Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

Dar a volta ao texto com sabores e estilo

Por José Augusto Moreira ,

Do avesso mas não às avessas. Cozinha moderna que cruza produtos e tradições de várias origens, com competência e sentido do gosto. Um conceito que cativa, está na moda e recomenda-se.

Está na moda e recomenda-se. No estilo simples e directo que comanda a moderna linguagem comunicacional, pouco mais haveria que dizer sobre a antiga Taberna da Esquina instalada no plateau do velho forte de Leça da Palmeira.

Sobranceiro ao porto de Leixões embebido pela brisa atlântica, desde sempre que o foco da muita restauração por ali existente se centrou na gastronomia de mar. Peixes e mariscos preparados das mais variadas formas e espaços de todos os estilos e a proporcionar muito boas e valiosas opções. E que belos restaurantes por ali há, não sendo sequer necessário evocar o saudoso Garrafão, um dos primeiros portugueses a conquistar a estrela Michelin.

Podia, igualmente, usar-se o velho ditado de que vale mais cair em graça do que ser engraçado para caracterizar este bar de esquina, mas o que acontece é que dentro das quatro paredes daquela velha casinha há, mesmo, muito mais que moda e estilo. E foi, por isso, necessário virar a esquina do avesso.

Há, de facto, um conceito estético que cativa. Percorre as linguagens actuais do cosy, trendy e foodie, e, por isso, está na moda. E isso nota-se, desde logo na clientela que enche a pequena sala. Mas o que se passa é que há também a necessária graciosidade gastronómica, que torna a casa consistente e apetecível. E aí é que, provavelmente, foi preciso virar a coisa do avesso. Dos peixes e petiscos da tradição local para as cozinhas do mundo e da modernidade, com produtos diversificados, gosto e técnicas actuais.

A carta é concisa. E se à primeira vista pode dar a ideia de haver apenas dois pratos, os “Clássicos do Avesso” arroz de pato e polvo à lagareiro, rapidamente se constata que a oferta é bem mais diversificada, com outras 14 propostas  de “Pratos do Avesso” abrangentes e diversificadas. Apelando a cozinhas e tradições diversas, numa viagem pelo mundo dos sabores e sugestões de partilha. Como está de moda, claro!

Começamos, então, por partilhar a cavala com aipo e maçã verde (9,50€). Empratamento elegante e cuidado, com micro verdes e legumes grelhados a envolver troços do lombo do peixe, fumados, e um sabor ácido e fresco. Muito interessante a cebolinha de curtume, que é também salteada na chapa. Conjuga acidez, doçura e aromas quentes e tostados. Dá dinâmica ao conjunto e parece ser o ingrediente emblema da casa, já que aparece em quase todas as combinações.

Um belo prato o bacalhau com feijocas (9,50€), com o naco de lombo competentemente grelhado, puré de grão, as feijocas, um ar fresco de coentros e a tal cebola. Sabor, equilíbrio e intensidade, que casou na perfeição com a última colheita de Mapa branco, um vinho do Douro que se distingue pela frescura e vivacidade. Delicioso encontro.

Com o polvo à lagareiro (23€), o clássico é revisitado numa apresentação cuidada e contemporânea. Grelos salteados e batata a murro, cuidado estético e o complemento de um arroz de polvo que chega numa mini sertã de cobre. Além de bonito, também bem cozinhado, com o arroz carolino saboroso e húmido como mandam os cânones. Não tão feliz a textura dos troços do polvo, tal como o preço que mais que duplica a média dos “Pratos do Avesso” e parece, por isso, excessivo.

Partilhamos ainda a barriga de porco com raviolis (9€) e o rabo de touro (10€), que bem atestam a diversidade — e competência — da cozinha do Avesso. Os pedaços de entremeada porcina empratam com um caldo (de soja?) e amêijoas, num conjunto que não entusiasma por aí além. Bem ao contrário, as carnes esfiadas, saborosas e gelatinosas do bovino, que são servidas com puré de batata e legumes-bebé (maçaroca de milho e cherovia) e guloso molho de carne. Muito bom!

A diversidade dos “Pratos do Avesso” da actual carta alarga-se ainda às gambas kataifi, salmão curado com gin e pepino, atum braseado com miso e grão, moqueca do mar, lasanha de pato, parfait de foie gras, batatoto de beterraba e gnochi trufado com cogumelos. Os preços vão dos 8,50€ aos 11€, o que faz sobressair a disparidade com os “clássicos”, já que aos 23€ do polvo se juntam os 18€ do arroz de pato. E se não é pelos produtos, também não é pela quantidade que se justifica a diferença.

E se a cozinha é moderna e de inspiração diversificada, a contrastar com o passado da casa, a volta ao texto reflecte-se também no ambiente. Há uma salinha/bar de entrada, um segundo espaço com quatro mesas e aí uns 20 lugares, mais umas escadinhas de acesso a uma espécie de sótão ainda mais exíguo.

Tudo em ponto pequeno, ambiente convivial, decoração retro-chic, mesas despidas em madeira a evocar o rústico e louças a condizer. Guardanapos de algodão e copos adequados aos vinhos e à carta, que denota critério e gosto. Sem ser extensa e ordenada por ordem decrescente de preços, centra-se na oferta do Douro, mas também as propostas para o resto das regiões mostra critério e qualidade. No caso dos Verdes, são apenas quatro, mas dos melhores. Incluindo um Avesso, pois claro!

A condizer com o estilo e conceito da casa, são também propostas várias sangrias (8/18€), diversos gins e destilados. O serviço é rápido, atento e competente, num estilo que acentua o ar trendy e fashion desta esquina que, mais que virada do avesso, vai ao encontro da globalidade do tempo actual. Está de moda e recomenda-se.

 

 

 

 

 

 

Nome
Esquina do Avesso
Local
Matosinhos, Leça da Palmeira, Rua de Santa Catarina, 102 (em frente ao Forte)
Telefone
223 238 074
Horarios
e
Website
www.esquinadoavesso.pt
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