O endereço é apelativo e se há casos em que a letra acaba por não bater com a careta, essa não é a situação do restaurante Picadeiro. O arruamento dá pelo sugestivo nome de Bom Viver, uma zona privilegiada com moradias de traço modernaço e sobranceira ao histórico casario da cidade de Guimarães. A localização, a meia encosta entre a cidade e o monte da Penha e voltada a poente, proporciona também vistas amplas e magnificas, tudo a fazer aguçar o apetite.
Instalado numa das modernas construções da urbanização, o restaurante divide-se pelos dois pisos do edifício, sendo que no superior (destinado a fumadores) há também um terraço que, em tempo apropriado, funciona como bar e esplanada e até horas mais tardias. Na sala do piso térreo, onde há uma elegante lareira, podem acomodar-se amplamente à volta de meia centena de comensais. Espaço amplo e com boa luz natural, aparelhado em estilo moderno e com os demais atavios a condizer, sendo que as cadeiras nos colocam uns centímetros abaixo da posição ideal.
A visita tinha-nos sido sugerida em tempos no típico A Carvalheira, em Ponte de Lima, onde então nos deliciámos com um cabritinho assado no forno e outras delícias da cozinha tradicional. Ao que parece, este Picadeiro é gerido pelo filho dos proprietários da casa das margens do Lima, mas sem qualquer pretensão de funcionar como espécie de sucedâneo ou filial. Aqui tudo é, de facto, diferente. O estilo típico e a evocar o ambiente rural dá lugar ao urbano de tiques modernos; a cozinha tradicional cede perante experiências de maior contemporaneidade.
Por ocasião da visita da Fugas, a oferta era composta por oito entradas (três frias e cinco quentes), dois peixes (bacalhau e tamboril), cinco pratos de carnes e três de pato. Começou-se com uma salada Picadeiro,alface com raspas de queijo parmesão, vinagreta e um saboroso toque de mostarda; salada de bacalhau com broa frita, boa cebola e azeite e um pouco de coentros a envolver o bacalhau desfiado. Igualmente sápidos os cogumelos flamejados, que antecederam o menos feliz misto de carnes de caça, que se apresentou numa terrina com as carnes a marinar e completamente ofuscadas por um molho espesso e que foi ao forno a gratinar.
Interessante a posta de bacalhau com broa. De proporções bem generosas, cozinhada no tempo certo e com o crocante da broa de milho migada em equilíbrio com o azeite, cebola, alho e ainda um travo de pimento que dava intensidade ao conjunto. Apresentado como especialidade da casa, o folhado de pato não foi, no entanto, capaz de provocar grandes excitações, muito por culpa do tal molho espesso (pelas natas) que voltou a condicionar todos os sabores. Apresentação interessante, folhado bem crocante e com o longo rolo recheado com as carnes esfiadas. Acompanhou com uma juliana de legumes salteados e um arroz do forno com bacon.
Mas como não há duas sem três, o dito molho voltou a atacar, desta vez na veste de cobertura para o filet mignon com pimento verde e cogumelos. Carne bem cozinhada e de primeira qualidade, mas que só expurgada do pernicioso complemento se lograva saborear.
Muito bem instalado e com interessantes condições de espaço e conforto, este Picadeiro tem também um serviço atencioso, mas parece precisar de ver domados alguns fulgores no que à cozinha diz respeito, tal como acontece com os ímpetos de juventude dos equídeos nas primeiras passagens pelo recinto de exibição. É caso para dizer que fica a meia encosta e também a meio termo.
No que à experiência me diz respeito, bastaria até que se tivesse prescindido do malfadado molho e tudo estaria muito melhor, atenta a qualidade dos produtos e o trato culinário que denunciavam. Também com um tudo-nada de criatividade, facilmente se evitaria que os três pratos de substância provados viessem sempre acolitados pela mesma juliana de legumes salteados. Assim se evitava a monotonia de sabores, dando ao mesmo tempo palco aos produtos escolhidos que, repete-se, se mostraram todos de superior qualidade e com bom trato culinário.
No que aos vinhos diz respeito, entrou-se com o Loureiro de 2009 da Quinta do Ameal, pleno e de frescura e exuberância aromática e de longe um dos melhores produtos da região dos vinhos verdes, tendo-se fechado com o CARM reserva 2008, um duriense complexo e de boa intensidade. A carta é equilibrada, tanto em termos de preços como de oferta. Predominam os Douro e Alentejo, com cerca de 30 opções para cada região, mas há também algumas de propostas de Vinhos Verdes do Dão.
- Nome
- O Picadeiro
- Local
- Guimarães, Urgezes, Rua do Bom Viver, Lote 26
- Telefone
- 253542406
- Horarios
- Terça a Sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 22:00
Domingo das 12:00 às 15:00
- Website
- http://www.restpicadeiro.com
- Cozinha
- Portuguesa Contemporânea
