Jameos del Agua Haria, 1966-87
Consta que, em miúdo, Manrique costumava insinuar-se nestas grutas e tomar banho na piscina de água salgada, formada no meio pela infiltração do mar nos tubos de lava (jameos). Em qualquer caso, quando regressou à ilha, as grutas eram uma lixeira improvisada e por cima tinham construído uma vivenda de férias. Do lixo César fez luxo, convertendo os jameos na "mais bonita discoteca do mundo", enquanto a casa era adaptada a museu do vulcanismo. A visita inicia-se pelo Jameo Pequeno, que mais parece uma gigantesca catedral vulcânica com um bar/ restaurante sixties lá dentro.
Desemboca na tal piscina natural escavada no interior do tubo de lava, que se bordeja por um estreito passadiço de 300 metros. Até se atingir o Jameo Grande, ampla gruta a céu aberto dominada por uma elegante piscina de águas turquesas (onde só o Rei se pode banhar). Daí partem sinuosas escadarias para um bar-miradouro rústico-psicadélico, que dá vontade de dançar mesmo sem música de fundo. Um auditório de 600 lugares foi inaugurado na gruta maior, em 1987.
Monumento a la Fecundidad Tajaste, 1968 e Casa Museu del Campesino Tajaste, 1968-1978
Homenagear os camponeses e a sua arquitectura tradicional é o propósito deste conjunto, iniciado em 1968 com a instalação de uma gigantesca escultura, feita de tanques de água, mesmo no centro geográfico da ilha. Ao lado do "Monumento à Fecundidade" veio a ser construída a casa museu que é uma montra da arquitectura popular da ilha, ou melhor, do seu modelo rural definido pelo artista na tese A Arquitectura Desconhecida de Lanzarote (1974): paredes brancas, janelas verdes, pátio interiores e chaminés orientais, arredondadas. O Monumento a la Fecundidad foi, por outro lado, o primeiro de um conjunto de obras de arte pública que Manrique disseminou por toda a ilha, incluindo as figuras estilo cartoons que sinalizam as sete principais atracções turísticas, e os "brinquedos do vento", algures entre a escultura e o corta-vento, que se encontram no aeroporto e em várias rotundas.
Restaurante del Diabo Timinfaya, 1970
Maior atracção natural da ilha, o Parque Nacional de Timanfaya, ou das Montanhas do Fogo, são 51km2 de paisagem lunar, produzida pelas erupções que começaram em 1730 e se prolongaram por seis anos, uma das mais violentas de que há registo na história do vulcanismo.
Para minimizar o impacto da invasão turística, Manrique divisou um roteiro sinalizado e restringiu a visita a excursões de camioneta, tendo por ponto de partida e chegada o Restaurante Del Diablo, que fez construir no promontório do Islote de Hilário. A escolha do local tem razões paisagísticas, mas também teatrais, uma vez que o restaurante foi literalmente construído sobre brasas (segundo um engenhoso sistema de lâminas sobrepostas, que deixam passar o ar, divisado por Jesús Soto), num lugar onde as temperaturas são muito elevadas a fraca profundidade, permitindo inclusive grelhar naturalmente toda a carne servida no estabelecimento.
Mirador del Rio Hárica, 1973 e Castillo San Jose Arrecife, 1974
Outros dois lugares incríveis, ambos equipados com restaurantes-miradouros da autoria de Manrique. No primeiro havia uma bateria de canhões sobre um precipício de 500 metros, no extremo norte da ilha, frente ao arquipélago de Chinijo (Canárias Menores). Cioso de manter intacta a silhueta das colinas de Risco de Famara, Manrique mandou escavar nas entranhas da própria rocha os dois pisos do restaurante, instalando por cima e por baixo miradouros ao ar livre. De fora não se vê nada, depois entra-se num misterioso túnel branco. Quando finalmente se atinge a cortina envidraçada da sala maior, as sensações oscilam entre a incredulidade e a vertigem. Manrique haveria de aplicar uma receita semelhante na intervenção que levou a cabo logo depois, no Castillo San Jose.