Fugas - viagens

  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos

Continuação: página 2 de 3

Alguém pediu um Porto à medida?

Um pouco mais abaixo, Ali, indiano há 12 anos em Portugal, não se queixa. A sua mercearia, comprida, está a abarrotar de produtos e de cheiros intensos. A vizinhança é boa cliente mas não dos produtos que lhe dão identidade — coisas como pimenta África, gengibre, piri-piri, malagueta (“trinca trinca passa”, brinca) e até os quiabos são procurados, sobretudo, por “quem vem de fora”.

Mesmo em frente, a venerável Ordem do Terço surge numa esquina por onde se espreita o teatro São João. A fachada de azulejos azuis e brancos prolonga-se para a igreja, onde se encaixa em remates de cantaria e é memória viva da devoção destas gentes à Nossa Senhora do Terço, como recorda Joana. Afinal, a igreja foi construída (1759) para dar uma casa aos moradores que todas as noites se juntavam para rezar o terço.

Agora a igreja está fechada, mas multidões continuam a chegar à Casa Crocodilo (o dito embalsamado no tecto) em busca de produtos de cabedal e arranjos: fala-se dos reboques devido ao muito movimento; no Manuel Sapateiro, bota vermelha de cano altíssimo à porta, “para chamar a atenção”, fala-se de crise: “Só me trazem sapatos dos chineses para colar.” Às 17h, diz Manuel, já não se vê ninguém na rua, isto desde que a Rádio Popular foi embora, e depois os chineses. Já são poucos os que permanecem na rua e na zona, substituídos que foram por paquistaneses, indianos, marroquinos.

Porta sim, porta não, o negócio agora tem rostos de todo o mundo: em poucas centenas de metros, o Porto multicultural desvenda-se em lojas de roupas e de brinquedos, de marroquinaria e de acessórios de telemóveis, calculadoras e outras electrónicas, de pedras para colares. Para cima, os edifícios pintam-se de tinta descascada ou azulejos a cair, são habitações: pequenas parabólicas, bandeiras nacionais, roupa a secar; alguns estão abandonados, poucos recuperados.

Recuperada está a fonte (de 1852) no pequeno largo que se abre quando a Rua de Cimo de Vila se encontra com a Rua do Cativo e isso vê-se no novíssimo granito claro, ainda com marcas do antigo urinol que funcionou até há poucos anos. Aqui está o antigo Paço da Marquesa (de Abrantes), azulejos castanhos e verdes, agora dividido em vários estabelecimentos no rés-do-chão e, aparentemente, desocupado no andar nobre. No insuspeito número 23A, fazem taças, troféus, medalhas, e na cave guardam-se vestígios dos estábulos originais da casa, do final do século XV: lá está a rampa de pedra e as vigas, agora a enquadrar um armazém.

Do outro lado da rua, a Adega Alfredo Portista apareceu recentemente na televisão, dizem-nos, na apresentação do Grupo de Amigos das Adegas e Tascos do Porto. Hoje, o senhor Alfredo não está; estão o filho, Paulo, por detrás do balcão, e a mulher, Conceição, na cozinha. É meio da tarde mas há quem coma bacalhau; no mostruário alinham-se panados, rojões, filetes, rissóis. Como santuário portista que é, o azul e branco fazem a decoração, porém, Vítor Ventura, frequentador de há muito, assegura que todos são bem-vindos, independentemente “do clube e da política”.

--%>