Fugas - viagens

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Pelos quatro cantos das neves de Huesca

Candanchú e Astún, as charmosas

Próximo salto: Candanchú, uma pequena estância quase vizinha de Panticosa distam à volta de 20km uma da outra, numa linha recta imaginária, paralela à fronteira com França. Por estrada a conversa é outra: cerca de 70km e mais de uma hora de caminho. Mas não é apenas o alcatrão que as afasta. As formas como são geridas também.

Enquanto Panticosa e Formigal fazem parte do grupo Aramón (que gere ainda Cerler, Javalambre e Valdelinares), Candanchú e Astún, embora funcionem em parceria, nomeadamente com um forfait conjunto, são privadas.

A noite já vai avançada quando começamos a subir a montanha rumo a Candanchú. Flocos minúsculos salpicam a noite de branco quando chegamos à estância da joaninha (seu símbolo natural). "Isto não é nada; aqui quando neva os flocos são grandes" junta as pontas dos dedos de ambas as mãos, deixando um vazio de mais de 5cm de diâmetro "num instante fica tudo branco", diznos um madrileno, residente na Andaluzia, que não passa um ano sem vir a Candanchú. "É familiar, económica e todos são de uma grande simpatia", resume. E, a melhor parte segundo o próprio, "sai-se da estância já equipado e a esquiar".

Mesmo não sendo a neve a que Candanchú está habituada, a perseverança dos pequenos cristais surtiu efeito. O dia seguinte amanhece com toda a estância coberta por um reluzente manto branco. O efeito é imediato. De repente, todos parecem mais optimistas. É assim que funciona num destino em que o sucesso (e lucro) está directamente relacionado com o facto de nevar ou não. Na porta do hotel, uma antecâmara vai servindo de poiso para vários esquiadores se prepararem. "Vemo-nos nas pistas?", pergunta o madrileno da noite anterior, tão ansioso por chegar àquelas que nem espera pela resposta.

Mas não é esse o nosso destino esta manhã. Hoje, a ida fica a uns cinco quilómetros: Astún, outra pequena estância de esquis nos pés, que, dadas as condições geográficas em que se encontra, no fundo de um vale e protegida dos ventos, garante qualidade de neve, isto é, em pó, ao longo de quase toda a temporada. As infra-estruturas pouco ou nada têm a ver com as que conhecemos em Formigal. Em vez de um centro que reúne todos os serviços, as diferentes áreas aluguer de equipamento, sanitários, bares, cantinas e restaurantes dividem-se pela estância. É menos funcional, mas por outro lado cada espaço torna-se mais acolhedor.

Pela meia centena de pistas, em que imperam as intermédias (embora as pistas negras sejam de respeito), vêem-se muitos adeptos de esqui alpino, como um casal português que, vindo de carro do Norte do país, explica que esta é a melhor estância mais próxima.

Mas não só. Há gente a passear de raquetes com um cão a correr alegremente ao seu lado, grupos de esqui de fundo, muitos miúdos de escola a aprender a dominar as pranchas de esqui e ainda snowboarders, embora poucos.

"A moda passou", explica Joni, o nosso instrutor (ver caixa) e guia na altura de subir ao pico mais gelado da estação: La Raca, a 2300m, e qualquer coisa como uns vinte e poucos graus negativos. Aqui, até os pulmões parecem ressentir-se do ar gelado que consomem. Mas a vista compensa qualquer pequeno desconforto. Lá em baixo, Astún parece ainda mais pequena e nas nossas costas abraçam-nos os imponentes picos que apenas um dia antes nos tinham acolhido em Formigal.

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