Fugas - viagens

Continuação: página 2 de 3

A cavalgar pela Azambuja: "Há sempre um elo que se cria com o cavalo ao longo do caminho"

Desmontamos esta égua que, talvez até com a sensação de missão cumprida, regressa às pastagens. Já nós seguimos para outras paragens, em busca do descanso merecido.

Do cavalo ao vinho

A Primavera parece ter alinhado numa qualquer greve e o cinza substitui lentamente os raios de sol do início manhã. É por isso em ambiente bucólico que chegamos à Quinta de Vale de Fornos, propriedade cuja história se cruza com a de Dona Antónia Ferreira. A lendária Ferreirinha ofereceu-a, assim como a casa senhorial do século XVIII que a enaltece, à filha, quando esta casou com o 3.º conde da Azambuja.

A cor tijolo das paredes das casas contrasta com os verdes fortes. A quinta foi entretanto comprada por um casal e trazida de novo à ribalta pela dedicação e energia inabalável de Graciete Monteiro, que, apesar dos seus já muitos anos, não tem planos de parar ou acalmar o ritmo.

Hoje, a Quinta de Vale de Fornos afirma-se na produção de vinhos - a produção ultrapassa os 200 mil litros/ano e a adega tem uma capacidade total de vinificação e armazenagem de 450 mil litros - e na recepção e organização de eventos. Mas é no turismo que está o futuro desta propriedade de vinhas a perder de vista e de orquestras protagonizadas por bandos de pássaros que encontram aqui o néctar mais doce das uvas.

Para isso, está a ser desenvolvido um museu ligado à enologia, assim como está prevista a requalificação da propriedade de forma a albergar uma unidade hoteleira. Mas, para já, a romântica quinta oferece uma viagem pela história dos vinhos e pelos aromas que neles moram (bons e maus - os nossos narizes provaram de tudo: de fragrância de morango a odor de cavalo).

É na companhia de Hernâni Magalhães, enólogo responsável pelos vinhos que saem daqui, que partimos à descoberta do que esconde uma garrafa de vinho: da vinha à garrafeira, passando pela fermentação e pelos estágios. A aula desagua na prova: primeiro com o olhar, depois com o nariz e só no fim com todos os nervos da boca. Destrinça-se assim o néctar e prepara-se os sentidos para outras viagens.

Água térrea

Embora não seja um destino turístico óbvio para muitos, a Azambuja tem no seu cartão-de-visita, além de outras mais-valias, a unicidade da Rota dos Mouchões. É por ela que a riqueza e diversidade da região se evidenciam. Saltamos por isso para o varino Vala Real, uma antiga embarcação apropriada para cruzar as baixas águas desta zona do rio, cujo colorido contrasta com a tonalidade da água térrea.

O barulho do motor deste Vala Real não chega para abafar o som da água a ser rasgada. É com esta música de fundo que nos deixamos relaxar. A calma só é interrompida quando algum dos ultraleves, provenientes da Escola de Voo - Quinta do Alqueidão, cruza os ares, com mais ou menos manobras artísticas. Nada que nos distraia de onde estamos, no rio que faz de fronteira natural da região: de um lado, as margens surgem-nos selvagens, impondo verdadeiros matagais que parecem proteger quem quer que se queira aproximar das pequenas penínsulas que protegem; do outro, avista-se uma vegetação ordenada e enfeitada por árvores altas e esguias.

--%>