Fugas - viagens

  • Miguel Manso
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Quem tem medo de sobreviver no mato?


De faca na liga

O grupo é pequeno. E não demorará a tornar-se coeso. Além da Fugas, membros da organização — todos com um passado (e presente) de escutismo, que acabariam por criar a Escola do Mato para levar mais além as experiências dos escuteiros na natureza —, uma repetente nestas lides e ainda uma família que inclui pai, mãe e dois filhos, um de 13 e outro de nove anos. “Nós é que viemos com eles”, conta, divertida, a mãe. Foi do filho mais velho que partiu a iniciativa e foi ele que combinou tudo com a escola — “até regateei preços”. Certo é que só o rapaz de 13 anos dormiria num abrigo. Os pais, sempre animados em todas as actividades, acabariam por trocar uma cama de folhas por um colchão montado no carro. O mais novo ainda adormeceria enfiado num saco-cama, dentro de uma lona, mas seria pouco depois carregado para dentro da viatura.

À medida que os pingos de chuva vão intercalando com uns tímidos raios de sol, juntamo-nos para aprender como usar a ferramenta principal para as horas que se avizinham: uma faca. Mas esqueçam-se os Rambos e guarde-se já os facalhões de mato. O que se pretende é uma faca sólida e fácil de manusear. “As melhores nem são as mais caras”, faz questão de sublinhar Pedro Alves, nosso formador. Como pegar em segurança, que inclinação manter para conseguir um corte limpo, como transportar. Parece tudo saído do senso comum, mas nem sempre o mais comum carrega bom senso e o lema por aqui, no que toca a acidentes, é “evitá-los”. “O mais perigoso é ter uma lâmina mal afiada”. Embora as passagens de testemunho também possam dar origem a situações indesejadas. Porém, no que diz respeito às facas, a regra é de ouro: “Não se emprestam.”

Com a compreensão dos segredos da lâmina, o domínio da mesma chega pela prática. E neste curso as aulas práticas têm mesmo um sentido útil. Como neste caso: criar o espeto que nos servirá para grelhar o peixe do almoço. Primeiro não pode ser de uma madeira qualquer. Tem de ser uma madeira de difícil combustão. Depois, deve ser limpa e deixada bem fininha, de forma a não desfazer o almoço ainda antes de este chegar às brasas. Mas, antes, arranjar o peixe apenas com a faca como assistente. Cortar, limpar, descamar. E, depois, esperar que o lume cumpra a sua missão, sem nunca desviar os olhos. Não é a maneira mais rápida de saciar a fome, mas o repasto que se segue vale a pena. Além do mais, como alguém lembra, “a fome é o melhor tempero”.

O mesmo se passaria em qualquer outra refeição, com um agravamento. Se nesta primeira encontrámos a fogueira já a arder, nas seguintes teríamos de tratar dela antes de tudo o resto. Como no pequeno-almoço — leite, café e bannock, isto é, um pãozinho, abrilhantado por passas e umas gotinhas de aguardente, amassado ali mesmo e cozinhado no fogo — que seria degustado cerca de uma hora após o acordar e depois de muitos galhinhos partidos, troncos serrados e ninhos de palha soprados. Fazer fogo foi para muitos a maior provação — e frustração. Porém, com o auxílio de um firesteel (embora várias outras técnicas tenham sido trabalhadas), ninguém saiu do mato com a sensação de dever por cumprir.

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