Fugas - viagens

Paulo Pimenta

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Uma mata de árvores, monges escondidos e mistérios insondáveis

Durante o passeio, ficará a conhecer o cedro mais famoso do Buçaco e aquele que deverá ser o mais antigo de Portugal: ergue-se junto à ermida de São José, inaugurada em 1644, e deverá ter sido plantado também em meados do século XVII.

Jerusalém bíblica

Luís Jordão chama-nos também a atenção para a oliveira de Wellington: "O duque passou por cá na altura da batalha do Buçaco, talvez tenha atracado aqui o cavalo.", conta. Durante a manhã o passeio só terminou por volta da hora do almoço -, andámos ainda pela Alameda dos Cedros, "que os monges tanto apreciavam", e pelo Vale dos Fetos, que lembra um cenário "pré-histórico". Pelo meio, vimos o castanheiro, "uma das árvores mais bonitas desta mata", o pinheiro-negro, o eucalipto gigante. Assunção Ataíde é uma das visitantes que nesta manhã calçou as sapatilhas e se meteu a caminho. Apesar de já conhecer a mata, quando soube que haveria passeios com guias nem hesitou: "Passear com o Luís Jordão [que já conhecia de outras iniciativas] é um privilégio. Sou fã das visitas guiadas, as coisas têm outro sentido", explica.

Apostar nestas caminhadas é um dos projectos da Fundação.

Nascida há cerca de um ano, tem como missão dar uma nova vida à mata, que esteve durante muitos anos "sem gestão" e em relativo abandono. Mas há mais ideias, que passam, por exemplo, por transformar casas florestais em unidades de alojamento e criar percursos com guias multimédia e trilhos sinalizados.

O trilho da água; o da natureza; o militar; o da via-sacra; e o da floresta relíquia são os cinco percursos que a Fundação pretende dinamizar: "Queremos recuperá-los, limpar, recuperar caleiras, repor paralelepípedos que desapareceram", diz a coordenadora de projectos da Fundação, Luísa Ramos. A acompanhar estes trilhos haverá um desdobrável com a história da mata e um mapa, onde estarão assinalados os pontos de interesse.

Está também previsto, para 23 de Fevereiro, o lançamento do site da Fundação -www.fmb.pt -com toda a informação acerca dos projectos em curso: "Temos muitas actividades. É o ano internacional das florestas, o ano europeu do voluntariado, o ano europeu do morcego. Vamos ter visitas nocturnas, temos aqui pelo menos 16 espécies de morcegos", frisa a responsável. Nestes projectos, está também incluído o restauro de todo o património edificado da mata o convento, as capelas, as ermidas, as fontes, os cruzeiros, numa iniciativa da Universidade de Aveiro em parceria com a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva.

Luísa Ramos admite que naquela mata se cruzam diferentes elementos e que é difícil separá-los: a componente espiritual e religiosa está intimamente ligada à artística e arquitectónica e, ainda, à natureza.

Os frades "tinham um conceito holístico, entre arquitectura e natureza", diz. Para ajudar os visitantes a explorarem todo o simbolismo e história da mata, vai abrir, no final do próximo ano, um centro interpretativo.

É uma forma de dar a conhecer o "singular significado" do conjunto arquitectónico e paisagístico da mata, como escreve Paulo Varela Gomes no livro Buçaco, o deserto dos Carmelitas Descalços. Segundo o historiador, "o convento, as ermidas e os pequenos edifícios dispersos pela mata formam um dos mais vastos e originais conjuntos arquitectónicos desde sempre erguidos pela ordem monástica dos Carmelitas Descalços". Apesar de terem construído outros semelhantes na Europa e na América Latina, o do Buçaco destaca-se, sendo "aquele que apresenta maior valor arquitectónico".

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