Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

Este Pop não é para o povo

Por Andreia Marques Pereira ,

Lavou a cara sem esquecer os pergaminhos, que até já vêm do tempo da Dona Urraca. O Pop, que fomos visitar, está com um design mais cosmopolita, que gira ali por Nova Iorque, dizem, mas a filosofia (que é uma geografia) mantém-se e gira ali pela Foz. Os clientes são os de (quase) sempre - a "família". Elitista? Sim, e di-lo a quem se atrever a ir lá. É uma questão de carácter.
Este Pop não é para o povo

A placa à porta pode fazer arregalar olhos e desanimar os mais incautos. Consumo mínimo: 250 euros. Os mais incautos, dizemos, não os que fazem parte da "família" Pop. A saber, a "alta sociedade portuense". "Da Foz, principalmente", explica Alberto Rezende, um dos gerentes. Dali, quer ele dizer. O Pop está encravado numa ruela típica da Foz Velha - onde cabe também, duas portas além, o atelier de Anabela Baldaque, tudo por detrás do Hotel Boavista, a dois passos da Esplanada do Castelo. Ali, não há movida nocturna e é isso que interessa ao Pop.

Exclusividade é a característica que torna este Pop único. É exclusivo como não o é nenhum dos "concorrentes directos" - e é ao Twins, também ali nas redondezas, que se refere Alberto Rezende. Porque a Baixa, continua, atrai bastante gente, "mas povo", e esse não "convém" ao Pop, embora por lá, pela Baixa, circulem "caras conhecidas" que a discoteca da Foz não desdenharia acolher. Afinal, se há coisa de que o Pop gosta é de "personalidades públicas" misturadas com a alta sociedade. Por isso há fotógrafos de serviço a registar os (bons) momentos para a posteridade, por isso há Cláudia Jacques como embaixadora ("Tem uma imagem forte e decidida. Apareceu na capa da Playboy, mas, não denegrindo a Ana Malhoa, é muito diferente. Assegura status social onde quer que vá"), por isso há name dropping (a saber, Miguel Vieira e Nuno Gama são assíduos, João Pinto, Marisa Cruz, Vítor Baía, José Figueiras, por exemplo, já por aqui passaram).

Não é novidade esta obsessão por um certo status social, embora o Pop esteja de cara lavada. O espaço que albergou a Dona Urraca, que se tornaria num mito noctívago da cidade (mais não seja por ter sido a primeira discoteca a chegar ao Porto, nos idos de 70) e se transformou em Pop já quando o século XX estava a dar os últimos suspiros foi sofrendo ao longo dos anos algumas mudanças - Alberto Rezende, que ali trabalha desde 2002, assistiu a "várias convulsões": "três decorações novas, milhares de RP [relações públicas], muitas festas, muitos altos e baixos". A última convulsão aconteceu em Fevereiro, menos de meio ano após ter reaberto as portas - a 11 de Setembro do ano passado, com a apresentação do livro de Rui Moreira, Uma questão de carácter - depois de um longo interregno. Uma redecoração: "O Pop é uma marca. Temos de mudar. Começámos a achar muito pesada". O Pop foi "muito parisiense", agora finge ser "nova-iorquino". Deixou o "rococó" (e as cornucópias nas paredes) para ser "mais p''rá frentex" - mais clean e anódino. Uma imagem "mais internacional, mais inovadora" (com a assinatura do arquitecto Carlos Miguel Figueirinhas) do que a anterior, que já "pesava a toda a gente".

Mudou de pele, porém manteve a substância - a navegação rotineira entre as "elites" (conceito difuso onde o que parece valer é a conta bancária e o mediatismo - se andarem de mãos dadas, o casamento é perfeito), que ali encontram uma sala de estar fora de casa, "inter pares". Não é um clube privado ("não se mostra cartão"), mas funciona quase como tal - "às vezes entram meia dúzia de pessoas que não são conhecidas". Cinco ou dez por cento de "estrangeiros" (de fora do círculo do que os responsáveis consideram o jet-set) numa noite já é "uma loucura", graceja Alberto Rezende. As fotografias comprovam-no: "São sempre as mesmas caras, só mudam a roupa. Às vezes, nem isso".

Não é um clube privado, já vimos, nem é sociedade secreta (a placa está na porta e em breve voltará à Internet), mas (quase sempre) é necessário santo-e-senha para entrar. O nome, por exemplo, ajuda - What''s in a name?, perguntava-se Shakespeare. No Pop é pedigree: "É o filho deste e daquele". Quando não é o próprio pai, muitas vezes com filhos, sobrinhos, primos e amigos. "Temos visto que as pessoas se renovam, dentro da mesma família e grupo de amigos. Todos aqui circundantes". E o reconhecimento público também não prejudica. "Pessoas conhecidas na sociedade portuguesa premeiam este tipo de ambientes. Para venderem o que fazem, pela exclusividade. Por não ser das massas", explica Alberto Rezende. "Se forem ao Via Rápida, uma Cláudia Jacques ou um Miguel Vieira serão assediados por muita gente. No nosso ambiente, quase todos são educados e não é estranho pessoas desse meio virem cá". E sentirem-se confortáveis, e trazerem amigos (reconhecíveis, preferencialmente) para um "ambiente familiar, cuidado, sem grandes euforias" - "ou quando as há é entre eles" - onde "o que conta é a qualidade do serviço". "Um ambiente favorável às celebridades", resume Alberto Rezende.

O resultado? "Temos sempre alguns ilustres que vêm por vontade própria". E "uns são mais exclusivos do que outros". Como o próprio espaço o define. Uma das mudanças mais visíveis do novo layout do Pop são os "privados", que aumentaram. Estão na sala principal, aconchegados por debaixo da "varanda" - ou, para ser mais exclusivo ainda, aninhados ao lado e por detrás da cabina do DJ, desta feita com direito a "separador" de vidro - sofás brancos a desenharem semi-círculos. O cinzento domina a casa, o verde (fluorescente na iluminação ou mais apagado no papel de parede) marca a diferença ("o Pop é verde", brinca Alberto Rezende). A pista é aqui nesta sala - há um degrau que faz a separação, mas a partir de determinada hora, a pista é em (quase) todo o lado - onde há um dos bares (são três), balcão em "fole" branco sob candeeiros brancos que são "asteróides".

Antes, uma primeira sala, balcão e sofá que segue as "ondas" da parede; depois, o primeiro andar que se abre num mezanino que é uma varanda e uma sala que é um lounge. As mesmas linhas direitas nos mesmos sofás brancos preenchem a parede do mezanino, vista privilegiada para a passerelle em baixo, e servidos pelas mesmas mesas que são pontos verdes fluorescentes. No lounge, três grandes janelas para a rua que não vai até ao mar, mas ele está perto: a decoração muda de tom, mais castanhos e beges, os puffs são enormes e as mesas não têm luz. Aqui há wine bar (antes já havia vinho, mas agora pode tomar-se a copo) e cocktail bar (este uma inovação que já entrou nos hábitos de consumo da casa) - além do serviço de grill, retomado recentemente por insistência dos clientes.

Novo destaque no Pop é também a cabina de DJ, sublinha Alberto Rezende. Lá está ela, um pouco acima da pista - dois dias depois, Diego Miranda, "um dos melhores DJ nacionais", iria chamar-lhe casa por umas horas. "Vem não para chamar gente, mas dar música de qualidade aos clientes. Mais qualidade de som". É uma nova preocupação, a música, "mais cuidada". "Maçava um bocado as pessoas sempre a mesma música", afirma Alberto Rezende. Há um DJ residente e estes convidados especiais. Para pôr toda a gente dançar: "Desde o pop ao house comercial".

A música é, portanto, pop e comercial, tudo o que o Pop não quer que os clientes sejam. Jet-set nortenho, ouvimos repetidamente. Para quem não sabe o que é, o Pop tem sido a sua fogueira das vaidades de eleição - os espelhos estão por todo o lado.

Referências
Reservados e reservas

"Tudo o que é mesa aqui é passível de ser reservado", declara Alberto Rezende. E quem quiser ir mais além - quem não se contentar com um privado (desde €240) ou o corredor do mezanino (desde €600), por exemplo, que estava já reservado para o dia seguinte - pode alugar o espaço inteiro. Na verdade, o Pop acolhe diversos tipos eventos à semana, com catering incluído. Os preços são sempre para cima. "Depende do que [os clientes] quiserem gastar e do que nós tivermos para vender".

(Abril 2010)

Nome
Bar Pop
Local
Porto, Bonfim, R. Padre Luís Cabral, 1090
Telefone
226150143
Horarios
Sexta e Sábado das 23:00 às 04:00
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