Fugas - viagens

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  • Lisboa, Till Lassmann
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    Ricardo Cabral, Hamburgo
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  • Projecto Comic Transfer: Reinhard Kleist, Itália, Piazza Garrafello, Vucciria
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  • Projecto Comic Transfer: Nicolas Wild, Beirute (Jardim da Universidade Americana)
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    Projecto Comic Transfer: Nicolas Wild, Beirute
  • O mapa do Projecto Comic Transfer
    O mapa do Projecto Comic Transfer

Desenha-me a minha cidade, passo a passo

Por Liliana Borges

Andam sempre prontos a desenhar. São "urban sketchers" e captam as cidades linha a linha. Um projecto internacional está a levar desenhadores a visitar vários pontos da Europa (e não só) e nós acompanhámos um destes artistas em passeio por Lisboa, depois de passagem pelo Porto. Enquanto isso, o português Ricardo Cabral desenhou pela Alemanha e outros desenhadores viajaram por Barcelona, Paris ou Beirute.

Registam momentos, pessoas, edifícios, ruas e pormenores arquitectónicos e transformam-nos em verdadeiros diários da cidade, sob a forma de grafismos, seja num pedaço de guardanapo ou em  cadernos. Não têm regras rígidas nem técnicas específicas. Aliás, a única regra é desenhar sem preocupações de traços perfeitos, sem medo de não saber desenhar.

O objectivo é registar a paisagem como os nossos olhos a vêem e as nossas mãos a desenham. E o jeito? "Ganha-se com a prática e observando os outros a desenhar", garante Till Lassmann, um ilustrador alemão convidado a participar no Comic Transfer, projecto organizado pelos institutos alemães Goethe sediados em Portugal, Espanha, França, Itália e Bélgica. O projecto desafia artistas de vários países a descobrir uma cidade estrangeira e a partilharem as suas impressões num blogue e com artistas da cidade que estão a visitar.

A Cidade Vista Pelos Teus Olhos dá o mote a este intercâmbio unido pela banda desenhada, que congrega artistas portugueses, espanhóis, francesas, belgas, alemães e libaneses. Para acompanhar o artista alemão, que trabalha também a ilustrar festas de casamento e de empresas, dentro e fora da Alemanha, a sede portuguesa do instituto Goethe, em Lisboa, convidou Ricardo Cabral, autor dos livros Evereste, Israel Sketchbook, Newborn - 10 dias no Kosovo, Pontas Soltas-Cidades e de ilustrações de livros e marcas nacionais, tendo já colaborado com vários jornais e revistas portuguesas.


Dois artistas, dois pontos de vista

Depois de Ricardo ter estado duas semanas em Berlim e em Hamburgo, terra natal de Till, coube ao ilustrador alemão vir a Portugal conhecer duas das cidades mais admiradas pela sua arquitectura e beleza histórica: Porto e Lisboa.

E é em Lisboa que os acompanhamos, numa sessão de desenho pela zona do Jardim do Torel e do Campo Mártires da Pátria. O dia, que se previa chuvoso, acabou por se revelar complacente com o grupo heterogéneo de apaixonados por ilustração que se juntou ao passeio, num pequeno workshop de diário gráfico.

A primeira paragem é a fonte junto à entrada do Jardim do Torel. Um a um, todos se colocam no contorno da fonte e durante cinco minutos - nem mais, nem menos - desenham a estátua de um corpo feminino no centro da fonte, da autoria de Viana da Mota. Repetem o processo, duas vezes, também em cinco minutos, deslocando-se em círculo para diferentes posições e perspectivas.

Descemos até ao miradouro do Torel. À nossa esquerda, a Avenida da Liberdade, à nossa frente o próximo desafio: desenhar a paisagem em conjunto, dividindo o horizonte em linhas verticais, partilhadas e completadas pela caneta ao lado. As cores dos prédios vistas de uma das sete colinas lisboetas começam a dar cor aos cadernos de duas raparigas, estudantes do 1.º ano na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. As aguarelas, mesmo em cores suaves, aquecem o branco. Ricardo Cabral prefere tirar fotografias aos espaços que delineia e colorir os desenhos depois. Till diz que costuma pintar no momento que segue o esboço, mas depois de ter desenhado com Ricardo pensa adoptar também o seu método.

Um quarto de hora depois mudamos de paisagem. E de desafio. De frente para a Avenida da Liberdade, e ainda no miradouro, mede-se o horizonte com os dedos. Vamos percebendo que Till é fã desta forma de desenho colectivo, que tem como resultado final uma obra que se distingue na singularidade que cada artista coloca no papel.

Enquanto isso, Ricardo vai aproveitando para desenhar os urban sketchers. Para escolher o que vai desenhar, Ricardo elege os sítios onde se sente mais confortável: "Se há sol, é onde há sombra; se chove é onde há abrigo", explica, acrescentando que, depois, "é claro que há a questão do contexto, se o edifício é novo ou velho ou tem alguma história". Um dos locais mais escolhidos para completar os diários gráficos são os cafés, que têm, como destaca Till, a particularidade de ser o café em si mesmo uma "tinta" para o desenho. Enquanto espera pelo seu, Till desenha os caracóis de uma rapariga que ali pára. O café chega e ele mergulha o dedo na chávena, deixando que o líquido pinte os caracóis castanhos. "Perfeito", legenda.

Numa pausa, sem largar a caneta, conta como foi visitar o Porto, "uma cidade linda mas com muitos edifícios abandonados". Na Invicta, foi a obra do italiano Nicolau Nasoni que lhe "roubou" mais tempo. Os 75 metros de pormenores, próprios do estilo barroco, que acompanham a Torre dos Clérigos demoraram 45 minutos a serem transpostos para o papel. "Já estava a começar a ficar aborrecido", confessa Till Lassmann.

"Apenas dedico a um desenho o tempo que quero dedicar, quando começo a ficar farto paro", explica, acrescentando que desenha porque se diverte. E isso nota-se. Till mantém um sorriso sereno enquanto contempla a paisagem e deixa que algo lhe conquiste a atenção. Não demora mais do que fracções de segundos a olhar para o objecto que reproduz e alterna rapidamente o olhar entre ele e o papel no qual esboça. Enquanto o faz, pergunta "Estão a divertir-se?", e, perante as respostas afirmativas que acompanham um novo traço no papel, retoma o trabalho, sorrindo.

Somos convidados a participar, improvisando um espaço para desenhar num bloco de notas, por sorte de folhas lisas. O mais difícil é começar, escolher o primeiro traço e colocá-lo no papel, mas arriscamos - sai-nos ao lado. É então que surge Till. "Posso?", pergunta, enquanto estende a mão para o bloco. Em menos de cinco segundos, em traços rápidos e imperfeitos, desenha as sombras principais do edifício e devolve o bloco.

O desenho surge agora de uma forma natural, que aqui não precisa de se preocupar com linhas direitas ou janelas perfeitas. "Fazer demasiado é matar o desenho", afirma o artista alemão. "O segredo está em não o acabar, fazer apenas o suficiente", acrescenta, sublinhando aquela que é uma opinião transversal aos participantes, que acenam com a cabeça. "Às vezes, quando tentamos desenhar de mais um objecto, acabamos por estragar todo o trabalho", defende uma das estudantes de Belas Artes.

No final do dia restam desenhos, muitos desenhos, um olhar mais atento e uma mão mais livre. O resultado de alguns dos trabalhos dos artistas convidados para o projecto está em exposição no Instituto Goethe até dia 16 de Novembro.

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