A 14 de Junho, o Hard Rock Cafe comemorou 40 anos. Com número tão redondo, a festa só podia alastrar-se um pouco por todo o mundo, Lisboa incluída - até porque aplaudia aniversário próprio: o bar-restaurante que ocupou o Cinema Condes fez oito anos, marcados dois dias antes da celebração internacional. Por isso, vestiu-se a preceito, com trajes à anos 70, pôs à venda o lendário hambúrguer (de seu nome, precisamente, Legendary) pelo valor que lembra o ano de estreia, 71 cêntimos, escancarou as portas a todos os que queriamrockar all night long - na realidade, o único, mas obrigatório requisito para frequentar o espaço - e convidou Tim, o vocalista dos Xutos & Pontapés, uma das duas bandas nacionais com representação na memorabilia (a outra são os Moonspell), para Remar, remar serão afora.
O culminar de toda a comemoração decorreu em terras britânicas, com o londrino Hyde Park a receber Bon Jovi ou Rod Stewart; em Lisboa, tocaram os Seattle num concerto, "como sempre", de porta aberta: "Só usamos bilheteira em casos de concertos de solidariedade", regista Marta Sotto-Mayor, directora do departamento de Vendas e Marketing.
O resultado é habitualmente casa cheia e, não poucas vezes, filas e filas de gente à espera de uma oportunidade para engrossar a capacidade da casa. "Vamos ter com as pessoas lá fora, explicando que a lotação já está esgotada, mas muitos não arredam pé e por vezes acabam por ter a oportunidade até de conhecer o artista convidado".
Foi o que aconteceu a Inês Abreu, que relatou a história no Facebook do Hard Rock Cafe Lisboa, a propósito do desafi o 40 Anos / 40 Histórias. No concerto de Agosto de 2010 dos Gene Loves Jezebel, não conseguiu lugar na casa durante a actuação, mas no fim acabou por entrar e conhecer o próprio Jay Aston.
Mas também há quem não arrede pé para ver de perto a colecção de artigos associados a estrelas do rock que decoram cada uma das 163 casas, entre cafés, casinos e hotéis, espalhadas por 50 países, e engrossam a relevância histórica da marca. Tudo por culpa da rivalidade entre Eric Clapton e Pete Townshend. O primeiro decidiu marcar um lugar no seu restaurante preferido e propôs uma placa. Mas os proprietários, Peter Morton e Isaac Tigrett, dois americanos a residir em Londres e saudosistas do fine american dining, apresentaram a contraproposta: "Por que não penduramos a tua guitarra?". Foi então que Townshend, guitarrista dos The Who, decidiu que a sua guitarra era tão digna de um pedaço de parede do Hard Rock Cafe quanto o instrumento do mestre dos blues.
E assim começou uma colecção que hoje reúne mais de 72 mil peças. Lisboa apresenta cerca de cinco dezenas, das quais se destaca o fato do Elton John, o casaco usado por George Harrison e Ringo Starr no filme Help, de 1965, e a valiosa guitarra de Noel Gallagher, dos Oasis. Mas é um carro rosa-choque, pendurado na parede frontal, que, desde o primeiro dia, surte maior efeito em todos os que entram. O Cadillac descapotável de 1959, que pertenceu a Alfred "Al" Unser, antigo campeão de Indycar, parece querer ganhar vida a qualquer instante e dá cor ao ambiente descontraído que marca qualquer hora do dia. A começar pelo staff : da porta ao bar, os sorrisos e o tratamento informal predominam, numa nota comum a todos os Hard Rock.
"Mais que clientes, recebemos amigos", resume a responsável pela área de vendas e marketing da casa lisboeta. E assim parece, quer na zona de restaurante, que de dia ocupa a totalidade do espaço e à noite resume-se ao primeiro piso, onde as pessoas da casa dão dicas sobre o que comer e tagarelam alegremente com os comensais, quer no bar, onde se podem apreciar malabarismos a lembrar Tom Cruise no seu papel de galã em Cocktail que atraem particularmente público do sexo feminino.
O bar alto, em madeira escura, é mais do que ponto de passagem, abrigo de muitos que ficam por ali à conversa com amigos ou com quem está atrás do balcão, numa alegoria à letra de Perfect, dos Fairground Attraction, que se fazia ouvir uma noite destas: I need someone who really cares. Pelo centro do espaço, que sofre uma metamorfose do dia para a noite, a noite presta-se à euforia dançante de gentes de todas as nacionalidades - a clientela fiel divide-se entre locais e muitos turistas (numa proporção média de 40/60) -, idades, cores, credos. Há despedidas de solteiro, grupos de imberbes amigos, pares românticos, casais sexagenários.
E de repente, ao som de Tainted love, dos Soft Cell, este grupo heterogéneo transforma-se numa massa indistinta, acompanhando o refrão em uníssono.
Referências
Os cinco "M"
O Hard Rock Cafe Lisboa ocupa o antigo cinema Condes, um edifício dos anos 50, com projecto de Raul Tojal, onde outrora se ergueu um palácio dos Ericeira. "Procuramos sempre locais que são também monumentos, fazendo jus à política dos cinco 'm' de que o Hard Rocknão prescinde: menu, música, memorabilia, merchandise e, claro, monumento", explica Marta, ao mesmo tempo que vai indicando cada um dos cinco itens que nos rodeiam: o menu, que esteve na origem de tudo, mantém-se, "com alguns acrescentos e inovações, assim como a qualidade dos ingredientes, da qual não abrimos mão", enquanto a música está presente a todas as horas do dia (de dia, em volume mais baixo, permitindo a circulação de conversas; à noite, aumentam-se os decibéis, dando lugar à dança), tendo beneficiado recentemente de um "upgrade de equipamento".
Já a colecção, não só decora o espaço como marca o espírito de quem chega de visita - "há até mesmo quem percorra os vários HardRock por todo o mundo" para conhecer a colecção roqueira e quem o faça para coleccionar t-shirts ou pins, alguns de edição limitada, como acontece agora com a comemoração dos 40 anos. E aqui entra mais um "m": de merchandise. Por fim, o "m" de monumento: a recuperação do edifício, que respeitou a traça original, marcada por um painel em baixo-relevo, também aproveitou a dinâmica interior do antigo cinema: pormenores como cortinas pretas de cobertura de telas cinematográficas recriam o ambiente marcadamente internacional, mas com um cheirinho luso, ao ter sido recuperada a tradição portuguesa de pintura de azulejo, por exemplo.
"Este edifício era o ideal para construir um Hard Rock", recorda Marta, quer pela sua imponência, quer pela sua localização, entre a Praça dos Restauradores e o início da Avenida da Liberdade, por onde diariamente passam centenas, se não milhares, de turistas. E poucos são os que, passando, não abreviam o passo nem que seja para espreitar. E a maioria não resiste a entrar. Isto porque, conclui Marta, parafraseando um chavão da casa: "Há sempre algo a acontecer no Hard Rock".
Hard Rock Cafe Lisboa
Avenida da Liberdade, 2 1250 144 Lisboa
1150 Lisboa Tel.: 213245280
www.hardrock.com
Horários: Restaurante: 2.ª a dom., 12h00 às 2h00 (cozinha encerra à 1h00) |Loja: 2.ª a dom., 10h00 à 1h00 | Bar: 2.ª a 6.ª, 11h00 às 2h00, sáb., dom. e feriados, 11h00 às 3h00
Preços: uma refeição custa em média €20, sendo que o hambúrguer mais famoso, o Legendary, custa €14,25. Há menu infantil para os mais pequenos por €7,45, sendo que ao fim-de-semana o restaurante tem animação para os mais novos à hora de almoço. Os batidos custam desde €4,95, uma imperial €4,05, cocktails desde €6,20 e whisky (on the rocks) a partir de €6,70.
Não é permitido fumar.
- Nome
- Hard Rock Cafe Lisboa
- Local
- Lisboa, Lisboa, Av. Liberdade, 2
- Telefone
- 213245280
- Horarios
- Todos os dias das 10:00 às 02:00
- Website
- http://www.hardrock.com