A estrada duriense é, contudo, bastante interessante em toda a extensão distinguida pela Avis. Desde o seu início, em frente a Peso da Régua, passando por baixo das duas pontes que ligam a cidade a Lamego (a mais antiga, na Estrada Nacional 2, e o viaduto da A24), a via tem uma relação de privilégio com o rio, que se pode olhar com segurança e à vontade, dado a suavidade da primeira fase do trajecto. A partir de Folgosa do Douro a estrada ganha outro interesse, contornando a longa deriva que o Douro faz para Norte pouco depois. Depois de se cruzar a ponte sobre o Rio Távora, a viagem torna-se mais entusiasmante. Uma primeira curva apertada, um desnível do terreno mais acentuado, em subida, e aumentando o número de curvas, em graus de dificuldade elevada, que atingem o seu ponto máximo na fase final, mais próxima da ponte sobre o rio Torto. É aí que se toma o cruzamento para o Pinhão – vila à qual o acesso é já feito pela N323. Ao longo de todo o percurso, de um e outro lado do rio, os logotipos e nomes das marcas de vinho que produzem no Douro vão-se sucedendo, lembrando-nos do que se faz aquele vale.
Habituado, desde pequeno, a esta dança do automóvel entre os socalcos da vinha e a margem do rio Douro, o piloto Luís Lacerda sente-se à vontade no caminho. “Não fiquei nada surpreendido com esta escolha. Há aqui pedaços que são realmente bons”, explica. E conta que, em tempos, “até já tinha pensado que pudesse haver ralis aqui”. Todavia, é fácil perceber por que nunca aconteceu uma competição automóvel aqui. Afinal de contas, esta é a única ligação rodoviária entre a Régua e o Pinhão e é uma estrada que mantém uma utilização muito regular no dia-a-dia.
Esse é, aliás, uma das desvantagens da N222, que impede uma experiência de condução perfeita. O movimento de veículos, entre ligeiros e camiões, é intenso durante o dia. “Quando for a época das vindimas, com os camiões do vinho aqui a passarem, pode complicar um bocado”, avisa Lacerda. Os outros grandes obstáculos na via entre Régua e Pinhão são a fraca visibilidade de algumas curvas e a estreiteza da ponta sobre o rio Távora, que impõe contenção à velocidade. À parte destas dificuldades, o percurso de 27 quilómetros faz-se com prazer, de volante na mão e olhos no Douro.
Nos EUA, na segunda "melhor estrada do mundo"
Um longo namoro com o Pacífico
São Francisco já tinha ficado para trás há quase 200 quilómetros, quando parámos um pouco antes da Bixby Creek Bridge. Era obrigatório fazer a fotografia da praxe junto a um dos pedaços mais icónicos de Big Sur. O arco perfeito em betão armado daquela ponte está em selos, postais, livros e filmes. Agora também ficava no rolo da câmara analógica e no cartão da máquina digital.
O sol começava a baixar, mas ainda faltava uma hora para que se pusesse no Oceano Pacífico. Lá em baixo – muitos metros lá em baixo – uma praia quase inacessível era praticamente toda inundada pelo mar. E os viajantes como nós inclinavam-se para tentar perceber melhor a paisagem de chorões e terra árida com que se desenha toda aquela zona da costa oeste dos EUA.