Fugas - viagens

Luís Maio

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Montreal - A cidade reanimada

O bairro gira em torno da Place des Arts, onde começou por ser erguida a sala Wilfrid-Pelletier (1963), juntando-se-lhe depois os teatros Maisonneuve e Port-Royal, por ocasião da Expo 67. Formam uma montra eloquente da arquitectura do betão, eleita pelos arquitectos francófonos, por oposição à de vidro e aço que pauta o centro financeiro e simboliza o poder da minoria de origem anglo-escocesa. O Museu de Arte Contemporânea foi inaugurado no início dos anos 90, uma nova sala de concertos está em construção, enquanto as antigas são restauradas. Mesmo nesta condição de estaleiro, a Place des Arts é o coração cultural da cidade, convertendo-se num gigantesco salão de festas por ocasião dos seus principais festivais.

Montreal acolhe anualmente cerca de 90 festivais, da semana da Moda e do Design (Agosto), o maior certame da especialidade na América do Norte, ao original High Lights (Fevereiro), que conjuga arte, luz e gastronomia, passando pelo já consagrado Festival de Jazz ( Julho). À margem destes eventos regulares, a cidade oferece uma média de vinte espectáculos por noite, onde se destacam as temporadas de estreia das companhias locais mais afamadas, como o Cirque du Soleil ou a La La La Human Steps, que depois partem em digressões internacionais.

A maior parte destes espectáculos divide-se entre o Bairro dos Espectáculos e o vizinho Bairro Latino, também ele centrado num importante pólo de equipamentos culturais. Situado no cruzamento do Blv. Maisonneuve e da Rue de Berri, reune um conjunto de salas de teatro e cinema (incluindo a cinemateca provincial), coroado pela Grande Biblioteca dos Arquivos Nacionais do Quebeque, que, com os seus quatro milhões de volumes, é certamente a maior instituição da especialidade.

Latino alternativo

Toda a dinâmica cultural que se testemunha no Bairro Latino está directamente associada à implantação da Universidade do Quebeque em Montreal (UQAM), uma das quatro universidades sediadas na cidade e a maior de língua francesa da província. Criada em 1969 por integração de outras academias, a instituição conta com mais de 45 mil alunos, um influxo de sangue juvenil que veio mudar a fisioniomia do que antes era sobretudo o bairro residencial da burguesia francesa. Agora as suas ruas principais (caso por excelência da St.Denis) estão repletas de lojas de roupa, música e toda a espécie de negócios indie, alternando com comes e bebes dos quatro cantos do mundo.

Um exemplo privilegiado desta cultura da diferença é a Eva B (2013-2015 St.-Laurent), certamente uma das lojas mais insólitas à face do planeta. A montra, que mais parece a de uma casa devoluta, está forrada com letras punk garrafais, que declaram o seguinte: "Compramos todas as tuas roupas logo depois de as escolher (...) de qualquer modo ficas mais gira (0) sem roupa". Lá dentro há milhares de artigos empilhados e suspensos do tecto, desde guarda-roupa vintage a chapéus-de-chuva partidos, passando por sapatilhas de ballet e raquetes de ténis. Também servem refeições ligeiras, cabendo naturalmente o destaque aos enigmáticos "ovos de lésbica".

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