Fugas - restaurantes e bares

Miguel Manso

Abram alas ao novo ''sushi alentejano''

Por David Lopes Ramos ,

"Sushi alentejano" é a "invenção" de Eduardo Carneiro, o fundador do restaurante Eddy''s Kitchen, reaberto em Lisboa. Mas o "sushi man" que faz a "fusão" da cozinha tradicional daquela região portuguesa com a japonesa só podia ser brasileiro, e de São Paulo. É um desafio que não desilude, e que é bem mais interessante do que as especialidades portuguesas também anunciadas na ementa.
Abram alas ao novo "sushi alentejano"

A malfadada crise parece ser virtuosa para o sector da restauração. Depois de um período inicial em que houve alguns restaurantes que baquearem, fechando portas, aquilo a que se tem assistido nos últimos tempos, em Lisboa e no Porto, que são as cidades de que tenho informações, é à abertura de novos restaurantes e similares. Na cidade-capital, por exemplo, faz-se nos dias que passam algum alarido à volta do recém-aberto restaurante Pedro e o Lobo, com dois "chefes" de cozinha com pouco mais de 20 anos, e chama-se a atenção para uma tasca do Largo de São Paulo, a Tosca, onde, num almoço recente, um empregado me tentou dissuadir a escolher os petiscos para não perturbar o ritmo dos almoços. Ora, os petiscos são, com os vinhos a copo, segundo a propaganda da casa, a grande mais-valia do novo lugar. Quer dizer, alguns destes projectos poderão estar equivocados, mas a movimentação continua. É claro que quando Vitor Sobral, da ganhadora Tasca da Esquina, anuncia a abertura de uma cervejaria, igualmente em Campo de Ourique, sabemos, atendendo à sua experiência e talento comprovados, que se trata, em princípio, de um projecto com pés para andar. Outro tanto acontece quando se fica a saber que Ljubomir Stanisic, à frente do 100 Maneiras, na Rua do Teixeira, no Bairro Alto, se prepara para a este restaurante juntar um outro: o Bacchus, no Largo da Trindade. Não passa igualmente desapercebida a abertura de novos restaurantes japoneses ou sinonipónicos, de méritos culinários desiguais, mas que atestam um acrescido interesse por estas culinárias.

Fusão inusitada

A esta circunstância não foi alheia a escolha do "sushi alentejano" pelo Eddy''s Kitchen. Fernanda Câncio, num texto publicado no Diário de Notícias, no dia 30 de Janeiro de 2010, sobre Eduardo Guerreiro o fundador do restaurante, informa: "O encontro com um especialista em sushi e o sucesso da especialidade japonesa em Portugal dá-lhe a ideia de uma fusão inusitada e de um título com potencial para atrair atenções: sushi alentejano". Assim foi. E agora, recém-aberto, após obras de remodelação e beneficiação, temos um restaurante dividido por duas salas alegres, cheias de luz, com uma decoração em que avultam pinturas cujos temas têm tudo a ver com a boa vida.

Quanto ao "sushi alentejano", suscitou a curiosidade de clientes e a atenção mediática. Eduardo Guerreiro, que tem uma larga experiência de trabalho em restaurantes em Portugal e na Suíça, contratou um "sushi man" especialista neste tipo de cozinha na variante de "fusão". Só podia ser brasileiro e de São Paulo, cidade onde o sushi de fusão vai de vento em popa. Aí, há muito que o peixe cru deixou de ser o único companheiro do arroz cozido glutinoso, levemente avinagrado. O sushi pode incluir queijo creme (Philadelphia), "foie gras", frutas tropicais, um nunca mais acabar de associações e temperos como o azeite. Quando André Caetano, o "sushi man", foi colocado perante o desafio de elaborar "sushi alentejano", fez o que um cozinheiro competente costuma fazer: informou-se sobre a cozinha alentejana, provou-a, verificou que a fusão fazia sentido e avançou.

Assim, na ementa do Eddy''s Kitchen, a par do sushi clássico, há "sushi alentejano". Isto é, rolinhos de arroz com "bacalhau cremoso", linguiça, farinheira, alheira e couve lombarda, torresmos com tiras de pimento vermelho assado, queijo de Nisa com pêra, carne do alguidar com migas, camarão com alhinho, entre outros. Como se sabe, nós portugueses somos, na Europa, quem mais arroz come. Desde o chamado arroz branco, até ao arroz com legumes secos e frescos, mariscos, peixes e carnes. Alguns dos nossos pratos de arroz são refrescados com um golpe de vinagre. Daí que não seja estranho ao nosso paladar este "sushi alentejano". Surpreendente, num caso ou outro, isso é. Mas quase sempre também agradável.

Outra experiência recomendável nesta área é o "sushi frito" (15 euros e dá para dois). Neste caso, os produtos, peixe (salmão, sobretudo), frutas e legumes, são envolvidos por alganori, a qual é cravejada com sementes de sésamo e pevides, que ficam estaladiços devido a uma boa fritura. André Caetano informou que, caso se prefira, pode usar folha de ovo para formatar os rolos de sushi. Na modalidade de "sushi alentejano" há combinados; por exemplo, um com 16 rolinhos, com oito variedades, custa 12 euros; o "Eddy''s special", com 32 e mais alguns, custa 35 euros. Ou seja, preços sensatos para uma experiência agradável.

Desilusão

O que se revelou uma desilusão completa foi a prova de especialidades portuguesas. Quase todos os produtos ostentaram excesso de tempo no frio, por exemplo a salada de ovas (6,50 euros), que chegou à mesa vinda directamente do frigorífico, conjunto demasiado marcado pelos pimentos verde e vermelho. Além disso, as ovas eram das congeladas, secas e sem ponta de sabor. A morcela salteada (4,50 euros) com maçã, deixou-se comer. Os nacos de javali (12,50 euros), marinados em vinho tinto e estufados, chegaram à mesa quase frios e na companhia de umas migas de pão de trigo deslavadas, quando a ementa promete laranja e "migas de broa com lombardo". Também os medalhões de porco (10,50 euros) com "migas de linguiça" se mostraram sensaborões. Febra de porco branco sem ponta de gordura, seca e a denunciar tempo demasiado de frigorífico no aroma, na companhia de umas "migas de linguiça" que, salvo o pormenor de umas rodelinhas de linguiça frita, daquela fininha e não da outra, ensacada em tripa do intestino delgado do reco, que é muito mais saborosa, eram iguais às que acompanhavam o javali. O que se esperava eram umas migas que tivessem como condimento gordura da fritura da linguiça e nela moldadas e enroladas. Inenarrável a salada de manga e lagosta (8,50 euros), que integra um trio de "saladas gourmet". É que, da lagosta nem o cheiro. A salada é de "delícias do mar", que é das designações mais irónicas que se podem dar a um produto sem cor, aroma ou sabor.

Quer dizer, o Eddy''s Kitchen, que se orgulha das raízes alentejanas de Eduardo Guerreiro, tem que dar uma grande volta e melhorar muito este sector da ementa.

Outro sector a melhorar é o dos vinhos. A oferta actual é escassa e pouco categorizada. O serviço de sala esforça-se por ser simpático e capaz. Aos almoços há uma oferta de menus baratos, com um deles, completo, a 8,50 euros. Fiquemo-nos por enquanto, então, pelo "sushi alentejano" que, sem deslumbrar, não desilude.

Nome
Gustus - Sushi Alentejano
Local
Lisboa, Lisboa, Rua Ramalho Ortigão, 9
Telefone
213869751
Horarios
Terça a Sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 23:00
Website
http://gustusrestaurant.com
Preço
20€
Cozinha
Alentejana
Espaço para fumadores
Não
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