Arte para todos
As visitas guiadas têm lugar todos os dias, incluindo domingos, de manhã e à tarde. Imagino que seja uma prática introduzida na última década ou pouco mais, quando se generalizou em instituições do género, mas um artigo de 1964 da revista New Yorker que descubro mais tarde revela que é quase tão antiga quanto o próprio Lincoln Center, inaugurado em 1962.
Segundo o presidente do Lincoln Center à época, William Schuman, as visitas guiadas seriam uma oportunidade "para as pessoas de todas as partes dos Estados Unidos e do mundo inteiro conhecerem em primeira mão os grandes edifícios que compõem o centro, bem como o conceito do centro e o seu papel no mundo das artes performativas".
A visita dura cerca de uma hora e não é exaustiva. A única outra visitante é uma mulher de Long Island, o que é positivo porque permite fazer várias perguntas.
O ponto de encontro é o recém-inaugurado David Rubenstein Atrium, localizado entre a Broadway e Columbus Avenue (latitude: entre a West 62 e a 63 Street), frente à praça do Lincoln Center. É uma espécie de porta de entrada, com uma bilheteira onde é possível comprar bilhetes para qualquer espectáculo (até agora não existia uma bilheteira que concentrasse toda a programação do centro) e um mega café aberto todos os dias do ano, com jardins verticais, acesso gratuito à Internet, e espectáculos gratuitos todas as quintas-feiras à noite. Muitas pessoas trazem a sua própria refeição e vêm aqui comer, apesar dos preços acessíveis da cafetaria (óptimas sanduíches, óptima sopa).
"É o único sítio em Nova Iorque que pode frequentar no Inverno sem pagar um tostão", diz a nossa guia-bailarina, com um sorriso. Digo a mim mesma que ela parece a cantora americana Joanna Newsom.
E a visita guiada começa. Com um pouco de história: "A construção começou em 1959." "West Side Story foi filmado neste local, antes de existir o Lincoln Center." "O primeiro complexo de artes do mundo que tornou possível ver música, ópera e dança no mesmo sítio." "John Rockefeller acreditava que a arte devia ser para toda a gente e não apenas para os privilegiados." O industrial milionário foi um dos dinamizadores do projecto (e o primeiro presidente do Lincoln Center), juntamente com o urbanista Robert Moses. Mas o que os motivava, acima de tudo, era a ideia de renovar esta zona deprimida do West Side, onde se encontrava um bairro social, acreditando que o Lincoln Center seria uma espécie de íman de uma transformação em grande escala.
Há quem diga que o Lincoln Center nunca seria construído nos dias de hoje por causa de uma mudança de atitudes nos projectos de renovação urbana que obrigam à transferência de bairros inteiros. E também porque as instituições culturais de grandes áreas metropolitanas preferem ter uma identidade própria e ser mais activas numa escala menor, de bairro.
O Lincoln Center congrega 12 instituições, da ópera ao cinema, passando pelo teatro e jazz, e incluindo conservatórios como a Juilliard School ou a School of American Ballet, fundada por George Balanchine. A arquitectura é monumental e, apesar de cada edifício ter sido projectado por um arquitecto diferente, existe uma uniformidade de materiais e formas (o travertino importado de Itália, as colunas), sobretudo nos três teatros que formam a praça principal, em U, com a fonte no centro.