Fugas - viagens

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Quem tem medo de sobreviver no mato?

Por Carla B. Ribeiro

Afastados da civilização e de faca afiada à cintura. É desta forma que abrimos o espírito à aprendizagem das artes do mato. Bushcraft, dizem eles.

Quando marcámos a data ainda não havia possibilidade de aceder às previsões meteorológicas para o fim-de-semana em que participaríamos num Curso de Bushcraft, actividade que tem vindo a crescer um pouco por todo o mundo, e também por cá, mas sobre a qual até então, admita-se, tínhamos conhecimento zero. Apenas o que nos indicava o folheto: “arte de prosperar no mato”, expressão que, obviamente, logo nos aguçou o instinto de sobrevivência.

Nada como estar bem informado — portanto, primeira medida de segurança, pesquisar logo tudo o que for possível sobre o bushcraft. Depressa percebemos que esta actividade pretende fornecer ferramentas para que se tire o maior partido possível da vida na natureza e que o facto de andar a ser muito falada nos últimos tempos se deve muito aos programas televisivos do britânico Ray Mears sobre técnicas de sobrevivência — primeiro com o selo da BBC, mais recentemente com a ITV.

Um pouco mais preparados, mas ainda com conhecimento pela rama, é com um certo arrepio que começamos a compreender melhor o espírito do desafio a que nos autopropusemos quando recebemos o mail seguinte. Assunto: “Programa de campo”. Assim, ficamos a saber que nos será dada “uma visão sobre o equipamento essencial do bushcraft” (o que inclui o uso ferramentas de corte, como faca, machado, serras ou catanas), que se aprenderá a tratar água (“adquirir, filtrar, purificar”) e a produzir fogo (a partir de “feather sticks, cedro, salgueiro, espruce, borracha”.  E mais aprendemos neste minimanual que passaremos a ser capazes de “construir um abrigo” (com direito a pernoitar no mesmo, portanto é bom que fique bem feito...) e a “preparar um animal vivo”.

Já a lista de coisas a levar não é menos reveladora: “mochila, saco cama e colchonete, kit de primeiros socorros, faca de lâmina fixa, pedra de afiar, 10m de fio de pára-quedas, machado, serra desdobrável ou de arco, isqueiro e firesteel”…

Chega por fim o dia combinado e, já se estava mesmo a ver, chove. Que melhor cenário para aprender a sobreviver que debaixo de chuva? Chove a um ritmo certinho quando, de mochila (muito) pesada às costas e várias camadas de roupa em cima, nos encontramos, no centro de Vila Nogueira de Azeitão, com o grupo de pessoas que, nas próximas 36 horas, serão os nossos melhores amigos. A despedida da civilização não poderia ser mais doce, embalada por uma das famosas tortas regionais.

Já a chegada ao local que passamos a chamar lar é mais enlameada. A parcos metros da estrada, e com a imponência da serra da Arrábida a montar guarda, chegamos ao acampamento no Parque Ambiental do Alambre: uma lona estendida a servir de resguardo a uma mesa, outra já com a missão de servir de abrigo a alguém, um círculo formado a partir de troncos com uma fogueira no meio. Survival? Sim. À nossa volta todo o verde da Arrábida que, por esta altura, nos brinda com uns doces e aguerridos medronhos. Afastada uns 20 metros do sítio onde estamos, uma estrutura a céu aberto que inclui casas de banho (com duches, embora de água fria), um tanque e lava-loiças. A sobrevivência pode ser uma arte, mas a presença desta estrutura torna-se reconfortante para quem ainda não sabe nada sobre como sobreviver longe dos apetrechos que se acumulam à nossa volta no dia-a-dia.

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