Com maior ou menor exultação, com festejos mais expansivos ou comemorações mais contidas, a verdade é que já entrámos em 2012, o ano consagrado como maldito, que todos se empenham em acautelar como annus horribilis, o ano que concentrará todas as desgraças e desventuras nacionais. Os avisos sucedem-se, dentro e fora de fronteiras, reduzindo a confiança e as expectativas, limitando-nos a fé à simples esperança de que o ano que agora começou... seja realmente o pior ano de sempre.
Sentimos uma espécie de medo colectivo, um torpor grupal que nos inibe no momento das grandes decisões, adiando muitas das resoluções a que nos tínhamos proposto no passado, obrigando ao adiar de despesas estreitando os orçamentos familiares. Uma apreensão que se estende aos vários sectores da economia, das empresas às famílias, dos serviços à indústria, dos funcionários públicos aos profissionais liberais, minorando a disponibilidade emocional para todos os gastos considerados como não essenciais... entre os quais se inclui o vinho.
Por isso, o ano ameaçador de 2012 será também um ano de gastos mais comedidos no vinho, impelindo as famílias a procurar vinhos mais equilibrados no preço, vinhos com boas a excelentes relações qualidade/preço que ajudem a superar os lamentos da crise, sem que com isso se criem desequilíbrios ou deficits orçamentais. Uma condição que é cada vez mais respeitada pelos produtores nacionais, exímios em oferecer bons vinhos a preços mais do que justos, abaixo da barreira psicológica dos 10€, conseguindo mesmo alguns deles propor vinhos de belíssima qualidade a preços inferiores a 5€.
Entre eles conta-se João Portugal Ramos, uma das figuras de proa da enologia nacional, com a edição 2010 do alentejano Loios, um tinto de cor vermelha viva e brilhante, repleto de fruta acessível, num estilo fácil e claro que oferece uma frescura notável, de corpo directo mas tremendamente sedutor. Ainda na categoria dos vinhos com preço de venda inferior a 5€, vale a pena deixar-se seduzir pelo atraente Vinhas Boas 2009, um tinto do Dão da autoria de Nuno Cancela de Abreu que se mostra bem-parecido, alegre, perfumado pela fruta delicada, atestado de groselha, morango e mirtilos, um tinto franco e muito agradável.
No mesmo patamar de preço anuncia-se o Casa Santos Lima Sauvignon Blanc 2010, um branco de Lisboa que revela cor amarela palha muito clara. O nariz expõe os sinais peculiares da casta francesa, irradiando apontamentos aromáticos de relva acabada de cortar, groselhas verdes, espargos brancos e um pouco de melão, perfil que a boca confirma por inteiro. Fresco, exótico, perfumado, primaveril, é muito fácil gostar deste Sauvignon Blanc. Também branco, também da colheita 2010 e também proposto a menos de 5€, o Casal da Coelheira branco 2010, da região do Tejo, mostra-se um branco supinamente fresco e mineral, floral e silvestre, muito discretamente vegetal, denunciando um tipo de frescor pouco comum nos vinhos brancos nacionais. Seco e quase mastigável, termina teso e severo embora harmonioso.