assobio 2015, um Douro de perfil mais jovem e com frescura e acidez bem adequadas à luta com a lampreia. Mesmo com oferta curta, as sugestões de vinhos são adequadas e a preços equilibrados. Com base no Dão, mas também com Bairrada, Douro, Alentejo e um Verde tinto.

Neste restaurante de vocação local, serviço simples e cozinha tradicional, há uma foto no átrio de entrada que evoca a memória do fundador da casa, um açoriano que por aqui se prendeu de amores e assim trocou a vida a bordo dos paquetes de então pela restauração à beira Vouga.

Diz José Carlos Vieira que, “em 1967, com muito sacrifício e persistência”, conseguiu montar este restaurante e dizemos nós, agora, que é com agrado e reconfortante satisfação que dali saímos e com vontade voltar. Pelo conforto do lugar e beleza da paisagem, mas também com vontade de saborear o cabritinho na lenha e outros cozinhados de temporada.

Nome
Restaurante Santiago
Local
Sever do Vouga, Pessegueiro do Vouga, Poço de Santiago (N16)
Telefone
234 551 125
Horarios
Todos os dias
Cozinha
Portuguesa
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