Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

Havemos de ir a Viana comer Portugal

Por José Augusto Moreira ,

Cozinha regional, escrupuloso respeito pela tradição e os melhores produtos de temporada. O restaurante Laranjeira é um daqueles baluartes da gastronomia tradicional que merecem especial carinho e aplauso.
São muitos, e cada vez mais, os motivos que justificam uma visita a Viana do Castelo. Dos encantos naturais que oferece o enquadramento entre o monte de Santa Luzia e o manso estuário do Lima ao cuidado centro histórico, a cidade tem sabido dotar-se também de interessantes elementos de modernidade que reforçam esse chamamento.

Entre a tradição e a modernidade, também a rica gastronomia local sempre tem atraído um regular fluxo de visitantes, com destaque para os vizinhos da Galiza, para os quais uma escapada até Viana para comer bacalhau se tornou já tão natural como as visitas a Santiago de Compostela ou as excursões a Fátima. Se bem que a devoção ao bacalhau minhoto se mostre um tanto abalada nos últimos tempos, em consequência da trapalhada das portagens recentemente montada pela inteligência nacional.

Conjuntura à parte, havemos de ir a Viana por múltiplas razões, tal como ditam os versos de Pedro Homem de Melo celebrizados na voz de Amália: "Se o meu sangue não me engana / como engana a fantasia / havemos de ir a Viana / ó meu amor de algum dia." E desta vez lá fomos com destino ao restaurante Laranjeira, um clássico em pleno coração da cidade, numa das ruas que, a poente, dá acesso àquela que é a sala de visitas da urbe, a Praça da República. Mesmo em frente está a confeitaria Manuel Natário, célebre pelas empadas, bolas de Berlim e outras irresistíveis guloseimas e que tem como único senão o facto de frequentemente obrigar a aguentar em fila para se chegar a esses petiscos.

O Laranjeira é uma daquelas casas de tradição, onde o saber e a arte de receber vão passando de geração para geração com a rara sabedoria de se adaptarem ao tempo mantendo sempre a essência das coisas. A sala, comprida e estreita, a ocupar todo o piso térreo do edifício onde funciona a residencial com o mesmo nome, é capaz de acolher comodamente perto de uma meia centena de comensais. Ambiente acolhedor e de contida elegância, mesas convenientemente aparelhadas com toalhas e guardanapos de algodão.

A lista reflecte a preocupação com a oferta de cozinha regional e do melhor dos produtos de temporada, como foi o caso de umas extraordinárias postas de sável frito (5€). Confecção irrepreensível, corte oblíquo que elimina o grosso das irritantes espinhas e a tresandar ao produto.

Um achado para os tempos que correm.

Mesmo antes das escolhas, a mesa foi-se compondo com deliciosas empadas de vitela de massa tenra, broa de milho, pão de mistura e azeitonas (2,50€). Provaram-se de seguida a sopa de peixe (3,50€), um caldo gelatinoso com peixes esfiados, que se mostrou competente, e também as típicas papas de sarrabulho (3,50€), que denunciavam o recurso ao presunto fumado.

Correctíssimo o bacalhau à moda de Viana (13,50€). Posta bem firme e generosa, de cura amarela, a decompor-se em lascas por debaixo de um refogado de cebola e pimento vermelho, tudo polvilhado com um picadinho de salsa e ovo cozido. A rondar a perfeição também o cozido à portuguesa (13,50€), na sua versão tipicamente minhota.

Carnes de vaca, de galinha e toda a panóplia de carnes do reco, incluindo costela, orelha, chispe, paio e as típicas chouriças (de carne e de sangue). Arraial completo e saborosamente gorduroso na companhia de couves, cenoura e batata daqueles que denunciam a origem directa da horta, a compor um longo rasto de sabores que se transformou num daqueles irresistíveis momentos de gula domingueira.

Foi ainda preciso um esforço final para provar o arroz de sarrabulho (9€), igualmente muito competente, tal como os rojões e a tripa enfarinhada que lhe faziam companhia. Por fim, e quando já lá iam quase duas horas de refeição, um miminho minhoto para fechar em beleza: massa folhada com leite-creme (5,50€), ou seja, a típica sobremesa doce do Minho em vestes de modernidade.

Pelo que se viu, o Laranjeira é um daqueles baluartes da cozinha tradicional que, além o aplauso, deve ser também merecedor de especial carinho pelo importante papel que representa como guardião da memória gastronómica e culinária. O serviço é correcto, competente e a reforçar o ambiente de aconchego. Pena que os vinhos não acompanhem o nível da oferta culinária, mas nem isso nos impede de vivamente aconselhar uma visita ao Laranjeira para todos aqueles que um dia hão-de ir a Viana.

Nome
Laranjeira
Local
Viana do Castelo, Monserrate, R. Manuel Espregueira, 24
Telefone
258822258
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira e Sexta-feira das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 22:00
Preço
12€
Cozinha
Portuguesa
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