Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido

Good food, good people, good times

Por José Augusto Moreira ,

Não há tempo a perder com coisas fracas e no Brac junta-se a boa gastronomia com um ambiente distinto e elegante. Ainda por cima num espaço único que nos coloca no interior das ruínas do século I e no coração da Bracara Augusta. Felizes e satisfeitos.

É claro que o leitor nunca se imaginaria sentado à mesa com Jesus. Sim, o Nazareno, que deu origem ao calendário da era moderna, mas isso não é uma imagem assim tão delirante.

É que se o convívio é uma impossibilidade absoluta, o contexto já não o será assim tanto, uma vez que há em Braga um restaurante que está, precisamente, instalado sobre as ruínas de Bracara Augusta. A cidade que, como se sabe, era um dos pólos mais dinâmicos do império romano por esse dealbar do século primeiro.

A verdade é que no interior do edifício, e lado a lado com o restaurante, estão os arruamentos, sistemas de águas, estruturas das habitações (e até algum recheio) e há mesmo uns passadiços que permitem a observação e visita por essa ruína musealizada, que nos oferece o convívio com esse tempo que assistiu ao nascimento e vida de Jesus Cristo.

É, pois, um privilégio absoluto sentarmo-nos à mesa no Brac — assim se chama o restaurante —, uma experiência que tem tudo para se tornar ainda bem mais aliciante por via do prazer da degustação.

E mesmo em contexto que nos remete para os primórdios da civilização moderna, há que dizer que o Brac é um espaço de grande contemporaneidade, que se distingue também pelo design apurado e cuidado arquitectónico. Ambiente moderno e sofisticado, mas ao mesmo tempo informal e descontraído, onde se pode jantar ou cear, ou simplesmente petiscar e beber um copo a partir do meio da tarde.

A sala de jantar, que convive com a estrutura romana, é antecedida pela área de balcão claramente vocacionada para o convívio, petiscos e vinho a copo, e ambas em contacto com a ampla e polivalente esplanada. Nesta, numa espécie de plateau em madeira voltado ao arvoredo da praça centenária, apetece estar a todo o tempo. Mesmo se é Inverno, que os fogareiros verticais tratam de amenizar.

De cariz contemporâneo é também a oferta gastronómica, se bem que solidamente apoiada na cozinha tradicional, tanto na vertente do produto como da confecção. Absolutamente exemplar a esse respeito o rabo de boi estufado, que nos convenceu em absoluto. Mas já lá vamos!

Comece-se pelo início, ou seja, pelo cestinho de com pães que logo colocam sobre a mesa. Variedade que vai do vulgar pão branco à mistura com sementes, grissini e papadum de vocação indiana, complementados por cornichons deliciosamente avinagrados, suave molho de caril e manteiga de rábano. Não é vulgar, convenhamos!

Nas entradas, interessante a combinação dos cogumelos grelhados (6€), queijo e ovo estrelado, que se rompe e mistura como numa açorda. Generosos também os croquetes de queijo da serra e presunto, crocantes e sápidos em quatro bolinhas por dose (5,50€), enquanto o carpaccio de boi com molho original (molho inglês e leite, pelo que nos explicaram) era ainda capaz de avivar com um algum complemento cítrico. Há também a sopa do dia, no caso com feijão verde, que não provámos.

Bem conseguido mesmo o prato com a corvina com gambas em molho de moqueca e farofa (15,50€). Para lá da convidativa e colorida apresentação — sim, os olhos contribuem em muito para a satisfação —, exemplar o equilíbrio e combinação de sabores com os ácidos, doces e crocantes em plena harmonia e a posta de peixe cozinhada no ponto correcto. Muito bom!, ouviu-se na mesa. Há também oferta de arroz de polvo com filetes do mesmo (16€) e bacalhau dourado com lombo lascado (15€).

Vamos, então, ao rabo de boi estufado em vinho tinto (15€), que é servido em dose generosa numa terrina branca de louça fina. Sabor, concentração textura e gelatinas sedosas, a revelar toda a virtude de um cozinhado muito lento com ervas e cenoura a preceito. Acompanhou com esparregado de grelos, batata chip e arroz branco, mas pela concentração, equilíbrio e especiosidade de sabores apetecia-nos o amido de uma boa batata de Montalegre, de preferência cozida com casca. Certamente não foi acaso, mas se sair sempre assim, é mesmo um grande prato.

Provou-se também o bife do vazio à Brac (16€), num naco de proporções mais do que generosas, com gordura saborosa, sucroso e rosado e a demonstrar, mais uma vez, a competência da cozinha. Há também a proposta de bochechas de porco com açorda de espargos verdes (14€), que não se experimentou.

Das propostas de sobremesa, saboreou-se o gelado de canela com ovos moles e telhas (4,50€). Dose que, mais uma vez, dá para satisfazer dois ou três, com o doce, salgado, crocante e frio a entrelaçarem-se de forma cativante e saborosa. Há também um crumble de maçã com gelado de baunilha e um parfait de chocolate e tangerina (4,50€ cada), que se forem do mesma mesmo calibre tornam bem difícil a escolha.

Como se vê, abunda a competência e convence o produto numa cozinha que bem mostra que a modernidade e a tradição só têm a ganhar num caminho conjunto. Neste Brac temos disso excelente exemplo.

Bom exemplo também com a carta de vinhos, que cobre todas as regiões com critério e a preocupação (sempre de aplaudir) de equilíbrio entre a qualidade e o preço. Vinhos gastronomicamente adequados à oferta culinária, com diversidade de regiões e (aplauso mais uma vez) produtores novos e que procuram a diferença.

Bebeu-se o Argila XIV (14€), um branco do norte alentejano criado em talha que combina Alvarinho, Viosinho e Verdelho com elegância, frescura e bom equilíbrio. Nos tintos, o Prazo de Roriz 2014 (17,50€) é um desses exemplos de que a qualidade e capacidade gastronómica dos bons vinhos do Douro não tem que custar couro e cabelo.

Destaque-se ainda o serviço competente, elegante e gracioso para concluir que, para além do privilégio do contacto com o mundo romano, está-se bem e sai-se satisfeito da experiência Bracquiana. Como desafia a carta da casa logo a abrir: Good food, good people, good times. Life’s to short  for anything less, que é como quem diz que não há tempo a perder com coisas fracas.

E para quem não pretenda/precise de refeição formal, a experiência promete ser igualmente compensadora face à alargada oferta de vinho a copo e petiscos adequados para uma degustação, tanto ao final da tarde como a horas mais tardias. O ambiente é elegante, convivial e convidativo. ‘Bora lá!

Nome
Brac Restaurante
Local
Braga, Braga, Campo das Carvalheiras, 24
Telefone
253 610 225
Horarios
e
Observações
Cozinha: tradicional em contexto contemporâneo Serviço: buffet de segunda a sábado ao almoço; à carta de segunda a sexta ao jantar e domingo ao almoço. Estacionamento: acessível nas ruas envolventes
--%>