Sempre tive uma certa repulsa a resorts e ao conceito "all inclusive". As minhas suspeitas confirmaram-se. Não se contacta tão de perto com as gentes.
Não se tropeça nos restaurantes de comida tradicional. Somos reféns dos horários e das ementas. Quando queremos é estar refastelados nas espreguiçadeiras a ler um livro, somos bombardeados pelos animadores ou pela música de veraneio. Confere.
Mas quando não se pode fugir a esta realidade, ansiada por tantos, há que tentar tirar partido do melhor dos dois mundos. E o melhor parece estar nas horas que passamos nas ruas. Por isso a solução é esquivar-se de mansinho entre um banho de sol e um mergulho no Atlântico agitado.
Foi um last minute que me levou até à Ilha do Sal em Dezembro. À frente na corrida estavam Zanzibar e Maurícias, mas as horas de voo e o orçamento apertado levaram-me a desistir desta ideia difícil de concretizar em apenas uma semana de férias.
A cidade mais turística da ilha do Sal é Santa Maria, que tem cerca de oito mil habitantes. Ainda a palmilhar terreno, e terra batida também, encontramos um rosto sorridente. É Max quem nos interpela. “Ciao bella! Italiana? Francesa?” E quando finalmente percebe que somos turistas, mas portuguesas, a conversa entra num ritmo diferente. Tem quarenta e poucos anos. “Mas não pareço”. De facto. “Tenho quatro filhos. O mais velho tem 19 anos, mas ainda estuda.”
Como tantos cabo-verdianos, Max trabalhou na construção civil em Portugal. “Estive em Setúbal um ano. Conheces? Voltei. Aqui é mais devagarinho. No stress.” E conduz-nos até à sua cooperativa artística, uma pequena loja que divide com mais três amigos. Desde a tartaruga, símbolo da ilha, até aos colares de missangas, passando pelas estátuas do funaná feitas em madeira, o importante é tentar vender algo. E agora? Regateamos. “Por ser para ti, que és portuguesa, faço um desconto. Se fosse um patrício cobrava 50 euros. Para ti faço 40.” Terminámos as negociações em 15 euros. Dois beijinhos e um abraço e seguimos o nosso passeio pelas ruas das “casa-alegria”.
Tropeçamos em conversas, invariavelmente com intuito comercial, mas que logo revelam a simpatia dos cabo-verdianos pelo país-irmão.
No Sal, onde se pode dizer que 99% da população é benfiquista, não faltam as bandeiras e t-shirts do clube de Lisboa e da selecção nacional portuguesa. Uma foto com Fábio Coentrão, que esteve na ilha em férias, é orgulhosamente exibida pelos muitos vendedores do mercado de artesanato de Santa Maria. Mas o rei é Cristiano Ronaldo, confessa Jorge, que seguiu atento o jogo com a Suécia pela televisão. “No final do jogo tomei quatro whiskies para comemorar”, confessa, numa gargalhada que o tomba para trás.
Daqui até à paragem de autocarros improvisada que nos conduzirá a Espargos é notória a presença chinesa pela ilha, que se intensificou nos últimos 16 anos. Para além das lojas, os chineses estão actualmente a construir um novo liceu para Santa Maria. Já os italianos investem maioritariamente em resorts e restaurantes.