Fugas - vinhos

  • Nelson Garrido
  • Blandy Madeira Bual 1920
    Blandy Madeira Bual 1920
  • Dow’s 80
    Dow’s 80
  • Pêra Manca 2009 Branco
    Pêra Manca 2009 Branco
  • Periquita Superyor 2008
    Periquita Superyor 2008
  • Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2009
    Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2009
  • Quinta do Noval Tinto 2008
    Quinta do Noval Tinto 2008
  • Casa Ferreirinha Reserva Especial 2003
    Casa Ferreirinha Reserva Especial 2003

Os 40 vinhos que melhores memórias nos deixaram em 2011

Por Pedro Garcias e Manuel Carvalho

Não é um top dos melhores vinhos, nem tão-pouco um ranking baseado nas pontuações atribuídas ao longo de 2011. Atribuir uma nota a um vinho já é, por si, um exercício discutível. Da mesma maneira que não há bons vinhos, mas sim boas garrafas de vinho, também a impressão sensorial depende do gosto do provador e do momento da prova.

Provar um vinho em solitário, quase mecanicamente, não é a mesma coisa do que prová-lo com comida e na companhia de bons amigos. Pequenos defeitos ou virtudes detectáveis em prova técnica podem passar despercebidos num momento de degustação mais informal. E um vinho que começou por nos passar ao lado pode vir a causar-nos grande impacto num outro contexto. Não precisamos, nem é correcto, seguir à risca o lema de uma distribuidora brasileira, segundo o qual "o melhor vinho do mundo é o vinho que você gosta". Pode servir para alguns vinhos, mas não para todos. O gosto educa-se e o que é hoje "o nosso melhor vinho do mundo" pode ser, no futuro, algo insuportável.

Também não é boa ideia basear as nossas opções nos preços dos vinhos. Na maioria dos casos, os preços são um indicador seguro de qualidade. Mas muitas vezes estão desajustados face ao valor intrínseco de cada vinho. Um vinho de 100 euros pode ser melhor do que um vinho de 10 euros. Porém, se colocarmos em equação a relação entre o preço e a qualidade do vinho, o mais barato pode levar vantagem. O que importa, na verdade, é a emoção que determinado vinho nos provoca. Não o seu preço ou a sua marca, embora muitas vezes estejamos a comprar a história do vinho e não propriamente a bebida. Um vinho com uma grande história por trás tem mais valor que um vinho de criação recente ou de fraca narrativa. Mas, no final, o que prevalece mesmo é a memória gustativa, a marca indelével que o vinho deixou gravada.

Foi esse o nosso critério: seleccionar os vinhos provados ao longo de 2011 que melhores memórias nos deixaram. E restringimos a selecção aos vinhos provados para a Fugas ou em apresentações de que demos notícia, ordenando-os pelo ano de colheita. Destacamos 40, mas podiam ser muitos mais.


40 bons vinhos de 2011


A.A. Ferreira Porto Vintage 1815

O mais antigo vinho do Porto existente nas caves da Ferreira. Dentro de três anos, terá dois séculos de vida. Mesmo para um vinho do Porto, é uma idade formidável. E o melhor é que ainda tem muita vida pela frente. Dona Antónia tinha apenas quatro anos quando o vinho foi produzido pela família Ferreira. Herdou e guardou-o para as gerações seguintes. Em Inglaterra, esta colheita foi baptizada de "Waterloo Port", porque coincidiu com a famosa batalha de Waterloo, que colocou fim ao império de Napoleão. Raro e singular. P.G

A.A. Ferreira Porto Vintage 1830
Glorioso. É possível que este vinho tenha levado uma boa quantidade de uvas brancas, dada a sua excelente acidez. O aroma, efusivo, é muito mercado pelos frutos secos. Na boca, é bastante apimentado e revela uma secura admirável. Um vinho que parece eterno. P.G

A.A. Ferreira Porto Vintage 1834
Na magnífica prova dos 200 anos do nascimento de D. Antónia Adelaide Ferreira é impossível esquecer qualquer um dos vinhos escolhidos. Estão todos entre o soberbo e o magnífico. Além das outras escolhas aqui apresentadas, há um quarto vinho que merece referência especial: o 1834. Um exemplo perfeito dos efeitos da garrafa. Aromas muito complexos, intensos e distintivos, mesmo dentro da ampla gama de sensações abertas pelos grandes vintage com décadas de envelhecimento. Corpo ainda denso, com um vinagrinho em perfeito equilíbrio com a doçura remanescente, permite uma prova fulgurante e com um longo final de boca. Um vintage ainda pujante e cheio de personalidade. Parece eterno. MC

A.A. Ferreira Porto Vintage 1851
Ao fim de tanto tempo, este 1851 continua vivíssimo, com um aroma distinto e algo picante, onde sobressai algum vinagrinho e gengibre, a par de frutos secos e iodo. É um vinho muito original e exótico também na boca, com notas de rebuçado de café e mais ainda de gengibre, que proporcionam um final intenso e vivo. Extraordinário. P.G

Niepoort Colheita 1863
Um vinho produzido antes da chegada da filoxera ao Douro. É um Porto que até pela idade mostra algumas semelhanças com os Madeira velhos, apesar de ser menos salgado. Já tem quase um século e meio de vida e ainda parece ter outro tanto pela frente. Menos doce do que os Tawny antigos, é um vinho viscoso mas de grande elegância, subtileza e austeridade, cheio de notas quentes (frutos secos, torrefacção, cacau) e com um final fresco e interminável. P.G

Blandy Madeira Sercial 1910
Os Sercial (o equivalente à casta Esgana-Cão de Bucellas e do Douro) são os vinhos Madeira mais difíceis, pela sua secura e, acima de tudo, acidez brutal. São tão ácidos que lhes chamam os "quebra dentes". Este Sercial 1910 é o expoente máximo da casta. Passou 74 anos em casco. Muito químico (iodo, acetona) e especiado, alia elementos sensoriais mais quentes a outros mais frescos e ácidos, o que lhe dá um equilíbrio e expressividade notáveis. P.G

Blandy Madeira Bual 1920
Um dos melhores vinhos Madeira de sempre. Tem o melhor do bouquet (iodo, torrados, tabaco, especiarias, brandy, frutos cristalizados) e do sabor ( salgado, químico, melaço, passas, frutos secos e cristalizados) característicos dos Madeira. E tudo num registo expressivo e elegante. É um vinho quase metafísico, ideal para delírios poéticos. P.G

Real Companhia Velha Grandjó 1925
Quem imaginaria que o branco Grandjó de 1925 pudesse durar até aos nossos dias? Chegou, está magnífico e não morrerá tão cedo. Não é um vinho doce muito concentrado, como a sua idade faria supor. É até algo seco. Depois da garrafa aberta, o aroma não pára de evoluir, começando com evocações mais florais, de chá, para fazer sobressair depois a fruta exótica. Na boca está ainda vivíssimo, com uma acidez tocante e vibrante que o faz perdurar durante muito tempo no palato e na memória. P.G

Real Companhia Velha Grandjó 1955
Está mais concentrado do que o 1925, denotando toques frutados um pouco mais tropicais. A frescura de boca é igualmente admirável.  Extraordinário.  P.G

Taylor`s Porto Vintage 1948
Um Porto Vintage do pós-guerra que parece viver uma juventude eterna. Simplesmente soberbo. P.G

Quinta do Noval Vintage Nacional 1963
Não são necessários descritores para este vinho mítico, mas podemos dizer tudo que não erramos: sedutoramente doce, picante, mentolado, poderoso na acidez e estrutura de taninos, perfeito no equilíbrio, enorme, intenso, completo. A quintessência de um Porto vintage. P.G

Quinta do Noval Porto Colheita 1964
Este tawny parece que explode na boca, de tão picante e voluptuoso. Pura magia. Um vinho sublime. P.G

Dow´s 80
Quem comprou Dow´s Vintage 1980 na época em que esta categoria ainda era minimamente acessível às bolsas médias, fez sem dúvida uma compra ajuizada. O vinho está a crescer há mais de dez anos e nada indica que tenha atingido o seu auge. Ainda assim, no seu actual estado de evolução, é o exemplo acabado de um grande vintage e, mais ainda, de um grande vintage da Dow´s: uma arquitectura notabilíssima, aromas sofisticados e profundos, uma secura que impede o cansaço e uma longevidade admirável. MC

R&L. Legras Saint Vincent 1996
O que sobressai neste champanhe são os seus aromas mais evoluídos (panificação, algum petrolado), a complexidade de boca, a secura e a frescura finais. Um vinho magnífico, cheio de volume, intensidade e "finesse". PG

Caves S. João 1961
Se dúvidas houvesse sobre a capacidade de alguns vinhos portugueses, com destaque para os beirões, terem aptidão para envelhecer como os melhores Bordéus ou Borgonha, há um vinho capaz de as desfazer num ápice. Meio século depois, uma magnum das Caves São João encontrava-se (e tinha qualidades para assim continuar por mais uns anos) num estado de refinamento absolutamente espantoso. Com corpo ainda mastigável, nervo que baste e uma soberba palete de aromas e de sensações na boca que o (bom) envelhecimento confere aos grandes vinhos, este Caves São João é sem dúvida um monumento à enologia e à natureza das vinhas nacionais. MC

Quinta da Gaivosa Tinto 2000
Um grande tinto do Douro, da pouco valorizada sub-região do Baixo Corgo. Bastante químico, com taninos ainda muito vinhos mas cheio de frescura e mineralidade. Na mesma linha do glorioso Gaivosa 1995. P.G

Jean Marc Pillot Chassagne-Montrachet 1er Cru Morgeot  2002
Um soberbo Chardonnay da Borgonha de enologia minimal. Grande prova de boca, com uma bela textura amanteigada, muita "finesse" e excelente mineralidade.

Barca Velha 1982
Será difícil alguém escolher o Barca Velha de 1982 entre as maiores criações desta marca emblemática. Há exemplares que, depois de abertos, mostram já um vinho na recta final da sua existência, com evidentes sinais de cansaço e de notória falta de fulgor. Mas, como que a provar que os vinhos são seres vivos que evoluem de formas diferentes de acordo com o ecossistema da cave onde passam anos, um Barca Velha de 1982 aberto numa noite de Outono foi uma revelação. Um vinho intenso, ainda cheio de vigor, com uma estrutura imponente a sustentar uma complexidade aromática e gustativa solene e profunda, com um final de boca longo e delicioso. Um Barca Velha ao nível dos melhores da sua estirpe. MC

Casa Ferreirinha Reserva Especial 2003
Este Reserva Especial é um vinho que, na densidade e estrutura, se assemelha muito ao 1997, um dos melhores de sempre e que só não foi declarado Barca Velha porque a Sogrape, na dúvida, decidiu "sacrificá-lo", para ajudar a relançar a designação "Reserva Especial", que tinha sido proibida. É volumoso e "quente" (na fruta vermelha madura e nas notas apimentadas) e também muito balsâmico. Inebria no aroma e fascina na prova de boca, onde as sensações especiadas, a fruta, os taninos e a acidez brilham a grande altura. O final parece interminável. P.G

Quinta dos Roques Garrafeira Tinto 2003
Um vinho cheio de elegância e frescura, ainda jovial mas com enorme complexidade e altivez. Espelha bem a matriz excelsa dos tintos do Dão. P.G

Luís Pato Vinha Barrosa 2003
Fresquíssimo, muito balsâmico e de grande estrutura tânica. Um vinho grandioso, para beber já e ir guardando umas garrafas. A Bairrada no seu melhor. P.G

Domaine Roulot Meursault 1er Cru Bouchéres 2004
Domaine Roulot é considerado por muitos críticos o melhor produtor de brancos da Borgonha. Possui apenas 10,2 hectares de vinhas, tratadas de forma orgânica. A intervenção na adega é mínima, tal como o uso de madeira nova. O que predomina é o "terroir" e os vinhos de Chardonnay que este origina são muito minerais e frescos, secos e complexos, nervosos e longos. Como este. P.G

Feiler-Artinger Ruster Ausbruch Essenz 2006
A região de Burgenland, dominada pelo lago Neusiedle, é a pátria dos grandes vinhos doces austríacos, feitos com uvas atacadas por botrytis cinerea. Um dos mais antigos produtores locais é Feiler-Artinger, em Rust. Foi lá que provámos um dos vinhos inesquecíveis de 2011, o Ruster Ausbruch Essenz 2006. Um vinho concentrado, gordo, complexo e refinadamente ácido. De nos levar às lágrimas. P.G

Armand Rousseau Chambertin Clos de La Roche Grand Cru 2008
É um dos lendários "domaines" da Borgonha, só superado pelo mítico Domaine de la Romané Conti. Dos seus 13,5 hectares saem alguns dos melhores vinhos tintos (de Pinot Noir) do mundo. O Chambertin Gran Cru (que custa mais de 300 euros cada garrafa das colheitas mais novas) é um deles. Este Chambertin Clos de La Roche Grand Cru 2008 custa 113 euros e também nos deixa em êxtase. Um Pinot Noir que é puro veludo, complexo, fino, mineral e de rasto longo. P.G

Quinta do Noval Tinto 2008
Este é um vinho do Douro que tem tudo no seu lugar: aroma, sabor, estrutura, acidez. Os 14,5% de álcool podem parecer elevados, mas não se sentem, porque o vinho tem uma belíssima estrutura e frescura proporcionada. Tem taninos formidáveis, potentes mas aveludados, tem fruta madura, notas químicas e de café e acidez suficiente. Tudo num registo elegante, altivo, profundo e de grande equilíbrio. P.G

Periquita Superyor 2008
Vinho de Castelão da zona de Setúbal. Sensações balsâmicas interagem com outras mais apimentadas e frutadas, num delicioso jogo sensorial. O prazer prolonga-se quando levamos o copo à boca e voltamos a ter a mesma sensação de frescura, apesar da presença da madeira ser mais notória. Mas nada que torne o vinho rude. O que prevalece é o seu carácter vibrante, a sua impetuosidade delicada, o seu nervo, a sua harmonia. Tudo o que se quer de um grande vinho. P.G

Bründlmayer Trokenbeerenauslese Steinmassel de 2009
Eilingenstein ("Pedra Sagrada") é a mais famosa e cobiçada encosta, de solo granítico, da região de Kamptal, na Áustria. É de lá que vêm alguns dos seus melhores Riesling austríacos, vinhos muito minerais e com aromas delicados de citrinos, alperce e camomila. Este é a glória em forma de vinho. Com apenas 6% de álcool e uma grande acidez, tem uma riqueza aromática e uma intensidade de sabor sem fim. P.G

Taittinger Comtes de Champagne 2000
O mais recente topo de gama da Taittinger confirma a ideia de que são raros os vinhos do planeta capazes de provocar a mesma explosão de sensações de que um grande champanhe. Produzido principalmente à base de chardonnay, este  "blanc des blancs" bruto é uma maravilha para o olfacto e uma delícia para a boca. Notas de padaria evidentes, com a fruta aprimorada pelo longo estágio na garrafa, uma cremosidade impressionante na boca e um balanço de acidez notável. Este Taittinger é um hino à capacidade da natureza e dos homens para fazerem do vinho arte. A prova de que, no seu auge, há poucos vinhos do mundo tão bons como o champanhe. MC

Framingham Marlborough Dry Riesling de 2004
Este riesling neo-zelandês não tem a profundidade das grandes criações da Alsácia ou do Mosela. Falta-lhe também a idade mínima de garrafa para poder aspirar a todo o potencial de excelência da casta. Mas, bebido numa noite quente de Verão, propiciou aquelas sensações admiráveis que tornam os riesling tão especiais, com uma enorme mineralidade, aromas de flores e fruta, com leves notas de petróleo a dar complexidade ao lote. Um vinho excelente de uma empresa que integra o universo da Sogrape.  MC

Domaine J L Chave, Hermitage 2000
Na sua máxima forma, os brancos de Hermitage (da região francesa do Rhône) são inigualáveis. A sua identidade é muito marcada e o poder de se cristalizarem em memórias gustativas enorme. Este J L Chave não estava em condições de chegar ao topo dos topos da sub-região, mas quando se abriu e bebeu convocou todas as razões que fazem dos brancos do Rhône casos únicos. Um vinho gordo, mineral, com notas cítricas e de pêssego, complexidade genial. MC

Chateau Haut-Brion 1989
Uma das casas clássicas de Bordéus produziu um vinho que obteve 100 pontos de Robert Parker e 100 pontos da Wine Spectator. Como é norma nos grandes vinhos bordaleses, a sua qualidade extrema (pelo menos na opinião da mais conceituada crítica mundial) não se constata no imediato. À primeira, parece até hirto de mais, com aquela secura e aquela densidade de taninos que dão o carácter a estes vinhos. Depois, a untuosidade do vinho revela-se, a opulência dos taninos tempera-se com os sintomas do envelhecimento e a secura da fruta e o que em termos parcelares está longe de suscitar sensações de elegância e harmonia acaba por gerar um conjunto sublime. Um vinho de outro planeta. MC

Cirsion 2007
Um espanhol de Rioja, 100% tempranillo (a tinta roriz em Portugal), de classe mundial. Não parece ter nem nada a mais, nem nada a menos. Um vinho de enorme complexidade, com aromas de frutos silvestres e combinarem-se em harmonia com café, tosta e vagas sensações de couro. Um tinto que se integra naquela categoria de vinhos que proporcionam experiências sensoriais únicas. MC

Anselmo Mendes Parcela Única 2009
Os nove meses de estágio em barrica e a "battonage" deram-lhe uma grande estrutura e complexidade, sem o deixarem refém da influência por vezes excessiva do contacto prolongado com a madeira, apesar de ao primeiro gole o vinho parecer um pouco rugoso. Mas é uma impressão que passa depressa. O que fica é o seu carácter enxuto e seco e a sua impressionante mineralidade, que deixa uma interminável sensação de frescura na boca. Um vinho monumental que eleva a casta Alvarinho a um novo patamar de excelência. P.G

Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2009
Branco que pretende homenagear o pai do produtor Mário Nuno Sérgio, este Pai Abel mantém o mesmo frescor, a mesma riqueza e subtileza mineral e o mesmo volume do Bágeiras Garrafeira 2009, outro grande vinho da Bairrada. Mas consegue ser ainda mais refinado e elegante, mais equilibrado na conjugação entre o álcool, a madeira e a acidez. Está, digamos, ainda mais perto da perfeição. P.G

Pêra Manca 2009 Branco
Num ano em que se multiplicaram as ofertas de grandes vinhos brancos, é difícil escolher um primus inter pares. Deve-se, ainda assim, notar que este alentejano da Fundação Eugénio de Almeida foi um dos que deixaram boas impressões. Exuberante nos aromas pela natureza da Antão e vibrante na boca por força da Arinto este Pêra Manca é um branco completo . Apto para a convivialidade, mas com um excelente nervo para brilhar à mesa, conjuga bem a matéria-prima e o trabalho de enologia que lhe impôs a vinificação parcial em barricas de carvalho francês e um ano de estágio em borra fina. O resultado é um vinho profundo, que enche a boca de boas sensações que se prolongam muito além do momento da prova. MC

Esporão Touriga Nacional 2008
A Touriga Nacional é do Dão e do Douro, mas como todas grandes castas é de muitos outros lugares também. Do Alentejo, por exemplo. O que este vinho proporciona está longe do perfil obtido nos solares maiores da touriga, até porque a enologia que lhe esteve na base exige mais um par de anos para que o conjunto de revele. Mas está lá o essencial da casta: aroma de bosque, com especiaria e barrica muito bem integrada, esplêndido na boca, com nervo, vibração e uma magnífico final. Para se comprovar, caso fosse necessário, o potencial cosmopolita da casta. MC

Romaneira Reserva 2008
O pior que pode acontecer a vinhos grandes como os Romaneira é serem confrontados com pares ainda maiores. No caso, os Noval. Ainda assim, a edição de 2008 do Reserva merece destaque. Em causa está um tinto de classe, um daqueles vinhos onde a procura de um certo sentido de modernidade se radica na preservação da identidade mais funda dos grandes vinhos durienses. Sob o pano de fundo da madeira pressentem-se notas da touriga (esteva, violeta...) combinadas com sugestões de cedro e de fruta vermelha madura. Na boca, é um daqueles vinhos que se desdobra em vagas de sabor. Sedoso e longo, enche a boca com a sua estrutura de taninos densos mas polidos e acaba com a marca de fruta doce e deliciosa. MC

Duas Quintas Reserva Especial 1995
Uma das primeiras edições do Reserva Especial que está aí a provar o enorme potencial de envelhecimento desta gama do Duas Quintas. Resultado de uma tentativa de recuperar os ancestrais "vinhos de pé" durienses, com pisas longas em lagares tradicionais, estes tintos são duríssimos nos primeiros anos de vida. Mas após década e meia de garrafa, os taninos ganharam veludo, todas as componentes se harmonizaram na perfeição e o resultado é um daqueles clássicos que deixam memórias inesquecíveis no palato. MC

Vertente 2001
O Vertente está muito longe de ser o vinho-emblema da Niepoort. Mas se pouco ou nada nos surpreende na excelência do, por exemplo, Batuta, provar um Vertente com 10 anos de idade e verificar o seu belíssimo estado de forma, não deixou de ser surpreendente. Ainda mais quando num jantar com vinhos tintos nacionais com outro estatuto foi quase geralmente considerado a estrela da noite. Um vinho ainda com uma enorme garra e aromas de envelhecimento muito apelativos. MC

D+D 2005
Há alguns vinhos que parecem especialmente ajustados às nossas percepções subjectivas e, pessoalmente, um desses vinhos é o D+D de 2005, um tinto duriense que resulta de uma parceria entre a Sogevinus e a espanhola Bodegas Emílio Moro. Um vinho contido, quase austero, rigoroso, com um balanço notável, corpo sedoso mas tenso e fruta que continua a evoluir de forma admirável. Numa prova técnica é provável que não sobreviva à concorrência dos tubarões; mas numa apreciação pessoal a experiência que proporcionou este ano justifica em pleno o registo. MC

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