É um espaço de artes, o Egoísta. O restaurante que o Casino da Póvoa inaugurou há cerca de um ano e que entrou agora numa nova temporada, mantendo a batuta do chefe Hermínio Costa.
Na verdade, cruzam-se várias artes neste restaurante que fica a meia dúzia de metros das slot-machines e da roleta francesa, terrenos onde se busca a arte de encontrar a sorte e muitas vezes se depara com o azar.
No Egoísta não há sortilégios na busca da fortuna. Há certezas na arte de Nikias Spakinakis, de Rogério Ribeiro, de Francisco Simões, de José Manuel Círia, entre muitos outros. Há a confirmação da arte do arquitecto Miguel Esteves que concebeu este espaço requintado e acolhedor, com uma intensa sobriedade nas linhas e uma assinalável riqueza nos materiais. E há a arte do chefe Hermínio Costa, responsável pelas cozinhas do Casino há já alguns anos e que há muito se via, nos festivais gastronómicos que promovia, que justificava plenamente ser colocado à frente de um restaurante com assinatura.
O Egoísta está situado no segundo piso do Casino, envolvido pela magnífica colecção de arte da instituição - que, aliás, patrocina um concurso nesta área. O hall de entrada abre caminho para um pequeno bar onde se insinua o aperitivo que nos prepara as entranhas para a degustação gastronómica que virá a seguir. Conduz-nos também, este espaço de insinuações, ao restaurante propriamente dito e ainda nos pisca um olho para a visita obrigatória às casas de banho, onde o toque de charme também soou. A nobreza dos materiais destaca-se no espaço sanitário, mas a surpresa vem do chão - uma gigantesca tela de vidro a cobrir um imenso aquário que somos obrigados a pisar em tempo de necessidade.
Nos terrenos onde se aprecia a culinária do Egoísta, a sensação é de conforto e intimidade, alavancada nas telas que esvoaçam das paredes propositadamente coloridas em tons sóbrios, mas quentes, e no jardim de Inverno que entra pela sala adentro. As melhores condições para se ir ao que verdadeiramente interessa.
E o que interessa mesmo, quando se vai a um restaurante, é a qualidade da cozinha. Sobre isso, não há dúvidas. Estamos num local onde se procura combinar os sabores, explorar as texturas, sem forçar notas nem cair no exótico, que muitas vezes surpreende, mas não satisfaz.
O chefe Hermínio Costa tem na base da sua cozinha os sabores tradicionais portugueses, o que de melhor a terra e o mar nos dão. Casando estes elementos com a procura de novas sensações gustativas e combinando-os em formas que nos transmitam algo de surpreendente. No fundo, a tentativa de juntar, num prato, tradição e modernidade.
E claro, pedaços da gastronomia poveira, que tem referências incontornáveis no panorama nacional, embora os restaurantes da cidade as tenham praticamente esquecido. É o caso do arroz de sardinhas e da pescada à poveira, que Maria de Lurdes Modesto consagrou nas suas obras.
"A base da cozinha do restaurante Egoísta é sempre a cozinha portuguesa, mas a verdade é que nós somos o que vivemos, o que viajamos, o que provamos. Estamos constantemente a receber influências de outros países, de outros pratos, de outros mundos", refere Hermínio Costa.
Num recente almoço de degustação, o chefe serviu algumas dessas criações. Por exemplo, uma sardinha marinada em tomate (acompanhada de espumante rosé) ou uma salada de bacalhau e pimentos verdes sobre uma surpreendente tosta de azeite e ervas aromáticas, a que se juntou a companhia de um espumante Vértice super reserva bruto. Bacalhau no ponto ideial de demolha e equilíbrio no recurso às ervas foram pontos altos da experiência. Comeu-se também um robalo corado com azeite do Douro e migas de tomate e hortelã da ribeira, com o peixe em excelente textura, grelhado no tempo certo, com uma suave queimadura, e as migas a evidenciarem a bondade de se juntarem aqueles dois produtos da horta.
Na zona das carnes, o Egoísta apresentou uma criação que merece realce e que assenta numa parte do corpo do animal que era, até há bem pouco tempo, considerada um sub-produto: as bochechas. Correctamente estufadas em vinho tinto, em cozedura lenta que lhe vinca os sabores, surgiram acompanhadas de uma esmagada de batata e espigos cujo resultado é um encanto para o palato. Um Quinta da Leda de 2007 fez, na perfeição, as honras ao repasto.
Restaurante de assinatura, o Egoísta não é uma casa barata. Mas é um prazer que vale a pena. A proposta mais atractiva e a que, segundo os responsáveis do Casino, tem feito sucesso, é o menu de degustação: sete propostas de entradas, pratos quentes e sobremesas, com vinhos seleccionados especialmente para cada uma das variedades experimentadas, por 65 euros.
Na temporada que agora arrancou, e a exemplo do que aconteceu no ano passado, o Egoísta vai reforçar as apostas nos jantares temáticos, que tanto podem ser dedicados a um produtor de vinhos, à caça ou a um determinado produto da terra (os cogumelos, as trufas...). Uma fórmula, diz Susana Saraiva, relações públicas do Casino da Póvoa, que se afirmou e merece continuar.
Chefe Hermínio Costa, o percurso
O chefe Hermínio Costa entrou para os terrenos da culinária através do Núcleo Escolar de Vidago da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, onde foi também Assistente de Monitor. Em Janeiro de 1984, foi cozinheiro da Embaixada de Portugal em Bruxelas e, um ano mais tarde, regressou a Portugal para o Hotel Meridien, no Porto, onde trabalhou durante um ano. De 1990 a 1992, foi chefe de cozinha no restaurante A Porta Nobre, na Ribeira do Porto, e nos anos seguintes chefiou as cozinhas do Hotel Infante de Sagres, do Grande Hotel da Batalha, ambos no Porto, e, em 1995, regressou ao Hotel Meridien, para chefiar a sua cozinha. Está no Casino há mais de uma década.
- Nome
- Restaurante Egoísta
- Local
- Póvoa de Varzim, Póvoa de Varzim, Edifício do Casino da Póvoa de Varzim
- Telefone
- 252690888
- Horarios
- Terça a Quinta das 20:30 às 23:00
- Website
- http://www.restauranteegoista.com
- Preço
- 50€
- Cozinha
- Autor
- Observações
- Dispõe de bar.
- Espaço para fumadores
- Sim