Fugas - restaurantes e bares

  • Margarida Basto
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A simplicidade vem dos antípodas

Por João Pedro Pincha ,

Quem diria que a felicidade podia ter a forma de um néon vermelho? Nas austeras paredes cinzentas do The Bar, ao Príncipe Real, destaca-se aquela mancha encarnada ao lado do balcão: “I belong here”. Uma mensagem aparentemente simples, mas não tanto como à primeira vista parece. “Esta mensagem tem dois sentidos”, diz Teresa Ruiz, a dona do espaço. Que o nome não engane: é australiana a nossa interlocutora, inglês caramelizado e cabelo louro como é da praxe. Só já não há o pontuar constante das frases com o típico “mate”.

É talvez influência dos anos passados longe de Bondi, a famosíssima praia nos arredores de Sydney onde Teresa nasceu, cresceu e surfou até se mudar para a Europa em 2015. Esteve dois anos em Londres, depois descobriu esta Lisboa de encantos tamanhos, com a maresia a entrar na cidade e as praias a meia dúzia de passos. Tal como em casa, pensou. “Apaixonei-me por Lisboa. Pelas pessoas, pela comida e pelo clima. Londres é incrível, mas o clima não é para mim. Dois anos lá foi o suficiente”, diz.

Voltamos então à mensagem de néon vermelho, inevitável tema de conversa no exíguo bar que Teresa abriu há cerca de seis meses numa das melhores zonas da capital. “I belong here” é ela a sentir Lisboa como casa própria, mas fala igualmente para fora. “Espero que as pessoas também sintam que pertencem a este sítio.”

O néon é, com esta dupla vertente, a única coisa deste The Bar que não apela à simplicidade. A começar no nome e a acabar na carta, onde predominam os cocktails clássicos, Teresa quis criar um sítio despretensioso e livre de rótulos. “Na Austrália temos bares, não temos bares de cocktails ou bares de vinho. Temos bares. Os bares são bares. Têm tudo”, afirma, no estilo que diz ser o de todos os australianos, “muito straight forward” (em bom português: sem rodriguinhos).

Ora a carta tem tudo, de facto. Cervejas artesanais (4 euros), sidras (3 euros), três vinhos brancos, cinco tintos, três verdes, dois rosés, dois espumantes, três Portos (copos entre os 4 e os 8 euros), gins, vodkas e tequilas. A lista de cocktails é a mais extensa, com cerca de vinte variedades, as indispensáveis e feitas conforme as regras, sem complicações. “Interessa-me também cortar o açúcar que se usa hoje nos cocktails, para realçar os sabores naturais das bebidas”, explica Teresa, que se gaba de fazer uma óptima margarita.

No fundo, explica, a ideia é que seja “apenas um bar, onde todos se sintam confortáveis” e não o tipo de sítio geralmente associado aos cocktails e ao Príncipe Real. É também por isso que, numa das paredes, Teresa fez questão de colocar um enorme grafitti da autoria de Tamara Alves. É o corpo de uma mulher nua com cabeça de lobo e pássaros em redor. O que significa? “Eu queria uma forma feminina com uma parte animal”, começa a dizer Teresa. Mas a partir desse ponto prévio a obra ficou totalmente nas mãos da artista. “Queria algo que causasse discussão. E certamente tem gerado! As pessoas questionam-se o que significam os pássaros. Já cá vieram pessoas de noite a dizer que viram o mural lá de fora durante o dia e quiseram vir espreitar.”

Isto porque, apesar do “ar industrial” que Teresa quis para o The Bar, materializado nas paredes cinzentas, no néon solitário e no mobiliário relativamente austero, o espaço é banhado por luz natural — um requisito essencial. “Para que as pessoas também venham de dia. Que venham, tomem uma bebida, relaxem e se deixem estar até à noite.”

Este conceito parece estar a convencer os clientes. Vêm muitos turistas, sim, mas é sobretudo de portugueses que a casa é feita. E é a pensar neles que Teresa Ruiz quer trazer mais um pedaço da Austrália para Lisboa: lá para o Verão já deverá haver gins, vinhos e whisky do outro lado do mundo no Príncipe Real. Quem diria que a simplicidade viria dos antípodas? 

Nome
The Bar
Local
Lisboa, Lisboa, Travessa do Monte Carmo, 1 (Príncipe Real)
Telefone
968 662 446
Horarios
e
Website
www.facebook.com/thebarpt
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