Voltado para a vastidão do Atlântico e junto à Pérgola da Foz, não admira que o estilizado edifício concebido pelo arquitecto Amoroso Lopes tivesse sido baptizado como Belo Horizonte. É neste prédio inaugurado em 1945 que funciona o BH, um espaço de “restaurante, bar e eventos”, que, mesmo mantendo o ambiente de certo glamour de outros tempos, tem hoje uma vocação alargada, adaptada aos gostos actuais e à dinâmica quotidiana.
A par da função de restaurante, os espaços de bar e esplanada dominam a actividade, estando hoje os salões e terraços dos pisos superiores vocacionados para receber festas e eventos da mais variada índole. Ora, foi precisamente para proporcionar à endinheirada burguesia portuense de meados do século passado um espaço distinto e glamoroso para a suas festas e banquetes que foi concebido o Belo Horizonte.
O piso de entrada, então destinado a acolher choferes e automóveis enquanto duravam as festas, viria décadas depois a dar lugar a uma bem mais utilitária estação de serviço, ao que se seguiu um longo abandono do imóvel por mais de 30 anos. Até ao resgate para as actuais funções, há coisa de quatro anos.
Inicialmente com o apoio do chef António José Vieira — que tinha acabado de ver o Shis destruído pela fúria do mar —, o BH rapidamente conquistou espaço nas preferências da marginal atlântica portuense. A cozinha é actualmente comandada por Anthony Pires, cujo currículo menciona passagens pelo CS Vintage House, no Pinhão, e outros espaços congéneres em Inglaterra.
Definindo-se como restaurante de cozinha mediterrânica, o BH tem também cartas de pizzas e de sushi, que, pelo que é dado ver, atraem boa parte da clientela. Quanto ao “menu gourmet”, apresenta-se com cinco opções de “entradas”, (mais a “sopa do dia” e cinco “bruschettas”); cinco pratos de “peixe”; quatro de “carne”; três tipos de “bifes”, em três versões cada; cinco “pastas e risotos”; quatro “saladas”; e nove “tentações” de sobremesa.
Em contexto elegante e ambiente de acolhedora descontracção, mesas com toalhas e guardanapos de algodão brancos, baixela cuidada e espaço desafogado. O “couvert” (2,50€ pax) inclui umas tirinhas de pão com orégãos (tipo massa de pizza), azeitonas, azeite com vinagre balsâmico e um banal pãozinho de massa branca.
Das “entradas”, provou-se a “sopa de peixe com croutons, alho e coentros” (6€), “terrina de foie gras e pato confitado, brioche, figo em calda de mel e puré de Sauternes” (14€), e o “ovo de alheira de caça com puré de maçã” (10€), de um elenco que oferecia ainda “vieiras grelhadas com puré de funcho caramelizado e maçã” ou “ravioli de cogumelos com pesto de tomate seco e trufa”, por 14€ e 8€, respectivamente.
Cremosa, saborosa e equilibrada a sopa, com peixes esfiados, coentro aromático e um final de fresca acidez que parecia ser de tomate. Muito boa também a terrina de foie, com sabores afinados, bem definidos e em equilíbrio. Ficou a sensação de o figo ter sido trocado por ameixa, conferindo até um plus de acidez que valoriza o conjunto. Acompanhou na perfeição com um Moscatel Roxo de Setúbal, cuja proposta a copo favorece estas enriquecedoras experiências.
Menos conseguido o ovo de alheira, com o tradicional enchido, esfiado e panado, a envolver um ovo cozido a baixa temperatura. O crocante da fritura e a textura do ovo parecem não combinar com o aveludado do puré de maçã, cuja acidez esbarra também no calor da fritura. Também a exagerada dimensão (para enfartar) é de molde a desmontar qualquer propósito de elegância e equilíbrio.
O mesmo efeito de prato cheio a complicar a harmonia no “risoto de gambas com espargos” (14€). Boa execução culinária, texturas e sabores em afinação, mas uma cansativa sensação de empapamento pelo peso da quantidade. Nos risotos, as propostas alargam-se aos “cogumelos com espinafres” e “nero com lulas panadas”, enquanto nas “pastas” é proposto “linguini com amêijoas e gambas” e “spaghetti nero com gambas”, com preços entre 13 e 16 euros.
Nos “peixes”, parecia tentadora a proposta de “lombinhos de bacalhau assados com brás de grelos” (16€), mas nos tempos que correm manda a cautela que se perguntasse sobre o tipo de cura. Não tem! As “lulas e gambas salteados com tártaro de tomate e coentros” (16€), mostraram-se, então, como opção correcta para peixe fresco. Mais uma vez, sabores e texturas bem definidos e trato culinário correcto, mas num conjunto novamente prejudicado pelo empratamento.
Da mistura do sumo (fresco) do tomate com o molho (quente) do salteado resulta um caldo onde acabam a boiar todos os ingredientes, aos quais se junta ainda a batata a murro. Quantidade bem generosa e produtos bem trabalhados, mas claramente prejudicados pelo modo como é apresentado o conjunto.
A definitiva prova da capacidade da cozinha — se necessária fosse — chegou à mesa com o competente “bife Wellington com lombo de novilho e jus de estragão” (22€). Carne rosada, cheirosa, suculenta e primorosamente cozinhada. Espargos verdes grelhados como complemento vegetal, num prato equilibrado, bem apresentado e — mais uma vez — em quantidade bem generosa.
A par do “magret de pato com batata fondant” (17€), “entrecôtte grelhado com risoto de cogumelos porcini” (18€) e “peito de frango com polenta frita” (16€), as propostas de carnes incluem bifes da “alcatra” (16€), “vazia” (18€) e “lombo” (20€) com três diferentes molhos: de três mostardas, de cogumelos, ou de pimenta.
Das nove “tentações”, sucumbimos com generalizada satisfação ao “mil folhas de pistachios e framboesas” (7€) — sabor, equilíbrio, texturas e contrastes em saborosa harmonia —, enquanto o “éclair com gelado de amendoim e molho de chocolate” se destacou também pelo pecado da gula (quantidade), que lhe retirava harmonia.
Em ambiente contemporâneo, acolhedor e elegante, com cozinha capaz e de aroma italianizado, o BH Foz pede apenas alguma afinação. Sobretudo no modo de empratar/apresentar, já que a quantidade pode prejudicar o equilíbrio e combinações e nem sempre acrescenta satisfação.
Com serviço cordial, esforçado e atencioso, destaque para a alargada e diversificada carta de vinhos, amiga da prova e degustação com múltiplas opções para o serviço a copo. Abrangente nas regiões, com algumas propostas alternativas e preços que, sem serem especulativos, estão aqui e ali um tanto picadinhos.
Mais
O bife Wellington com lombo de novilho. De tamanho bem generoso, com carne suculenta e primorosamente cozinhada.
Menos
Alguns empratamentos/apresentação que prejudicam o trabalho culinário e a qualidade dos produtos.
- Nome
- BH Foz
- Local
- Porto, Foz do Douro, Avenida do Brasil, 498
- Telefone
- 910 993 040
- Horarios
- Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado e Feriados
- Website
- www.bhfoz.pt
- Espaço para fumadores
- Sim