Fugas - restaurantes e bares

Porto Novo (Sheraton)

Por David Lopes Ramos ,

Espaço amplo e luminoso, mesas grandes, bem postas e bem equipadas, garrafeira à vista. E com uma oferta grande e criteriosa, incluindo alguns lugares de confecção culinária expostos à curiosidade de quem por eles se interesse.

O Sheraton do Porto é um dos grandes hotéis da cidade. É, aliás, interessante verificar que quase todos os mais modernos e confortáveis hotéis portuenses se localizam na avenida da Boavista ou nas ruas laterais desta artéria que atravessa a cidade de lés a lés, terminando, em frente ao mar, na Foz. Estes hotéis têm ainda a particularidade de possuírem restaurantes de perfil em geral ambicioso. Nenhum, porém, se aproximando da oferta do Porto Palácio (do universo Sonae, empresa proprietária do PÚBLICO), onde, além do restaurante do hotel, há um de cozinha japonesa, outro de culinária italiana, um de inspiração francesa, um outro de pratos "light", seja lá o que isso seja, além de uma cervejaria.

Bem, mas do que hoje se trata é do restaurante Porto Novo, do Sheraton. Embora este seja um pormenor a que não atribuo importância, depois de duas refeições no Porto Novo não assisti a nada que se parecesse com "show cooking".

O que promete mais o Porto Novo? Nas suas próprias palavras, "o melhor da Cozinha Tradicional Portuguesa". Mais concretamente, "os antigos sabores da cozinha em forno de lenha, peixes e mariscos do dia e especialidades internacionais, preparados no nosso rotisseur. Para além dos menus sazonais, o cliente terá à disposição uma selecção diária de sugestões do Chefe". Nada mau como programa, admito. Num jantar solitário, em Fevereiro, e num almoço acompanhado, mais recentemente, foi pelas propostas de cozinha portuguesa que me fiquei.

No jantar, pedi um escabeche de sável como entrada; e, como prato principal, filetes de pescada com arroz de bacalhau. O escabeche apresentou-se perfeito, de tal modo que o peixe ensarilhado de espinhas que é o sável quase as perdera em contacto com o molho de vinagre e citrinos, mais chalotas e cebolas, louro e condimentos em que estagiara após a fritura. Conjunto saborosíssimo.

Quanto aos filetes, pescada fresca, bem cortada em filetes altos, polme fino, fritura competente, muito bem. Como se sabe, filetes de pescada é nos restaurantes do Porto e mais a Norte que se comem os melhores, excepção aos do restaurante lisboeta Pap"açorda, da Rua da Atalaia, que são excelentes. Quanto ao arroz de bacalhau, que estava bem feito, embora o bacalhau fosse um pouco "palhuço", não me parece o acompanhamento mais adequado. O sabor do "fiel amigo", muito intenso, tende a brigar e a anular o da pescada, delicada e branca. É mais feliz, se avalio bem, a companhia do arroz de berbigão, por exemplo.

No almoço, pediram-se da carta sazonal "Essências da Primavera", como entradas, "salsicha de sapateira e vieira com coentros, saladinha de pêra abacate e tomate confit com molho de gaspacho" (12 euros); "canelonis de beringela e cogumelos gratinados no forno a lenha" (10 euros); e "saladinha tépida de feijão frade com molho verde e pastéis de bacalhau caseiros" (9 euros). A salsicha, à primeira vista uma boa ideia, desiludiu por falta de sabor próprio; os canelonis estavam apaladados e bem cozinhados; e a saladinha tépida, salvo o facto de não o ser, pois apresentou-se fria, pecou pelos "pastéis de bacalhau caseiros" (um preciosismo. Caseiros? Para os distinguir dos congelados?!) terem menos bacalhau e mais batata do que seria desejável. Além disso, o bacalhau mostrou-se excessivamente demolhado.

Os pratos foram: "pargo do nosso mar no forno a lenha com presunto bísaro e tomate, batatas a vapor e feijão verde à inglesa" (17 euros), que esteve quase bem. O excesso de sumo de limão reduziu o sabor do pargo ao do citrino; "o franguinho no rotisseur em pasta de leitão, batatinhas alouradas com bacon, folhas do campo e pepino" (14 euros), receita semelhante à bairradina do frango com molho de leitão, valoriza a fragilidade sápida do "poussin" de aviário e o conjunto agradou; finalmente, o "risotto de rúcula e ervas aromáticas, peito de pintada recheado com mexilhões" (17 euros).

O "risotto", parco de manteiga e natas, o que me agrada, bonito na sua cor verde, untuoso no ponto, seria considerado demasiado cozido por um italiano. O peito da pintada, ao contrário do recheio habitual com farinheira, ganhou sabor e algum exotismo com os mexilhões. Parece-me uma associação a explorar. Bebeu-se o branco Giro Sol de 2006 (20 euros), um Loureiro que prova que Dirk Niepoort também sabe desenhar e fazer um bom vinho na região minhota. Para que conste.

As sobremesas provadas foram: o "trio de doces portugueses: sopa dourada, gelado de pão de rala; geleia de frutos silvestres" (8,50 euros), curioso, mas com o gelado a saber sobretudo a baunilha; o "bolo de azeite baunilhado com sauté de laranja e gelado de cheese cake" (7,50 euros), com o gelado a sobrepor-se aos restantes elementos; quanto ao trio de gelados (limão, tangerina e frutos vermelhos, 8,50 euros), ostentaram correcção e chega. O serviço de mesa, vinhos incluídos, a cargo de gente jovem, revelou-se diligente, simpático, informado e capaz.

A impressão que me ficou da cozinha deste Porto Novo é que, apesar das boas intenções, deixa a desejar na criatividade. É uma cozinha de manual, um tanto académica. Correcta, sem dúvida, mas que não desafia nem emociona quem dela desfruta.


Outros pratos
A carta "Essências da Primavera", além de um "couvert" (5 euros), com dois tipos de azeite, um deles com ervas aromáticas secas, e vários bons pães, oferece quatro entradas, uma sopa, seis "pastas & arroz" (irritante esta mania de chamar "pastas" às massas), quatro pratos de peixe e cinco de carne; as sobremesas são nove, incluindo um "prato de queijos nacionais e internacionais com compota caseira e bolachas de água e sal".  Algumas referências: "cabeça de xara em vinagrete de hortelã da ribeira, ovos mexidos com espargos selvagens e saladinha de rúcula" (entrada); "arroz malandrinho de vitela de leite com ervilhas e cenoura e infusão de tomilho e salsa" (pastas & arroz); "bacalhau fresco com crosta de azeitona e salsa frisada, brás de courgetes e molho de alho doce" (peixes); e "secretos de porco bísaro grelhados com pasta de pimentão, esmagada de batata e grelos salteados".

Nome
Porto Novo
Local
Porto, Porto, Rua Tenente Valadim, 146
Telefone
220404000
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 15:00 e das 20:00 às 23:00
Website
http://www.sheratonporto.com
Preço
30€
Cozinha
Trad. Portuguesa
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