A Tasquinha da Linda não é, nem alguma vez pretendeu ser, uma tasca e rapidamente se percebe que a denominação evoca tão-só uma certa ideia de taberna que é muito querida no Alto Minho. Para os minhotos, a tasca é sinónimo de petisqueira, de comidas simples e típicas cujos sabores resultam mais da frescura e genuinidade dos ingredientes que do amanho culinário. O petisco é aquilo que está mais à mão para saborear, e o melhor é mesmo aquele que é apanhado na origem. Seja ao pé da capoeira ou da horta, ao redor da matança do porco, do fumeiro ou do tacho dos rojões.
O lugar também conta e neste particular não poderia haver melhor que aquele onde se instalou esta tasca de estilo afidalgado, que não é outra coisa que um restaurante Tasquinha da Linda quase exclusivamente dedicado aos peixes e mariscos, de estilo simples e despretensioso.
O espaço é um dos velhos armazéns da doca de marés de Viana do Castelo, devidamente restaurado e adaptado e com o louvável cuidado de manter à vista as bonitas paredes de granito originais. Balcão de serviço ao fundo, que inclui a vitrina com os peixes do dia, a rematar sala de dimensões reduzidas e capaz de acolher até meia dúzia de mesas para um máximo de duas dezenas de comensais. Para compensar, foi criado na frente do edifício uma espécie de avançado de paredes envidraçadas, que duplica o espaço. Perde-se o enorme pé-direito e o enquadramento rústico da sala interior, mas ganha-se outra luminosidade e o contacto directo com a doca, os barcos e o ambiente marinheiro envolvente.
As mesas são exíguas mas aparelhadas com cuidado e bom gosto. Toalhas e guardanapos em linho, louça de Viana com as referências da casa e o pão colocado numa saca bordada de artesanato local. Muito bem. A carta elenca petiscos e peixes frescos e mariscos do dia, numa listagem fixa mas que não corresponde necessariamente às disponibilidades do dia. A oferta resulta antes, como é natural, da faina madrugadora dos pescadores, que garantem produto vivo e sabor a mar. Assim é que é e a clientela agradece.
Mesmo sem o pedir, foram colocadas na mesa saborosas e carnudas azeitonas pretas (0,90€) e pequeninos bolinhos de bacalhau e rissóis de camarão (0,80€ cada) de excelente confecção e textura e a confirmar a vocação petisqueira da casa.
Pediu-se depois camarão da costa (12€) e navalhas (12€), de uma lista de entradas que inclui também mexilhões, amêijoas e percebes, entre outros mimos marinheiros. Brilhantes, frescos e a saber a mar os camarões, mas houve que evitar comer os do fundo do prato, empestados de sal com que tentaram estragar o petisco. As navalhas, oriundas da vizinha Galiza, mostraram-se já um tanto secas e a denunciar o tempo passado no frio. Provaram-se também as sardinhas assadas (6,50€ por meia doses de três unidades), frescas, perfumadas e a deixarem-se descascar como mandam a regras. Muito boas e saborosas na companhia da adequada salada de pimentos e batata cozida.
Dos pescados para grelhar, solicitou-se o peixe-galo mas esse era um dos tais dias em que tinha falhado o encontro com os pescadores. Optou-se então por um arroz de lavagante (45€ a dose para dois), que veio à mesa no competente tacho de alumínio. Para o preço, o bicho bem poderia ser mais crescidito, até porque quando está mesmo bom a gulodice pede sempre mais.
Calda rica a soltar os aromas e sabores do pimento e tomate, que foram coados e não aparecem no tacho. O bicharoco é lançado à fervura ainda vivo para se deixar lentamente envolver no arroz carolino que lhe vai absorvendo os sabores. Acompanhou na perfeição com a acidez equilibrada e frescura frutada do Alvarinho Muros Antigos (18€).
Na perspectiva petisqueira e no que aos peixes e mariscos diz respeito, a Tasquinha da Linha está bem e recomenda-se. Como restaurante, além das limitações de espaço, alguma coisa haverá que acertar. Há câmara de temperatura para os vinhos e serviço de copos do melhor, mas escolhas são limitadas e falta-lhes equilíbrio. O serviço é atento e diligente mas carece de sentido gastronómico, o que condiz, afinal, com a vocação petisqueira do lugar. Não será, portanto, pelo ambiente afidalgado que a Tasquinha da Linha vira restaurante. É lugar de peixes frescos, de petiscos associados ao mar e como tal está muito bem.
(Julho 2010)
- Nome
- Tasquinha da Linda
- Local
- Viana do Castelo, Santa Maria Maior, Doca das Marés, A-B
- Telefone
- 258847900
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 14:30 e das 19:00 às 22:00
- Website
- http://www.tasquinhadalinda.com
- Preço
- 20€
- Cozinha
- Peixe e Marisco
- Espaço para fumadores
- Não